quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A VOLTA PERFEITA


Foi a 14 deste mês que dei corpo a um projeto, na continuação de outras voltas de bicicleta efetuadas em 2009 entre Donaushingen e Budapeste, o qual me permitiu dar meia volta a Portugal em bicicleta, com uma incursão pela Galiza, cheia de subidas, só para testar a minha resistência. Quando todos me chamavam maluco, não acreditando que pudesse levar a cabo esta tarefa com que tinha preenchido os momentos de lazer a ver mapas, parques de campismo e estradas com ou sem ciclovias, eis que pego na bicicleta e arranco de Alcanena na manhã de 14 de Setembro de 2011.
Com uma pedalada vigorosa, ataquei a serra d`Aire em direção a Porto de Mós, numa velocidade que me deixava admirado das minha próprias capacidades, mas inconscientemente sabedor de que a Figueira da Foz ainda estava longe, o que se confirmou ao fim da tarde e ao fim de 134 kms, com a chegada ao parque de campismo da Figueira, cansado como nunca e incapaz de acompanhar o jogo Benfica-Manchester, adormecendo no início da segunda parte à mesa do bar do parque.
Primeira noite mal dormida e nova jornada, que me levaria até à praia do Furadouro, com uma subida entre Buarcos e a serra da Boa Viagem, passando pelo cabo mondego no meio de um nevoeiro quase cerrado, com ciclovias muito boas e estradas nacionais com pouco transito junto às praias, o que se compreende na segunda quinzena de Setembro, período sem veraneantes e no início de um novo ano escolar. Percurso mais ou menos plano na sua maior parte e um bom parque de campismo, onde um banho quente retemperador fez esquecer os 132 kms percorridos.
A terceira jornada inicia-se logo manhã cedo e tem como objetivo chegar o mais a norte possível, saindo do Furadouro através de uma estrada secundária que nos levaria pelas praias, em estrada plana e com ciclovias perfeitas, que nos ajudaram a chegar ao Porto ainda antes da hora de almoço, com muitas paragens para tirar fotos nas muitas praias de Gaia, desde Miramar à praia do Salgueiros, com muitos, bons e bonitos bares de praia, com passadiço sobre as dunas, percursos pedestres, ciclovias e estradas de cores diferentes para que ninguém se enganasse nos terrenos que pisava. Mas a tarde reservou-nos uma estrada secundária em direção a Vila do Conde, toda empedrada, por meio de fazendas e alfaias agrícolas, de tal forma que o corpo sofreu um desgaste enorme e compreendi que esta não tinha sido a melhor alternativa, o que só descobri quando cheguei à estrada nacional que, mesmo cheia de camiões, teria sido preferível. Vila do Conde e Póvoa de Varzim estavam ali à nossa frente e procuramos saber do parque de campismo a norte, de seu nome Rio Alto e propriedade da Orbitur. Afinal ainda faltava percorrer mais uns 15 kms e chegamos a Rio Alto através de mais uns quilómetros de empedrado, no meio de canaviais, cheiro a estrume e tratores agrícolas... isso mesmo, o fim do mundo! mas o banho retemperador e uma garrafa de coca-cola por três euros fizeram esquecer os 115 kms desse dia.
O 16 de Setembro, começou como sempre bem cedo, com a habitual partida por volta das 8 da manhã, já depois do banho quente matinal, do desfazer da tenda e arrumação de material e a saída do parque do Rio Alto em direção a norte, o mais a norte possível, claro, com a bicicleta a corresponder na perfeição, um pouco de óleo na corrente e a constatação de que tinha perdido a bomba de ar, bem como um parafuso da fixação dos alforges, coisa pouca que se não fosse arranjada poderia trazer problemas. O tempo estava muito bom, o sol era companhia de todos os dias, as estradas estavam com pouco transito, os hipermercados iam aparecendo nos momentos certos e pão, queijo, fiambre, croissants, bolachas, água (muita), sumos e fruta eram consumidos a cada duas horas de percurso, sem sair da bicicleta, porque encostada à porta de restaurante ou num qualquer parque das cidades, apenas meia hora e só ao almoço. Então fomos pedalando em estradas muito boas, amplas e planas, descobrindo Afife, Moledo e tantas outras praias, bem como Viana do Castelo, Vila Praia de Âncora, Caminha e La Guardia. O objetivo era irmos para Melgaço, mas o apelo do barco gratuito em Caminha na "Semana da Mobilidade" atirou-me para o outro lado e... foi a melhor opção. La Guardia foi a entrada ciclistica na Galiza e só parei ao final do dia no parque de campismo "Os Muiños", já próximo de Baiona, com 90 quilómetros percorridos, o percurso mais pequeno efetuado em toda a viagem, como tive oportunidade de verificar no final.
Domingo foi dia de companhia "ciclistica" entre Baiona e Portonovo, com largas dezenas de grupos de ciclistas a passarem por mim a "mil" e quando me diziam que eu ia devagar, desculpava-me com os 35 kgs de alforges. Belo percurso, com muitas paragens e fotos desde Baiona, passando por Vigo, Pontevedra, Sanxenxo e Portonovo, onde tive oportunidade de visitar Manolo e Nori, um casal amigo que me ofereceu um passeio, um belo jantar e uma dormida em colchão, o que ajudou a recuperar a forma física. Não posso deixar de referir um vinho "albarinho" e uma ternera grelhada deliciosa que me ajudaram a ultrapassar as debilidades de natureza física, acabando um dia de "escassos" 96 quilómetros percorridos.
A sexta etapa, começou na manhã do dia 19, segunda feira, com Ourense como destino final, sabendo de algumas dificuldades a partir de Pontevedra, com subidas muito significativas e onde comprovei um novo "teorema", que nos diz que a seguir a uma subida há sempre outra subida. Outra coisa que me desagradou sobremaneira foi o facto de subir durante três horas seguidas para descer depois durante 10 minutos, ou seja, não dava o prazer para o sacrifício.
Foi na verdade uma jornada muito dura, com subidas que chegaram no "alto das estibadas" aos 846 metros de altura, mas também para compensar, um restaurante no meio da serra que nos deixou muito boa impressão, quase lembrando aquelas "casas de pasto" familiares com a marmita da sopa na mesa, que ataquei sem receio e repeti, para depois estafar umas entremeadas muito saborosas, quer porque eram mesmo, quer porque eu devia estar com muita fome também.
A chegada ao parque de campismo de Ourense, a cerca de dez quilómetros da cidade, ao final de um dia desgastante, foi um bálsamo, porque este parque foi inaugurado no início do mês de Setembro e está muito bem equipado e tem uma localização fantástica, junto ao rio e a uma ciclovia que leva os campistas diretamente às termas, onde qualquer pessoa pode usufruir gratuitamente de um ou vários banhos termais. Tem também este parque uma situação que deve ser realçada, pois tanto no parque de campismo como nas termas, a maioria dos funcionários são pessoas com deficiência, constando de um plano de inserção social promovido pelo governo. E no final, contabilizamos 114 quilómetros, um percurso muito sinuoso e difícil que nos deixou convencido que no plano físico não havia que recear.
Dia 20 de Setembro nasceu como habitualmente, com bom tempo e um sol que queimava logo pela manhã, obrigando à aplicação do protetor solar e a saída de Ourense em direção a Chaves fez-se com a máxima confiança e a vontade de voltar a entrar em Portugal, embora estas coisas da divisão europeia se notem mais no papel que na realidade, porque "fronteira" é peça histórica e infelizmente a alfandega de Verin-Chaves é uma calamidade e uma vergonha, com um edifício público que poderia ser uma memória/museu ao abandono e com o telhado em ruínas, em contraponto ao lado galego perfeitamente preservado.
Facto a destacar foi a passagem em Xisto de Limia, uma localidade galega onde parei para tomar um café, ter no cartaz publicitário da praça local, um folheto vermelho e verde, de uma acção de sensibilização sobre a obra de Fernando Pessoa, o que me sensibilizou e fotografei perante a curiosidade de outras pessoas que frequentavam a esplanada.
Com um piso rápido, sem montanha, apenas com mais uma paragem em Verin, Chaves foi alcançada no final da tarde, num percurso de 121 quilómetros, com o parque de campismo afastado do burgo alguns quilómetros, pelo que apenas passeamos um pouco pelo centro da cidade e tiramos umas fotos na ponte romana, acessível a peões... e bicicletas.
Quarta feira, dia 21, aí estavamos nós em pleno nordeste transmontano, fazendo a ligação entre Chaves e Bragança, num terreno e região que, até agora, me era totalmente desconhecida. Foi um bom percurso, com subidas e descidas que já estavam de tal modo no nosso subconsciente que acho que iria estranhar se não aparecessem, com camiões subindo a vinte à hora pela encosta e nós a imaginarmos o bom que seria podermos ir à boleia agarrados ao reboque. Felizmente já não estou com idade para correr riscos e lá fui subindo a 8 kms/h, encosta acima, para a certa altura encontrar uma descida fantástica de vários quilómetros e onde atingi a velocidade record de todo o passeio, qualquer coisa como 64Kms/h... que adrenalina!
Percurso agitado mas curto, apenas 97 quilometros, que nos levaram ao Parque Nacional de Montezinho, em plena floresta e a cerca de dez quilometros de Bragança, no silêncio e no ar puro de uma recepção com a porta fechada porque a funcionária fazia de tudo um pouco e não podia estar em todo o lado. Bom banho, bom bar e boa refeição foram os ingredientes para um fim de tarde, pertinho de Bragança.
Dia 22 de Setembro trouxe para algumas cidades o "dia europeu sem carros" e, apanhado de surpresa vi-me a passear no centro da cidade de Bragança na minha bicicleta, com tempo e espaço para tirar umas fotos no centro histórico e comer um saboroso pastel de nata numa padaria/pastelaria tradicional. Achei a cidade de Bragança uma agradável mistura entre a arquitetura tradicional e a modernidade, com uma bela ciclovia no centro da cidade e ruas amplas, onde imaginei um inverno rigoroso com muita neve...
Daí parti em direção a Vila Nova de Foz Côa, pensando que a distância um pouco acima da média diária se faria sem problemas de maior, mas não foi bem assim, Alfandega da Fé apareceu no horizonte sem problemas no início da tarde, mas a partir daí as subidas apareceram, as obras dos IPs começaram a atrapalhar com muitos desvios e quando chegamos à barragem do Pocinho, só as vinhas do Douro nos distraíam um pouco do cansaço. Quando vimos a placa "vila nova de foz côa - 9 kms" respiramos de alívio! puro engano, apanhamos com nove quilometros de subida íngreme que nos deixaram de rastos. Essa noite, com cama e roupa lavada na Pousada da Juventude, foi um "quase milagre" que nos atirou para o sono pelas nove da noite. Se querem saber, é melhor pagar um pouco mais e ficar nas pousadas que frequentar o chão duro dos parques de campismo, mas o problema é que não há pousadas em todo o lado e parques sempre se vão encontrando.
No final, olhando o cronometro digital, verificamos que tinhamos andado muito e os 140 quilómetros atestam isso mesmo.
Sexta feira, dia 23, deu-nos mais um dia de sol, calor e sem vento, entre Vila Nova de Foz Cõa e Covilhã com uma estrada razoável, descidas pouco pronunciadas mas prolongadas que ajudaram a manter uma boa média e o almoço foi tomado em Celorico da Beira, num restaurante de ementa única e preço fixo, coma ou não a sobremesa, pelo que devorei duas sopas de hortaliça e meia duzia de grossas fatias de vitela no forno com puré de batata. Foi tão bom e saboroso que no final não me apetecia nada montar a bicicleta, mas " the show must go on" e ainda estavamos longe da Covilhã. O final de tarde veio quando chegamos à entrada da cidade e havia camping e pousada, só não havia era paciência para andar a procurar, daí decidimos que ficariamos no que aparecesse primeiro... foi o parque de campismo do "Ferro", o único em toda o passeio que não tinha internet, um reparo para a Camara Municipal da Covilhã. À semelhança da véspera, o cronometro marcou os mesmos 140 kms, o que está a fazer subir a média diária para cerca de 120 Kms por dia.
Sábado, dia 24 de Setembro, levar-nos-ia da Covilhã à Barragem de Belver, atravessando os distritos da Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Santarém, num total de 153 quilometros e cerca de 10 horas de percurso em cima da bicicleta, num percurso que passou por Fundão, Castelo Branco, Vila Velha de Rodão, Niza, Gavião e chegou ao parque de campismo de Ortiga, em pleno Ribatejo e ao lado da barragem de Belver.
A distância é enorme para um ciclo-amador, com bicicleta e 35 kgs de material nos alforges, mas não ultrapassa os 168 kms que na Alemanha fiz com o meu colega Carlos Marques há dois anos atrás.
Se houve subidas no trajeto? claro que sim, uns quilómetros a seguir ao Fundão e outros a seguir a Vila Velha de Rodão foram duros, especialmente na ribeira de Niza onde parei em todas bicas, mas a maior parte do percurso foi plana e as médias satisfatórias.
E chegamos à última etapa, a da "consagração", pelo que achei por bem reservar apenas os últimos 83 quilómetros para chegar de Belver a Alcanena, o ponto de partida e de chegada. Foi uma manhã bem saboreada, com paragens várias, em Abrantes, Entroncamento e Torres Novas, para completar o registo fotográfico.
Cheguei sim, mas as partidas e chegadas têm de estar sempre preparadas e agora só para lá dos 1435 kms desta volta.
Vamos a outra?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O TAL PAÍS...

Os jornais são a minha fonte de inspiração quase diária, bem sei que eles são apenas um meio, um elo de ligação entre a realidade e o leitor, eu neste caso, mas para "quarto poder" como se intitulam os jornais é pouco sentirem-se na pele de intermediários da realidade, na grande maioria dos factos relatando apenas que "matou com três facadas", "abusou sexualmente", "roubou", "assaltou um banco" e tudo isto tem muito que se lhe diga, porque tanto pode ser um "zé desabrigado", como um "amorim corticeiro", o que pressupõe um jovem jornalista licenciado em comunicação social, com mestrado em intervenção social e justiça.
O jornal dá conta de um "jovem" de 23 anos que:
- nunca trabalhou, nem quer trabalhar e acha parvo o vizinho que se levanta as 6 da manhã para sacar 485 euros no final do mês;
- recebe o "rendimento social de inserção", que como o título indica, serve para inserir socialmente;
- sofre de toxicodependência, uma "doença" que só pela sua designação deveria ser catalogada no rol de doenças para-profissionais, com direito a pensão vitalícia;
- assaltou uma agência bancária, munido de uma tesoura, chegou ao balcão e sugeriu ao funcionário que lhe desse a "massa", porque aquilo era um assalto e poderia ter de lhe espetar a tesoura no pescoço. Ordinário, como demonstram todos os antecedentes, o presumível (como eu gosto deste conceito) deu à sola e chegou rápido ao entreposto de droga da zona, onde colocou o dinheiro a render na "bolsa da cocaína".
Com base neste atributos, a polícia foi onde já sabe há muito tempo onde estão todos estes personagens e apanhou-o sim, com heroína no bolso e já teso que nem um carapau.
O banco achou por bem nem reclamar, que uma perda de 180,00 euros não conta neste campeonato, o homem foi à presença do juíz (quando os havia, eram meretíssimos juízes) e foi mandado embora, com apresentações semanais na esquadra mais próxima da residência (estou mesmo a vê-lo com residência...), deve ter ficado com a heroína no bolso, porque é para consumo próprio, o polícia perdeu meio dia a preencher a papelada, o assistente social estará por esta hora a fazer um relatório e nós cá vamos cantando e rindo, levados, levados sim...
Na verdade, eu sempre entendi que numa altura de crise económica e social, o Estado não devia desperdiçar este mercado e os "centros de emprego" poderiam, através de uma formação complementar, certificar estes promissores empresários no ramo da drogaria e afins, decretando a liberalização da droga, fomentando a criação de "hortas carabinóides, cocaínóides e afins" e a comercialização de produtos nacionais, fomentadores de mais uma receita fiscal, a qual devido à procura e ao consumo, não deveria pagar o deficit, mas andaria lá perto.
Ahh, esquecia de dizer que o homem disse ao juíz que tinha roubado porque o rendimento social de inserção não chega para toda a droga que ele necessita. Quem pode ficar insensível a estes argumentos?



sábado, 27 de agosto de 2011

O QUE É UM RICO?



Nos últimos dias tenho lido alguns artigos de opinião sobre a possibilidade de serem taxados os rendimentos de algumas pessoas, talvez 1% da população portuguesa, ou seja, uns insignificantes, salvo seja, cem mil portugueses que já não conseguem gastar aquilo que amealharam, mesmo que para isso tirassem férias todos os meses, fossem para hotéis de cinco estrelas ou tivessem a mania de ir ao casino de vez em quando.
Na verdade, é gente que através dos mais variados meios, lícitos ou ilícitos, conseguiram acumular riqueza suficiente para si, para os que lhes são mais próximos e para mais duas ou três gerações, cumprindo sempre a lei, ora colocando capital em off-shores, ora pagando um pouco menos que o legítimo aos seus milhares de funcionários, mesmo que para isso se escudem em salários legais e de miséria.
Ferreira Fernandes (FF) é um jornalista que gosto de ler, que diz o que sente, alicerçado num passado que teve muito de vontade própria e que o fez descobrir a realidade, construindo uma argamassa cultural capaz de o fazer ver um pouco mais profundo que a massa ululante, armada ou não, que se vê em Madrid, Lisboa, Tunis, Tripoli ou Londres.
Terminava FF com uma questão tão simples como "o que é ser rico"? e lembrei esses Buffen`s, Gates, Amorins, Azevedos, capazes de fazer parte das listas dos "500 mais ricos" em contraponto com os Silvas, Santos, Sousas, listados nos "500 milhões mais pobres". Ricos e pobres, porquê e como, ainda ninguém me conseguiu esclarecer, porque também eu sou um complicado da silva, um daqueles que gostava que lhe dissessem porque o Gates é mais rico que eu, goza a vida melhor que eu, sorri mais que eu, lê mais que eu, ouve música mais e melhor que eu, conversa com os amigos mais e melhor que eu, recebe telefonemas do pessoal dos "copos" mais e melhor que eu, vê uns filmes mais e melhor que eu, anda na rua sem problemas mais e melhor que eu... humm será que pode andar na rua como eu, deixar o carro em casa e ir ao clube de bicicleta como eu faço? beber café, navegar na net, sentar no banco da praça ao fim da tarde e beber uma cerveja com os amigos, ver um jogo na sporttv, ir à praia tomar um banho de sol incógnito e sem seguranças?
Já vi algumas pessoas com tanto e sem nada, que até me surpreendo quando vejo pessoas sem nada e... com tudo, seja esse nada e esse tudo, tudo aquilo que cada um de nós queira, não esquecendo, por exemplo da minha amiga São a largar umas férias com os filhos, num qualquer resort do Algarve e a partir para Nacuxa, no norte de Moçambique, uma terra sem nada, onde crianças sem nada de nada, lutam pela sobrevivência, dão valor a um sorriso, um afago, e recolhem do chão um bago de arroz que tenha caído do prato. Crianças que não tiveram culpa de ter nascido, que se sentam no chão de terra, em silêncio e com a máxima atenção, para aprender a escrever e falar a língua portuguesa, essa sim, a nossa riqueza.
Miséria? sim, também existe! quando um "corticeiro", que tem rendimentos de cinco mil euros por dia, contando sábados, domingos e feriados, tem a desfaçatez de dizer que é apenas "trabalhador", como qualquer trabalhador das suas empresas, que ganha num ano o que ele ganha num dia.
Ser rico ou pobre é uma questão de atitude, como por exemplo, quando a riqueza do povo timorense se resumiu à afirmação da sua indepedência, quando Luther King lutava contra a discriminação racial, quando Gandhi se afirmava contra o colonialismo e a violência.
Pobreza é pensar que o dinheiro pode resolver tudo na vida, que vale tudo para o ter em abundância, que não ter dinheiro, não ter roupa de marca, que não ter carro de gama alta é perder a dignidade, como a sociedade actual pretende fazer crer.
Ser pobre é ir para a escola e não querer estudar, ir para o emprego e nao querer trabalhar, fazer filhos e não os educar. Ser rico? é querer aprender, é não ter emprego e procurá-lo é sentir que não está sozinho.
Entretanto, espero que os ricos fiquem menos ricos e os pobres menos pobres! parece que há disso no norte da Europa...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

VIDA E MORTE DA MUNDET

Acabei de ler uma notícia interessante, talvez a mais interessante das notícias de hoje, numa inócua página interior e numa tão reduzida crónica que, só alguém como eu, capaz até de ler o suplemento dos anúncios, daria com ela.
A história conta-se tão naturalmente que nem a "troika" nem a "balalaika" dariam por ela, tão candidamente foi reproduzida naquele cantinho escondido do jornal de hoje, numa daquelas notícias de jovem jornalista que não questiona, não se arrepia, nem arregala os olhos, mantendo o princípio fundamental da escola onde concerteza lhe disseram que o jornalista apenas noticia e nunca questiona, isso se quer chegar ao fim do contrato de seis meses, que um qualquer recibo verde justifica.
Tudo isto a propósito do processo de falência da Mundet, uma grande empresa corticeira, com mais de mil empregados que há vinte e três anos atrás fechou a porta e deixou um administrador de falências com um problema de difícil resolução. Vinte e três anos? acho que é engano, ou... serão mesmo vinte e três anos... um ano, dois anos, três anos... vinte e três anos!
Acho muito? ahhh talvez nem seja, afinal vinte e três anos é bastante menos que Cristo viveu e nem dá para muito mais que um indivíduo nascer, crescer, votar, casar e continuar a ser jovem, isto tudo se não acrescentarmos poder ser um filho de um dos funcionários despedido há vinte e três anos.
Com a paciência, a humildade e a esperança de que o espólio da Mundet desse para pagar ao administrador de falência ao longo desses vinte e três anos, os empregados ainda vivos, receberam a feliz notícia, talvez em carta registada com aviso de recepção, de que iam ter direito ao pagamento de vencimentos em atraso na altura da falência, indemnização essa que se situa entre vinte seis cêntimos e trinta euros. Sim, vinte seis cêntimos de euro, o equivalente a duas carcaças das mais baratas... VINTE E SEIS CÊNTIMOS de indemnização é quanto vão receber alguns dos trabalhadores despedidos da Mundet, a empresa corticeira do Seixal.
Depois de vinte e três anos de um processo de falência, onde um administrador nomeado por um tribunal, com um vencimento mensal normalmente avantajado e pago com os bens da empresa decide indemnizar trabalhadores com vinte seis cêntimos, gastando para isso um cheque e uma carta registada com aviso de recepção, os quais custarão dez vezes mais que o valor da indemnização.
Lembrei-me de uma outra falência ocorrida nos anos 80, de uma multinacional americana instalada nas Caldas da Rainha, que despediu centenas de trabalhadores com salários em atraso, cujos terrenos foram comprados em tribunal pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha, no valor de um milhão e duzentos cinquenta mil euros, ainda não está resolvido o processo de falência, com um outro administrador nomeado pelo tribunal a desejar que os trabalhadores morram todos antes da decisão de os indemnizar talvez com os mesmos valores dos camaradas do Seixal. E já lá vão cerca de 30 anos...
Estamos em Portugal ou no Zimbabué? alguém que me explique, por favor.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

GRATUITIDADE

Este fim de semana comprei, como habitualmente, o DN para saber como vai o mundo e para ler umas crónicas interessantes, sejam elas do Ferreira Fernandes, da Fernanda Câncio ou do Manuel António Pina, com temas muito pertinentes a propósito de tudo e de nada.
Este último colocava o âmago ( esta é profunda) da questão numa frase lapidar "Porque terá a poesia tanto e tão inexplicável prestígio, suscitando uma espécie de temor reverencial junto de todos aqueles que não compreendem a sua assustadora gratuitidade?" e aqui chegados, ficamos esclarecidos da gratuitidade sob todos os aspectos, tanto da quase miséria a que estarão sujeitos todos aqueles que alguma vez pensarem viver dessa "arrumação" da escrita, como também da gratuitidade que se supõe do nada a que a poesia nos leva, ou pelo menos nos quer levar Manuel Pina quando ironicamente realça a perfeita inutilidade da poesia.
Sim, é inutil escrever poesia se o objectivo é mesmo receber alguns dividendos ou até mesmo se pensamos que além de nós e da família mais chegada, haverá alguém que a leia, mas por essa ordem de ideias nunca Ary dos Santos, Manuel Alegre ou José Fanha, para não irmos mais longe nos brindariam com poesia não tão inutil como poderia parecer à primeira vista, Cesário Verde, Florbela Espanca ou Pessoa não seriam estudados nas escolas e universidades.
Mas por tudo isso não deixa Manuel Pina de ter toda a razão quando, sabendo todos nós, tantos e tantos milhões que rabiscamos poemas por esse mundo fora, que tudo isso por mais interessante que seja, não será lido por ninguém, se admira com o facto de jovens, adultos e idosos continuarem a escrever poesia em folhas soltas, cadernos ou mesmo guardanapos de restaurante.
É uma perfeita inutilidade sim, tanto mais que há tanta coisa mais rentável para fazer na vida, tal como fazer livros do Futre ou fazer comentários na tv, os quais igualmente inúteis têm a vantagem de ser lidos e vistos por milhares de pessoas.
É verdade, jovens a escrever poemas até se aceita porque poesia, lirismo, imaginação e viagens para lá das nuvens são próprias da idade, metem-se na gaveta e uns anos depois mandam-se para o lixo, porque o ridículo não mata mas envergonha. Velhotes a escrever quadras populares também é aceitável... eles têm mais tempo livre, já não têm pachorra para esse complexo juvenil da vergonha e até podem fazer poesia para ser lida depois de morrerem, como fez Drumond de Andrade, com alguma poesia erótica, mas um homem de meia idade, casado e com filhos ainda jovens a rabiscar uns poemas é suspeito, sim senhor!
É tão suspeito que quando dou a ler aos amigos e conhecidos alguns arremedos de poesia que fui fazendo ao longo dos anos, começam por não acreditar, suspeitam de plágio e mesmo os filhos só acreditaram quando escrevi uma poesia para cada um, na sua presença, imprimi, mandei encaixilhar e coloquei nos respectivos quartos.
Ao ler a crónica de Manuel Pina, lembrei-me de outros tipos de poetas, daqueles a quem os amigos perguntam "estás armado em poeta, ou quê?", para os chamar à razão de uma sociedade em que qualquer tipo de poesia é pecado. De uma de muitas vezes em que me senti poeta, recordo um concerto musical que organizei em 1980, com uma excelente orquestra que convidei, um programa distribuído por todo o concelho, centenas de cadeiras colocadas no pavilhão desportivo, um autocarro alugado e... 5 (cinco) bilhetes vendidos! é preciso ser poeta, sim...
Como se não bastasse, ainda participei ao longo de todos estes anos em mais algumas manifestações poéticas, sempre com um verso atrás, perdão, sempre com um pé atrás, para que não me voltem a chamar poeta.
Curiosamente, aproveitei desde há uns anos a esta parte, as vigilâncias de exame para numa folha de rascunho ir escrevendo uns versos, enquanto passava devagar e em silêncio por entre as carteiras, onde muitas vezes a poesia também fazia parte do enunciado... e de alguma forma consegui chegar à conclusão de que a tal gratuitidade da poesia é muito relativa, na medida em que é uma forma excelente de ajudar a ultrapassar um determinado tempo gratuitamente inútil, como nos faz imaginar a vida de um modo diferente, mais solta, mais leve, mais alegre, mais feliz. Daí pensar até que um poeta, bom, mau ou assim-assim anda muitas vezes com a cabeça no ar... e quem não gosta?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

SÓ HÁ UMA VIDA...

A vida é um bem supremo, uma dádiva que deveria ser preservada, acarinhada, valorizada, de tal modo que casas com piscina, na praia ou na montanha, carros de gama alta com muitos cavalos e outros bens não duradouros fossem catalogados como bens de segunda na escala, não devida mas de vida.
Algo não está bem quando colocamos a vida em risco, quando por "dá cá aquelha palha" perdemos a noção de que uma falha, grande ou pequena, nos pode tirar a vida, a única vida que temos e desperdiçamos.
Bem, eu também não gosto de "totós" que, porque tendo apenas uma vida não fazem nada de nada, que os confronte com aquele risco mínimo que sempre aparece na vida de uma pessoa normal, sujeitando-se a morrer tarde e a más horas na contramão, atrapalhando o tráfego, como diria o Chico Buarque.
Mas há no meio de tudo isto a tragédia daquele que dá uma queda no passeio e morre, em contraponto ao que cai de avião e sobrevive, ou mesmo do que cumpre o código da estrada e leva com um camião desgovernado em cima... na verdade não há uma conduta modelo que nos livre dos percalços nem garanta uma vida feliz e preenchida até aos cem anos, mas há alguns comportamentos que podem e devem ser tomados em conta, porque está provado que não nos dão a vida eterna, mas podem afastar-nos do hospital ou da funerária mais próximos.
Tudo isto a propósito de um jovem artista de novela, com todas as condições para viver feliz por muitos anos e que juntou tantos factores de risco que acabou de uma forma trágica com a vida, a sua vida e também por acréscimo a dos familiares.
De alguma forma, a sociedade aceita que algumas figuras da rádio, tv e disco, bem como de actividades de "referência", como são todos aqueles que aparecem na televisão pelo menos uma vez por semana, aceita mesmo que conduzam sem carta ou seguro, aceita que entrem às tantas da manhã nas discotecas da moda, se engrossem e provoquem desacatos, como já aconteceu com jogadores de futebol aos tiros, aceita que ministros sejam apanhados a duzentos à hora na auto-estrada e não lhes aconteça nada, aceitam que possam aparecer nas "revistas da moda" com a(o) namorada(o) novo de quinze em quinze dias e sempre apaixonados, aceita que uma modelo de 17 anos caia do 15º andar, propriedade de um "jet-set" rico sem se lhe conhecerem rendimentos compatíveis, ou que alguém vá com o amigo para um dos mais caros hotéis de Nova York com tarifas que nem em época de saldos me deixariam dormir descansado.
Os tempos são outros sim e a facilidade com que se empresta a um indivíduo um carro de 86 mil euros, sem seguro, para andar a esgalhar por tudo quanto é festa também convida a alguns excessos, uma vez que quando se compra um bem e ele custa a ser pago, a atitude e o comportamento são em muitos casos diferentes.
Esta realidade, por muitas conversas de natureza pedagógica que se tenham em casa ou na escola vai determinar o comportamento de uma boa parte dos jovens que sonham andar em carros descapotáveis, entrar nas discotecas sempre que lhes apetecer, ou ter o seu corpo na capa da revista, correndo o risco de andar tão depressa que a vida não ultrapasse a curva da auto-estrada... e o problema é que carros há muitos, mas vida há só uma.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

MARESIAS...

Confronto de cada hora
numa batalha a travar,
cai a face se demora,
vai o resto se faltar.

É a paixão que não se vê
e se sente, pois então,
quando queremos que dê
o bater do coração.

É a água em que me deito,
fria, quente, assim-assim,
que banha este meu peito
e limpa o erro de mim.

Perfeito, na sua essência
procurando a ilusão,
na forma como a ciência
prova o sim e diz o não.

O amor é tão conciso,
tudo serve p`ra dizer
que o mar só dá por isso
enquanto a água viver.

Parece chegar o tempo
em cima da pele macia,
quebrando-me o pensamento
de uma vida vazia.

Estala o chão em que vivo,
cava fundo o meu lamento,
queima demais se repito
o sonho em que m`invento.

Voo raso, que não serve
para me dar a visão
do mundo em que me ferve
o vapor de uma paixão.

Vem comigo, dá-me esperança
da vida, do amanhã...
faz de mim o tal amigo,

aquele que briga e que brinca
com sorriso de criança,
na praia de Itapuã.

A luz que solta as amarras
das palavras que não digo,
quando as queremos cortadas
muito brancas, pão de trigo.

Onde meus dentes se ferram
na vontade de comer,
por que todos desesperam
da fome do teu saber.

Quero o sabor da vida,
sinto o doce do teu ser!



domingo, 12 de junho de 2011

À AMÉRICA É QUE EU NÃO VOU!

Neste mundo glosado e globalizado, andar por aí como o Santana Lopes ainda vá que não vá, agora pensar ir passar umas férias nos Estados Unidos é que tá fora de questão e até o Al Capone, se fosse hoje, nunca se aventuraria além do Cabo da Roca, porque haveria um Sá Fernandes, um Nabais ou um Júdice a lembrar-lhe que aqui poderia matar e esfolar até querer, que nunca dez mortes valeriam mais prisão que uma, nunca haveria homicídios voluntários desde que chorasse à frente da juíza e mesmo que não tivesse residência, sempre se haveria de encontrar uma pena de apresentação na esquadra da residência, como recursos até ao supremo, desde que o cliente seja como o Isaltino ou a Felgueiras e tenha... recursos.

O que aconteceu ao diretor geral do FMI, poderia acontecer ao mais pintado, desde o Clinton ao Grant, desde o Schwarzeneger aos Governadores de Estado (não me lembro qual, mas acho que não escapa um), mas dá-me a impressão que o homem analisou a questão como analisava os empréstimos, nem perguntava aos clientes se podiam ou não podiam... mas não me entra na cabeça, salvo seja, que um milionário num hotel de luxo, sentindo-se só, não tenha tido a inteligente atitude de requisitar à recepção os serviços de uma profissional competente, como já por várias vezes me foi sugerido quando fazia o check-in e me viam desamparado, mesmo sabendo eles que o meu cartão só é igual ao dele no tamanho e na quantidade de plástico.

Eu investigador desses serviços policiais nova-iorquinos, suficientemente preparado, algemo e acuso o homem só porque a empregada de limpeza estava onde não devia, porque as funcionárias de hotel sabem que só devem entrar nos quartos quando não está lá ninguém, nem sequer viu que o cartão de entrada do quarto devia estar no local onde se acendem as luzes e se liga a energia eletrica.

Quero pensar que pode ter sido um equívoco, ou seja, o homem estava sozinho, sentiu necessidade de companhia e requisitou por telefone à recepção. Deslocou-se à casa de banho onde se lavou e perfumou e quando saiu deu com uma senhora talvez bonita, pensando que era a profissional que requisitara. Impaciente, nem lhe perguntou "água vai" e só deu pelo engano quando ela começou a gritar, se é que gritou, que isso eu não li em lado nenhum, engano esse que o fez telefonar aos amigos a contar a trapalhada e a receber como resposta "vai para Portugal que o violador de Telheiras apanha 6 meses de pena suspensa, portanto tu nem chegas a ir à esquadra". Quem não ía apanhar o primeiro avião para a Europa desenvolvida, onde se encontra uma Monica Lewinsky em cada esquina, desde o Marquês ao Cais do Sodré, todas melhores que uma empregada de limpeza?

Ok, eu entendo, dá-lhe 75 anos de prisão, para provar a esta gente que na América são todos iguais perante a lei, ricos e pobres, homens e mulheres, gays e os outros, ao contrário desta Europa onde só um privilegiado pode requisitar uma profissional vestida de empregada de limpeza. Isto há cada fetiche...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

NOTÍCIAS DA TRETA

Estou numa fase difícil, sinto comichão no corpo todo, acordo muitas vezes a meio da noite, estou a perder peso de dia para dia, bem, uma dieta razoável com umas corridas na variante tinham de me fazer perder peso, mas acho que devo colocar a perda de peso para dramatizar um pouco a crónica de hoje. Tudo isto porque já não consigo entender programas de economia, com cada um dos entrevistados a fazer exaustivos relatórios da "crise" e a propor "soluções zero", zero de imaginação, zero de contas certas, zero de coisa nenhuma.

Desde há uns meses, com uma crise nunca vista, as unicas medidas que o governo tomou foram os "trocos" das CCUT (com custos para o utilizador) e o corte nos salários com os funcionários públicos que ganham acima de 1.500,00€ mensais, uma verba fabulosa que depois da prestação da casa, da gasolina para o carro, da prestação do carro, dos impostos respetivos, das propinas dos filhos, das despesas com saúde, vai servir ainda para umas férias num qualquer parque de campismo do sudoeste alentejano, que esta classe média é que tem de aguentar com tudo.

Os administradores das grandes empresas publicas e privadas? os artistas da rádio, tv e disco, incluindo o Futre concentradíssimo? os craques das off-shores que depositaram 200 milhões de euros e nem sequer preencheram os boletins do IRS? ahhhh esses não!

Os combustíveis subiram? o dolar subiu...

Os combustíveis ficam na mesma? o dolar desceu...

No meio de tudo isto lê-se nos jornais que o país está a caminho do caos, porque só nasceram 101 mil e morreram 105 mil, um saldo negativo que "provoca o envelhecimento da população", o que vai causar transtornos a longo prazo na sociedade portuguesa. Esta pérola, que oiço e leio todos os dias não tem qualquer razoabilidade, na medida em que uma pessoa com a antiga 4ª classe chega a numeros e conclusões diferentes.

Se morrem 105 mil pessoas com uma média de 80 anos de idade e nascem 101 mil com 0 anos (nasceram agora), o numero total de anos de vida da sociedade portuguesa a dividir pelos vivos, baixa a média de idade, o que provoca um rejuvenescimento e não um envelhecimento como dizem os eminentes economistas e jornalistas.

Deixemos essa ideia de que há um problema de sustentabilidade e fixemo-nos naquele jovem de 18 anos que em cada nascimento vê à sua frente um potencial desempregado a dificultar-lhe vinte anos depois o acesso a um novo emprego. Aprofundando a questão, não é aconselhável que um pai faça um filho antes dos 45 anos, uma vez que quando o filho começar a trabalhar, nao tem necessidade de tirar o emprego ao pai, que entretanto já está na idade da reforma.

Mesmo com esta medida, talvez seja necessário proibir o nascimento de crianças nos próximos sete anos por forma a encontrar saída no mercado para os 700.000 que estão desempregados.

E quem sustenta os reformados? então eles não fizeram o seu próprio mealheiro, através das contribuições mensais que descontaram ao longo da sua vida e que o Estado guardou concerteza?

E será um jovem que nasce hoje, que vai acabar os estudos com 25 anos na melhor das hipóteses e terá uma vida contributiva de 20 ou 25, porque a cada seis meses de trabalho ficará desempregado outros seis, é esse jovem que vai pagar para um reformado?

Deixem os velhotes morrer descansados e contentem-se com um sobrinho afastado, que logo veremos e viveremos numa sociedade desenvolvida e sem desemprego. Depois, quando tudo estiver equilibrado... façam filhos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

ELEIÇÕES

Desde que a "troika" confirmou o coletivo estado de falência de Portugal que perdi a vontade de escrever, mas é que perdi mesmo, porque é muito difícil enfrentar a escrita com um estado de espírito macambúzio, tristonho, numa antecipação de um estado quase moribundo, que nos deixa de rastos, sem vontade de reagir ao infortúnio, qual adepto de um clube que quer ganhar e tem sempre na frente um intransponível FCP...
A dívida esmaga-nos literalmente, a do Estado e a nossa mesmo, aquela que soma prestações da casa, do carro, das propinas dos filhos, do computador, do telemóvel, do IRS, do IVA, do IMI e do ISP... bem, só não andamos por aí a chorar porque sempre ouvimos dizer que "um homem não chora".
Depois de todo o folclore da campanha, com os mesmos emplastros de sempre a agitar bandeirinhas, os jantares que alguém há-de pagar, os bonés que não se usam mais a não ser pelos militantes com as quotas em dia, escolheu-se um primeiro-ministro legitimamente eleito por 2 milhões dos cerca de 9 milhões de potenciais eleitores, numa proprção que me dá o direito de ser só eu a mandar lá em casa, ou seja, um voto meu num universo de quatro possíveis.
Mas se há emprego estável, engravatado e perfumado não é concerteza o de primeiro-ministro, pelo que uma pessoa de bom senso escolheria antes o lugar do motorista do chefe de governo em vez de querer salvar a nação da bancarrota e de levar com a sola do sapato ao fim de quatro anos de missão, deixando o buraco das finanças ainda maior.
Li no jornal que o companheiro Passos começou o seu brilhante percurso aos 14 anos, a colar cartazes daqueles que diziam "hoje somos muitos, amanhã seremos milhões", cor de laranja e com três setinhas, meteu-se na "jota", chegou a presidente, foi estudando, licenciou-se e já estava encaixado numa universidade, como "professor universitário", conforme o curriculo impresso, quando as circunstâncias o elevaram à condição de "administrador da massa falida".
Claro que vou estar atento a novos freeports, apartamentos comprados pela mãe com dinheiro vivo, primos na China e tios a viver com a reforma mínima na Quinta da Marinha, mas também com resorts de luxo em Cabo Verde, contas em off-shores e empresas em Porto Rico, para além de consultórios de advogados "júdices", "proenças" e outros, pagos a peso de ouro para dizer que sim, mas é claro qe eu vou esquecer tudo isso se o deficit acabar, só não me posso esquecer do meu deficit nas prestações da casa, do carro, das propinas dos filhos, no IMI, no IVA, no IRS, no ISP... mas é certo que daqui a quatro anos, se o buraco estiver ainda maior, já sei o que fazer, desde que o camarada Guterres continue a tratar de refugiados, deslocados e maltratados...
É certo que me alheei um pouco das eleições deste ano, não porque seja contra as eleições, mas apenas porque me atrasei um pouco e quando pensei votar já tinham fechado as urnas, mas verifiquei com algum alívio, que o meu voto não ía alterar os resultados, no entanto prometo que vou ser rigoroso nos próximos quatro anos, gastando só o que tenho, poupando o máximo, não pedindo dinheiro emprestado a ninguém e pagando todos os impostos e encargos assumidos, esperando dos governantes que façam o mesmo.
Prometo também não me envolver em campanhas partidárias, manifestações de apoio ou protesto, pontes, reuniões só para perder tempo, viagens e ajudas de custo à conta do Estado nem sequer comparecer, sim comparecer, a debates na tv com o Miguel Sousa Tavares, Rui Rangel, Pacheco Pereira ou Marcelo Rebelo de Sousa. Se daqui a quatro anos o buraco for maior ainda... peço ajuda ao camarada Guterres.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A VIDA COMO ELA É...


A vida tal como ela é! (tirado de um anúncio televisivo da TMN, onde a felicidade está à distância de um simples telemóvel)


Intermarché de Alcanena, 6 de Fevereiro de 2006, pelas 17 horas de uma tarde de sol, num inverno de gente sem chama, sem sorriso, sem nada...
As pessoas tentavam contrariar o frio do exterior, prolongando a observação das prateleiras e comparando os preços dos muitos produtos em exposição, parecendo querer ficar um pouco mais por ali, alguns até na esperança de encontrar um amigo com quem pudessem conversar, talvez sobre futebol, uma coisa de que se pode falar sem criar susceptibilidades, nem a quem fala, nem a quem ouve.
Um casal mais ou menos jovem, asseado, modestamente vestido, com um bebé ao colo, de alguns meses de vida, bonito, lavado, vestido como todos os bebés e agarrado com ternura pela mãe, estava na máquina registadora... afinal era uma compra modesta, uma embalagem de papa para bebés, 3 iogurtes, um saco de plástico com pouca carne e mais uns artigos essenciais na proporção mínima para um casal e uma criança. A funcionária, com um rosto jovem mas fechado, cumprindo concerteza as instruções que recebera na formação mínima para o desempenho das tarefas, não olhava sequer o homem, mas dava mostras de sensação de indiferença, apenas igual à indiferença de mais umas quantas almas que se encontravam na fila e que naquele momento apenas queriam sair dali, que a pressa de chegar ao conforto de casa era muita.
E a máquina marcou 6 euros, num tilintar que nos pareceu significar alguma surpresa por uma compra tão pequena... afinal uma família tradicional portuguesa, um casal e um filho conseguiam abastecer-se num hipermercado por tão pouco dinheiro, quase provando a quem nos governa que já existe muita gente a poupar, que a crise veio pra ficar.
O homem, entregou à caixa o usual cartão multibanco para pagamento, mas... não dava certo, alguma coisa estava mal, porque à terceira tentativa o cartão continuava a negar-se a liquidar essa compra de 6 euros...
- o cartão não tem saldo, diz a funcionária.
- Mas ainda esta manhã deu...
- Quanto achas que tínhamos na conta? Pergunta o marido à esposa.
- Acho que tinha mais de 6 euros, ainda...
“mais de seis euros, mais de seis euros, mais de seis euros…” e o som ecoava com toda a força pelo espaço do supermercado, como um punhal que se espetasse no peito de todos nós, todos nós, todos nós, quase todos nós…
O ambiente pesado era cada vez mais um tormento para aquele casal e nada se alterava, nem o sorriso palerma de uns quantos que entre-dentes murmuravam “é a vida, é a miséria...”, onde uma enorme falta de solidariedade, de educação, de sentido de vida se notava e anotava...

A senhora começa a retirar as compras dos sacos onde estavam acondicionados e desabafa baixinho “ não faz mal, voltamos cá amanhã...”, no que o marido concordava acenando com a cabeça. E tudo ficaria por aqui se não houvesse alguém que achou que tudo estava a caminhar para uma situação desagradável e sem retorno, que não ia deixar a sua consciência em paz e decidiu intervir.
- O senhor vai desculpar, mas eu pago a despesa! Disse, de uma forma simpática e determinada, entregando uma nota à funcionária, desprevenida e admirada com a atitude.
- A senhora desculpe, mas não vale a pena, eu amanhã volto cá e compro. O cartão não deve estar a funcionar, disse o homem, incomodado com toda a situação...
- Oiça, o senhor, não me conhece, eu também não os conheço, mas não tem qualquer problema, um dia que me encontre em Alcanena e possa pagar, eu sei que você vai pagar, não se preocupe. Gostava de um dia poder ver essa criança feliz, com os pais.
A funcionária recebeu, registou, as pessoas aconchegaram a roupa e o tempo lá fora parecia um pouco mais frio que o habitual.

terça-feira, 17 de maio de 2011

PAUSA

Nunca me tinha acontecido, desde que comecei a escrever aqui no blog, até porque sentia uma absoluta necessidade de escrever e as novas tecnologias forneceram a cada cidadão uma maravilhosa máquina de escrever, sem aquelas chatices da borracha para apagar os erros no papel, com ofícios rasurados, muito embora se continuem a ver aqui, às vezes, erros de bradar aos céus, feitos por quem muito escreve e pouco acerta, especialmente no plano ortográfico, mas também no campo das ideias, bastando comprar um jornalinho de quando em quando para confirmar muitas lacunas familiares, escolares e sociais.
É essa pouca e indisfarçavel falta de leitura que nos torna cada vez menos aptos, menos confiantes e menos sociais, sim porque uma pessoas que não consegue dizer "duas seguidas" sem meter no meio o golo do Ronaldo, tende a afastar-se, ou a juntar-se apenas aos que metem as bolas do Falcão na "caixa dos pirolitos".
Uma coisa interessante de que me apercebi em pequeno e que achava quase um "ministério sacerdotal" era o tempo sagrado que o meu avô Manuel Inácio dedicava à leitura do Diário de Notícias, na sua casa de Santa Catarina, junto à janela que dava para a rua e de onde se via a taberna onde muitos conterrâneos se limitavam a beber uns copos de vinho e a falar do Benfica.
Outra coisa que também me marcou a infancia foi tentar perceber porque raio o meu avô Manuel, sapateiro, leitor de jornais e que não sabia uma nota de música, levou os seus quatro filhos a aprenderem e a tornarem-se todos bons músicos, arte com a qual sempre usufruiram de benefícios sociais, profissionais e económicos, que levaram o mais velho a uma carreira de músico profissional. Também aprendi o solfejo, toquei trompete e só não continuei porque tinha mais jeito para outras coisas...
Aconteceu até um caso curioso por volta dos anos 50, aquando de uma eleição para a Junta de Freguesia, com o aparecimento de um slogan escrito junto da parede da igreja e que dizia "Catarinense, lembra-te que vais escolher quem te há-de dirigir e a junta de freguesia não pode estar nas mãos de analfabetos", numa letra perfeita e escrita com tinta de sapateiro, pormenor que fez do leitor de jornais Manuel Inácio o principal suspeito das autoridades. Acontece que ele negou e as autoridades fecharam o processo declarando que a frase bem escrita e sem erros nunca poderia ter sido produzida por um sapateiro, estendendo as suas suspeitas a um estudante universitário que na altura passava umas férias na terra.
Na verdade, escrito a tinta de sapateiro e não sendo o pai sapateiro, facilmente se concluía que só poderia ter sido um dos filhos do sapateiro o autor da frase, mas isso só se soube depois do 25 de Abril, felizmente.
Curioso também o facto de Santa Catarina ter nos anos 50 e 60 do século passado um jornal mensal, onde eu pude ler as primeiras crónicas desportivas... e quem era o jornalista desportivo? o Juventino Ferreira, sapateiro, músico e jornalista, filho do meu avô Manuel Inácio.
A terra era na época, com jornal, banda filarmónica, equipa de futebol e respectivo campo, para além das festas anuais, uma localidade bem posicionada, mesmo em relação a muitas localidades do século XXI, neste país das novas tecnologias, onde o pessoal compra cada vez menos jornais.
E tudo isto para quê? não sei, apenas pensei nisso, talvez um pouco farto de ver os pobrezinhos da Bela Vista, filhos de pobrezinhos, netos de pobrezinhos e que culpam a sociedade de tudo e mais alguma coisa, em contraste com os netos do sapateiro Manuel Inácio, licenciados em economia, relações internacionais, educação física e os bisnetos que já andam por licenciaturas e mestrados sem esperar benesses ou subsídios dos serviços do Estado.
Às vezes é necessário uma pausa...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A BANCARROTA

Depois de ouvir todos os entendidos em matéria de "deficit", dívida soberana, juros, "default"e outras tretas, nos mais variados canais de tv e rádio, como acontecia com o Tony Silva da rádio, tv e disco, que o Herman inventou num dos seus bons trabalhos de tv, dizia eu que depois de os ouvir, os mesmos do costume, todos aqueles economistas, politólogos, escrevinhadores e pensadores que ao longo de trinta e sete anos se amanharam e nos amanharam, fui esta manhã surpreeendido com mais uma pérola, que me fez lembrar os jovens de há meia dúzia de anos com o "não pagamos, não pagamos!".

Dizia o "expert" que uma boa solução seria o re-escalonamento da dívida com prazos a perder de vista, bem como o perdão de uma parte, o que daria uma imagem do país mais ou menos zimbabueana, de um Estado que andou a pedir emprestado e agora se queria recusar a pagar a quem deve... e o Estado somos todos nós, que aceitamos eleger durante todos estes anos indivíduos que nem a casa deles sabem governar.

Neste país de quase 900 anos, existia o hábito de as pessoas não se meterem em "camisas de onze varas", havendo até um ditado popular que dizia ao sapateiro para não ir além da chinela, mas ninguém, dos que sempre (se) governaram, quis saber de nada, levando o país a uma situação que nos envergonha.

Há cerca de 40 anos, Portugal tinha uma auto-estrada entre Lisboa e Vila Franca, bem como igual via entre os Carvalhos e o Porto, o que de certa forma dava uma ideia da pequenez de um regime que antes queria comprar ouro para guardar no Banco de Portugal do que construir infra-estruturas que possibilitassem o desenvolvimento económico e social do país. Com a democracia aconteceu o oposto e se não estou em erro, já ouvi falar na A42, ou seja, já foram construídas quarenta e duas auto-estradas em Portugal, a uma média superior a uma por ano, tornando-nos o país lider europeu e talvez mundial de quilometros de auto-estrada por habitante.
Fui agora confrontado com outra notícia ainda mais interessante, que diz bem de uma certa visão social do "ter" e que talvez seja no momento presente o grande problema da dívida do país ao estrangeiro, como seja o facto de 76% dos portugueses serem possuidores de casa própria, através de empréstimos bancários que, numa percentagem cada vez maior, não se conseguem pagar e que muitas vezes dificultam a mobilidade profissional das pessoas.

- Então oferecem-me um emprego em Coimbra e o que é que eu vou fazer com o "meu" apartamento em Lisboa?

Segundo a notícia em questão, os portugueses são o povo, no mundo, que tem mais casa "própria", com excepção dos indios que... também têm.

Gostava de ver a cara dos enviados do FMI a ouvir do ministro das finanças, os aspectos mais caricatos dos portugueses, que vão todos os dias ao café onde normalmente tomam o pequeno almoço, almoçam fora porque é chato levar a marmita, vão de carro para o emprego que está ali a dois quilómetros de casa, têm carro novo ou se não têm pensam nisso todos os dias, casa, férias de um mês inteirinho ou mais, telemóvel topo de gama que só sabem utilizar para receber e fazer chamadas, computadores, sim, porque têm de ter o portátil e o fixo lá em casa a ganhar pó, o que nem é coisa cara, valha-nos isso, mas as mensalidades, para além das diversas prestações mensais, ajudam ao deficit caseiro.

Ao longo destes dias têm sido desenterrados tantos e tantos economistas, ex-ministros das finanças e presidentes disto e daquilo que até estranhei não terem pedido uma opiniãozinha ao Salazar, sim, sim, ele está morto e bem morto, mas como há por aí tantos cadaveres a governar... era mais um. Não sou nem nunca fui adepto do "pobrezinhos mas honradinhos", mas também não sou fã desses "novos ricos" que levaram o país a uma situação que nos envergonha, se é que posso falar pelos outros milhões de cidadãos. Talvez alguma sobriedade social, talvez menos gastos com festas e arraiais, menos futebol e mais investigação, menos carros novos e mais, melhores e mais baratos transportes públicos... talvez menos organismos públicos, juntas de freguesia, camaras, governos civis, organismos regionais, centrais e outros que tais.

Talvez juízes com mais de 50, daqueles que não são apanhados bêbados à saída das discotecas, talvez comandantes de polícia que não aparecessem tantas vezes na tv, talvez programas que revelassem talentos nas universidades e empresas, provavelmente voltaríamos a ser um país com outra imagem junto dos que nos conhecem, porque felizmente uma grande parte da população mundial nem sabe que existimos.

domingo, 27 de março de 2011

A SAGA DO TAVARES

Na verdade eu, um cidadão anónimo, não tenho nada com a vida dos outros, ou não devo, porque cada um é livre de desenvolver a sua vida pessoal, profissional e social conforme entende e para isso é que existe uma Constituição, com muitos e variados artigos que regulam a liberdade de expressão e pensamento... tudo isso é verdade, mas o senhor Tavares está a entrar numa fase muito atribulada, disso não tenho dúvidas.

Desde que começou a escrever livros e a vendê-los como pãezinhos de leite, o homem parece que tem o rei na barriga e vai daí bate em tudo o que mexe, ele são os malandros dos profesores que ganham demais e não fazem nada, são agora os "homens da luta" que são, na sua boca, ordinários porque além de não saberem cantar e quererem fazer "revoluções" com megafones, ainda se dão ao luxo de responder ao escriba, o que de certo modo me lembra o pai Tavares, no Largo do Carmo a tentar controlar a revolução no dia 25 de Abril com igual megafone e que um dia chegou a ministro.

Descontando o alegado plágio encontrado numa das suas obras, os royalties ganhos à custa das obras literárias da mãezinha, que se estivesse viva talvez lhe dissesse que o menino não foi educado para dizer mal de quem lhe ensinou a escrever, as opiniões televisivas que lhe rendem bem mais que o tal vencimento chorudo dos professores, vem agora escrever a enorme possibilidade de os alemães não nos emprestarem dinheiro porque "os homens da luta" vão fazer que cantam lá na Alemanha, vestidos indecentemente e com megafone na mão, quase diríamos, com as calças na mão.

Quando comecei a trabalhar, a malta ganhava mal mas o Estado dava lucro, comprava-se ouro e sustentavam-se cem mil militares na guerra, com aquele material militar todo a gastar dinheiro e agora a malta continua a ganhar mal, com a enorme desvantagem de o Estado estar falido e já não haver guerra a dar despesa... afinal quem é que levou isto à falência? foram os professores e os "homens da luta", está mais que visto.

Os Tavares, os Pachecos Pereira, o Ângelo dos pregos, o Judice dos pareceres, o Barroso do MRPP, a ministra Maria de Lurdes do PCP-ML, o Sampaio do MES, o Sócrates da licenciatura, o Vara do BCP, o Dias do BPN, o Teixeira Pinto da reforma de milhões aos 48 anos de idade, que casou a filha e teve como convidados o Passos Coelho, o Eanes e o Cavaco, e se esqueceu de me convidar, esses todos que mamaram da têta da vaca, como dizia o Solnado, durante toda a democracia não tiveram culpa nenhuma do estado a que isto chegou, não, os culpados são esses malandros que não querem fazer nada e recebem 485,00€ por mês.

E agora, como vai ser com o FMI que preocupa tanto a classe dirigente? eu não sei, mas pior não deve ser para quem já não tem nada e nunca teve nada, até porque eu já trabalhava quando eles cá vieram da outra vez e não morri nem passei fome, mas talvez até seja bom para acabar com certas mordomias desses todos que acabei de referir e dos filhos e netos metidos na máquina partidária para sacar até mais não.

Voltando ao agora entrevistador Tavares, acabei de saber que foi enviado ao Brasil para fazer uma entrevista à Presidente da República Dilma Roussef, estranhando que tivessem sido deslocados meios e realizadas viagens, gastando-se uns bons milhares de euros, para fazer uma entrevista que podia ser feita em Portugal, uma vez que a senhora vem cá fazer uma visita e até poderia ficar mais familiarizada com o que se passa por cá, sem incorrer na resposta que me fez sorrir "Sócrates foi demitido? se não for ele, falarei com o que lá estiver...".

Acho que já li uma vez uma crónica em que de algum modo se redimia de uma possível ofensa aos professores, talvez aconselhado pelo seu editor-livreiro, uma vez que os professores são naturalmente o público alvo dos seus livros, mas lá por dentro ele não consegue passar sem os ofender cada vez que tem oportunidade... e eu também irei tratá-lo de maneira adequada sempre que puder.


segunda-feira, 21 de março de 2011

O DEFICIT E A CRISE

Não se fala noutra coisa em Portugal, até a qualificação dos clubes de futebol na "liga Europa" deixou de ser comemorada e o Braga eliminar o Liverpool é tão natural que já só tem uma referência nas páginas interiores e não vem nas páginas dos fundos porque o jornal ainda não é produzido em 3D, aquela nova maneira de ver as coisas com fundo, com perspetiva e com aqueles óculos horríveis... será que com transmisões em 3D dará para ver o que se passa no fundo, ou melhor, nos túneis? provavelmente... mas eu queria era escrever sobre a crise, o deficit, a falta de dinheiro, o crédito que tá difícil e caro, o prejuízo das contas públicas e não só, que eu sou privado e estou na mesma, o governo que quer sacar dinheiro a quem não o tem e deixa o Dias Porreiro a apanhar sol no resort que comprou em Cabo Verde com o lucro dos uns negócios de Porto Rico, como se alguém pudesse ter lucros em Porto Rico...
Bom, chegados a este ponto, depois de termos passado pelo Guterres do pântano, seis vezes três... ora deixa cá ver..., pelo Barroso do país de "tanga", pelo Santana Lopes, que em três meses foi juntamente com Salazar, o culpado do deficit todo, apenas porque fez a melhor obra da cidade de Lisboa dos últimos cem anos e pelo Sócrates que quer equilibrar as contas públicas a sacar dinheiro a quem está cheio de dívidas para pagar, seja na casa que comprou, nas propinas dos filhos estudantes, nas 120 prestações do carro, que irão continuar depois do carrinho ter ido para a sucata.
Que o homem está com vontade de pagar a dívida do Estado, eu até acredito, mas não pode utilizar a caixa das esmolas para pagar o santuário, ou seja, não pode tirar aos que não podem, para liquidar as dívidas feitas por gente desonesta, que sempre se passeou na manjedoura do poder político e económico.
O Estado mandou para a cadeia a D. Branca, que metia as notas em sacos de plástico, mas não conseguiu até hoje condenar um único político ou banqueiro que meteu as notas em off-shores, o que, se não é inconstitucional anda lá perto, uma vez que até os criminosos são tratados de maneira diferente, isto para não falar de empresas públicas que pagam fortunas a administradores, realizam lucros completamente despropositados e têm a coragem de aumentar a eletricidade aos consumidores, dando-se ao desplante de causar prejuízos de milhares de euros aos cidadãos, com a implantação de postes de média tensão dentro de propriedades privadas, sem dar cavaco e com a queda de cabos em cima das residencias, recusando pagar os prejuízos... será que estes monopólios não têm um seguro que cubra isso? este é realmente o estado a que isto chegou!
O grande problema do país é a diferença negativa entre o que se recebe e o que se gasta, como será problema na casa de cada cidadão ir ao banco buscar dinheiro emprestado para cobrir o prejuízo que se acumula a cada mês... haverá um dia que o banco deixará de emprestar, assim como acontecerá o mesmo ao país. Há que gastar muito menos do que se gasta, é um facto, mas... será que estes políticos estão mentalmente sãos quando continuam a querer fazer um aeroporto ou um TGV? eu podia comprar um Ferrari sim... poder podia, mas era exatamente a mesma coisa, ficaria apenas com uma dívida que nunca pagaria.
Vi ontem na tv um mercedes com a matrícula xx-JL-xx, novo e dos melhores, a caminho do "conselho de ministros"... poupança do Estado? deixem-me rir!!!

quinta-feira, 10 de março de 2011

A GERAÇÃO À RASCA!

Seria um erro histórico deixar passar a manifestação de 12 de Março, promovida por não sei quem, nem quantos, sem fazer um breve comentário aqui no blog que só eu e os amigos lêem, sobretudo para dizer o quanto me alegra que os jovens se mobilizem, participem e pensem em todas as hipóteses de construir um país viável, onde se possa viver de uma forma digna, mas também mais justa e mais equilibrada.
Há tempos atrás tive a oportunidade de ver uma foto da minha turma da 1ª classe e pude comprovar que havia colegas meus descalços, assim como outros calçados com botins de borracha até aos joelhos, isto quando eu e outros colegas vestiamos camisolas de meia manga, porque a foto de turma se tirava normalmente nos ultimos dias de aulas, em Junho, portanto. O mais interessante era eu ser filho de uma dona de casa e de um fiel de armazém, o espelho de uma classe baixa para a época, confortável em relação à classe baixa-baixíssima de muitos colegas meus.
Era uma época difícil também, do ponto de vista social, mas também do ponto de vista profissional, onde a par de uma mão-de-obra desqualificada naturalmente empregada com salários de miséria, havia uma classe emergente de técnicos vindos das escolas industriais e comerciais que tinham visíveis dificuldades para conseguir uma integração profissional e condigna retribuição.
Havia colocação e bons salários para quem tinha um curso superior? claro que sim, eles eram tão poucos...
Hoje assistimos a um facto que seria inimaginável há 37 anos, quando se deu o 25 de Abril, com um nível de alfabetização e frequência de escolas superiores ao nível dos melhores países europeus e deseja-se que ainda melhor, por forma que todos os jovens adquiram conhecimentos técnicos que os tornem melhores e mais competentes no trabalho que executam, para além de uma autonomia e capacidade de determinação que os motivem a um constante desenvolvimento pessoal e profissional, não esperando que o tal emprego lhes caia do céu, mas procurando constantemente as melhores hipóteses, estejam elas onde estiverem. Se os pais e os avós, muitos deles analfabetos se meteram literalmente ao caminho e encontraram o que queriam em França ou na Alemanha, para falar só destes, porque não tentar novos desafios, se têm hoje dentro de si os conhecimentos e a juventude?
Claro que um governo incompetente, sem um projecto de sociedade, sem capacidade para valorizar o conhecimento, sem força para sacudir as amarras dos lobbies encartados que gravitam à mesa do Estado, em vez de ser um factor de dinamização e desenvolvimento das novas gerações, é efectivamente mais um obstáculo à afirmação de quem quer dar o seu melhor por si mesmo e pelo país.
Portugal é um país de velhos! Portugal é um país de indivíduos instalados no poder, em todos os orgãos de poder, tão instalados como Fidel Castro, Kadafi, Hussein, Kim il Sun, Mubarack ou Alberto João Jardim e só não estão mais tempo no poder que eles, porque as leis não os deixam, embora alguns caiam na tentação de deixar os filhos no lugar, quando são obrigados a sair.
E porque é que também os jovens e os menos jovens continuam a aceitar que pessoas com mais de 70 (setenta) anos continuem a ocupar cargos no governo, na magistratura, nas universidades e empresas públicas, quando a lei proíbe a função pública de exercer depois dessa idade?
Porque é que essa gente não faz como os japoneses, pega uma máquina a tiracolo e vai passear em grupo por esse mundo fora?
O futuro de Portugal está nos jovens... empregados, claro!

terça-feira, 8 de março de 2011

DÁ-LHE FALÂNCIO!!!

Nada melhor nesta época carnavalesca que a canção vencedora do "festival da canção RTP", porque é mesmo uma rábula, esta coisa dos "festivais da Eurovisão" não deixa de ser uma patetice onde ganham sempre as melhores e maiores editoras europeias e onde já levamos algumas canções bonitas e sempre tivemos os votos da... Espanha, numa fase em que ainda não havia votos com valor acrescentado dos emigrantes.
Hoje li vários comentários jornalísticos, associando esta bem disposta dupla, que na verdade nem cantar sabe, a políticas de esquerda, PRECs e canções de intervenção, numa gritante falta de bom senso, formulando até hipóteses de conflito com a Europa política ou até mesmo com os humores dos credores do país, os quais ao verem o baixo nível a que chegamos, ficam sem vontade de nos emprestar mais dinheiro.
Pessoas que fazem da escrita a sua profissão, que ganham dinheiro com crónicas pretensamente responsáveis, caem com frequência na censura que não querem nunca para elas, elaborando mentalmente uma sociedade cinzenta em que não podem ter lugar os "Gel e Falâncios" cá do burgo, nos quais eu não gastaria os 0,60€ + IVA que os levará à Alemanha e que, segundo os especialistas da escrita e das canções, nos envergonhará em toda a Europa.
Pensava eu que já nem havia "festivais da canção", tanto pela pouca informação (o jogo do Benfica foi publicitado vinte ou trinta vezes mais que este "festival"), como pela ausência de intérpretes conhecidos do público, confesso mesmo que não tive oportunidade de ver o espectáculo, que troquei por um magnífico concerto de Pedro Burmester no cine-teatro do burgo, mas para ficar chocado como os jornalistas era preciso que o governo nos desse música melhor que o "gel" e o "falâncio", o que não acontece...
Um conjunto de "palhaços" na Eurovisão, porque não? então não é o que sempre temos visto? um transexual a representar Israel, uma cantora descalça, uns meio despidos, outros meio vestidos, uns pintados ou nem pintados, uns em playback, outros sem voz e nunca ninguém ficou chateado com a coisa.
Claro que eu até acho que estes "fait-divers" não representam nada, não sei mesmo quantos telefonemas foram realizados pelo público e quantos elegeram o "gel" e o "falâncio", mas isto dá uma imagem do que as pessoas pensam da situação a que a "elite" dirigente deixou chegar o país, onde não se lê, não se escreve, não se conversa, não se valoriza quem se esforça, onde um miúdo engraçado se torna uma estrela, onde o antónio das "vacas", os modelos, os jovens das novelas entretêm o pessoal e saem nas revistas.
Já os vimos em cimeiras, em conferências, em colóquios, em empresas, em governos e agora não os querem na "Eurovisão"? ao menos estes fazem-me rir...

segunda-feira, 7 de março de 2011

A ANGOLA DA LIBERDADE!!!!!

Hoje fui confrontado com uma notícia na RTP, a televisão do governo que eu sou obrigado a sustentar através de mais uma taxa/imposto, tal qual existia no tempo da outra senhora, que a chegada da democracia eliminou e que alguns anos depois um destes governos mamões obrigou o contribuinte a pagar de novo, dizia eu que a notícia da RTP tinha a ver com a realização de uma manifestação contra o governo, o legítimo governo de José Eduardo dos Santos e companhia, o democrático governo onde a filha do presidente é administradora das grandes companhias de petróleo, diamantes e bancos, dando-se ao luxo de comprar acções de bancos e companhias em Portugal sem que ninguém ouse perguntar onde é que a mocinha ganhou tanto dinheiro. Pois contra este legítimo e democrático governo do camarada "dos Santos", que se deu ao luxo de mandar eliminar fisicamente os seus adversários políticos, parece que não podem os cidadãos fazer uma manifestação, onde todo o aparelho repressivo se organizou para calar os muitos ou poucos que não estão de acordo com este "democrata" que, se as coisas correrem como até aqui, com o beneplácito da democrática Europa, vai um dia declarar legítima e democrática chefe do estado angolano a sua filhota.
Então não é que a RTP mandou a Angola o jornalista Catarro, um autêntico catarro, que directamente da capital informou que tudo está normal, que não houve manifestação, que já antes o governo tinha promovido uma manifestação onde milhões de angolanos declararam que queriam viver eternamente à sombra das boas graças do Kim Il Sung de Angola, que espero continuar a ver na presidência mais uns 40 ou 50 anos, tenha eu saúde, que a ele não lhe falta.
Então as pessoas que pensam diferente em Angola têm de estar caladas, sejam elas professores, estudantes, operários, médicos, advogados, porque o sistema os deixará de rastos quando abrirem a boca para protestar contra a dinastia Ming dos Santos? Segundo Catarro, apenas 17 (dezassete) loucos manifestantes e 4 (quatro) jornalistas foram presos porque se estavam a manifestar na noite anterior à manifestação, o que diz bem do zelo dos bufos do sistema, na qualidade de polícias, que não se limitaram a prender, porque a manifestação era ilegal, mas também roubaram os telemóveis às pessoas para ver com quem elas trocavam mensagens.
É este o Estado de Angola com quem Portugal e os sucessivos governos mantém todas as relações e a quem pedimos dinheiro emprestado para pagar as dívidas, sem pudor nem vergonha de saber que esse dinheiro deveria servir para dar ao povo angolano as condíções justas de ensino, alimentação e saúde a que deveriam ter direito, ao contrário de encher os bolsos de uma classe dirigente ditadora e parasitária.
Espero viver o suficiente para ver em relação a Angola, a mesma posição que estes vira-casacas que nos governam tiveram em relação à democrática Líbia, ao democrático Egipto, dirigido pelos camaradas da Internacional Socialista que de tão amigos passaram a ditadores da noite para o dia.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

PORCOS NAS PRISÕES!

O título poderia fazer pensar que eu quero todos os porcos nas prisões, mas não, não sou ingénuo a esse ponto, nas prisões devem estar as pessoas que cometem ilegalidades e para quem só a privação da liberdade seja o necessário castigo, uma vez que muitas ilegalidades serão supostamente reparadas com coimas, multas e indemnizações e outras ainda nunca serão castigadas, podendo até ter direito a umas nomeações para empresas publicas, uma vez que é necessária gente com experiência para essas funções.
Mas o essencial da crónica de hoje tem a ver com uma acção levada a cabo por forças de segurança na cadeia de Paços de Ferreira e felizmente gravada por um elemento das forças de segurança envolvidas, talvez até para prevenir algumas más interpretações levadas a cabo por eminentes e prestigiados advogados da nossa praça.
E resumindo, podemos afirmar que um animal, classificado semanticamente de detido prisional, esteve numa cela durante alguns dias, fazendo as necessidades fisiológicas no chão da cela, mandando a comida para o chão e conspurcando de tal modo o espaço que os detidos dessa ala exigiram o fim daquele inferno, que deveria deixar as pessoas das celas contíguas com o estomago a dar voltas durante as vinte e quatro horas do dia.
Perante esta situação e também pelo facto de o energúmeno já ter provocado e agredido detidos e guardas em situações anteriores, foram chamadas forças especiais para lidar com a situação, filmando até a cena para que os Franceses, Nabais, Arrobas e Fernandes não viessem depois para a televisão dizer que ahh e os direitos humanos, ahh e a liberdade, ahh e os deveres, ahh e a força bruta da polícia...
Tive a possibilidade de ver e ouvir a acção e de reparar que os guardas mantiveram uma atitude correcta e legítima, isto no ponto de vista do leigo na matéria que nunca esteve preso e nem entrou numa prisão seja por que motivo fosse. O porco, que deixou a cela mais imunda que os porcos que o meu avô criava, foi transferido para outra cela onde ficou sozinho, ou seja, no nosso país ainda há presos que ficam com cela privada, ao contrário do recomendável, uma vez que eu não acredito que esse recluso tivesse o mesmo comportamento numa cela onde estivesse acompanhado de mais 5 ou 6 reclusos.
Tudo isto pode acontecer e creio que o sistema prisional está preparado para lidar com estas situações, onde concerteza podem e devem ser utilizadas as tais armas eléctricas, senão para que serviria a compra desses instrumentos dissuasórios se nem nesta situação poderiam utilizar-se?
Muitas situações iguais ou parecidas poderiam inventariar-se ao longo dos anos, mas o original de tudo isto é ter o bastonário da ordem dos advogados proposto uma acção contra as forças policiais e em defesa deste recluso, por alegada violação dos direitos humanos e contra a violência policial. A indiferença da população em relação ao senhor bastonário neste caso em apreço, demonstra bem da irrresponsabilidade do advogado Pinto e gostaria até de saber quantos portugueses com os impostos em dia lhe ligaram a concordar com essa diatribe, o que também a mim me deixou perplexo, uma vez que na maior parte das vezes que o tenho ouvido até tenho simpatizado com as suas opiniões, sendo certo que há um ditado popular que sempre avisa que "no melhor pano cai a nódoa".
Esperava deste e de muitos mais casos que vão aparecendo, que o ministro responsável fosse à televisão e aos jornais exprimir o seu apoio às forças de segurança, dando corpo ao sentimento das populações e moralizando os agentes da autoridade pela sua acção sempre meritória e reforço isto porque ao longo de 57 anos de idade nunca um agente policial me tratou mal, me ofendeu, me interpelou de modo extemporâneo, havendo alguns a queixar-se... será que estão sempre no lugar errado à hora errada, ou será que nunca saem desses sítios nem têm vontade de sair?
Espero que os agentes da autoridade não deixem que as prisões se transformem em pocilgas.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MORTES...

Claro que todos um dia teremos de morrer, seja como for e parafraseando um conhecido slogan publicitário, a morte física é "tão natural como a sua sede"... ou a falta dela.
É um tema difícil de tratar, se é que a morte se trata, mas não há muitos estudos sobre a morte, pelo menos eu tentei nesses internéticos motores de busca e encontrei pouca coisa, pelo que é um assunto possível para uma tese de mestrado, a qual tem inúmeros temas de discussão e análise, tais como:
- um morto encontrado num apartamento oito anos depois da morte é desleixo, crime, esquecimento ou alzheimer institucional?
- um indivíduo que dá conta do desaparecimento de uma pessoa durante treze visitas ao tribunal é interessado, coscuvilheiro, teimoso ou tem muito tempo livre?
- um polícia que recebe uma queixa de desaparecimento e assobia para o lado é ineficaz, parvo ou anda a treinar?
- o director da segurança social a quem são devolvidas as pensões dos idosos entretanto "desaparecidos", faz alguma coisa para saber o que lhes aconteceu, assobia para o lado, faz um comunicado a abrir "inquéritos", diz que a polícia, os tribunais e os vizinhos não têm nada a ver com o assunto e processa o morto por incumprimento fiscal?
- o director de finanças diz ao amigo leiloeiro que tem um negócio interessante para ele, elabora um processo por dívidas no valor de 1.500,00 €, já com juros de mora e IVA incluídos, não comunica nada a ninguém e vende o apartamento em hasta pública através do leiloeiro amigo por 30.000 € e ninguém sabe onde param os 28.500,00 sobrantes, para além de um e outro nunca terem visitado o bem a penhorar?
Uma coisa que me faz abrir a boca de espanto é a justificação policial de que não podem arrombar portas porque correm o risco de ter de pagar uma porta nova à pessoa lesada... mas é mesmo preciso arrombar portas? não haverá em qualquer cidade um cadastrado que saiba abrir fechaduras sem as estragar e que seja do conhecimento dos polícias? ou até mesmo um carpinteiro da escola antiga, já para não falar da conhecida "casa espanhol" em Torres Novas, onde não havia segredos nem para chaves nem fechaduras.
Como se comprova, esta possível tese de mestrado ou mesmo doutoramento, que no caso em apreço bem poderia ser "doutoramento deshonoris causa" só teria um inconveniente... ninguém está livre de aparecer mais uma augusta senhora morta na sala da cozinha há 35 anos, o que retiraria muito do valor do tema anteriormente descrito.
Mas na verdade, porque haveriam estas notícias morbidas de ganhar tanto relevo na comunicação social, quando todos os dias somos confrontados com mortandades não apenas físicas, mas tantas vezes sociais e políticas que reproduzem mortos-vivos, caídos na cozinha da indiferença muitos anos antes de podermos enterrá-los sem pompa nem circunstância.
Lembrei-me agora deste governo que nos vai matando a cada dia que passa, que alguns dizem vivo, outros eternamente moribundo e outros ainda morto e malcheiroso desde há quase seis anos, com a particularidade de rejeitar sistematicamente a denúncia de vizinhos queixosos, as investigações das polícias especializadas em fraudes freeportianas ou ilegais arrombamentos de salários.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ENCAIXAR

Encaixar - ajustar, meter à força, proporcionar situação, emprego, penetrar, entrar sem custo... o que vale é que temos sempre à mão o grande diccionário da língua portuguesa, o tal que nos tira todas as dúvidas, mas sempre em vias de desactualização porque a vida é composta de mudança e o papel impresso tem essa desvantagem. Tudo isto porque "encaixar", diz o diccionário, é sinónimo disso tudo que descrevi atrás, mas não o é de "meter na Caixa... Geral de Depósitos" e nos tempos que passam a malta lembra-se logo dos vinte seis membros de governo e deputados que, depois do sacrífício na causa pública, foram encaixados na Caixa Geral de Depósitos desde o 25 de Abril até aos dias de hoje.
Depois de termos encaixotado todos aqueles mamíferos que ao tempo da "revolução dos cravos" se abotoavam com esses cargos nas grandes empresas privadas e, sublinho, privadas, tivemos a feliz ideia de nacionalizar e distribuir pelos filhos e netos da democracia os lugares onde se manda e com responsabilidade diluída pelos porteiros e recepcionistas.
Quando olhamos para trás e nos lembramos que eles não queriam nada com monopólios, com qualquer tipo de ditadura, com os ricos especuladores, com os jogos baixos e sujos e hoje estão todos "encaixados" na Caixa, ou "emGALpados" , ou "EDPados", ou "TAPados", ou "emBANCAdos"... começamos a pensar que já não há solução.
Encaixar é o que está a dar e o problema não é o facto de já estarem uma centena ou duas encaixados, o verdadeiro problema é que daqui por uns anos não há empresas que cheguem para encaixar tanta gente que vai saindo do governo e da assembleia, embora saibamos que têm sido criadas muitas empresas públicas e municipais.
O mais grave disto tudo é que existem ainda cerca de 9 milhões e tal de portugueses com a ilusão de que ainda vai sobrar para eles um lugarzinho nessas administrações e entretanto vão votando naqueles que provavelmente não vão acabar com a mama nos próximos cem anos, iludidos com umas boas acções a 140% ao ano, umas casinhas no Algarve com vizinhos tão bem estabelecidos como o Oliveira e Costa ou o Dias Loureiro ou umas reformas para compensar o facto de terem nascido.
Esta chatice da "Constituição" obrigar um mísero presidente da República a só poder estar no poleiro dez anos é uma afronta à liberdade dos cidadãos, até porque se não houvesse limites de mandatos, como o sr. Jardim, estou convencido que o Kadahfi e o Ben Ali eram uns aprendizes de democratas, com os seus 40 anos de poleiro... nós tinhamos quem fizesse melhor, até porque o sr. Silva disse várias vezes que neste lugar é necessário ter muita experiência... como o democrata do Zimbabué, talvez...
Eu sinto este espírito republicano dentro de mim, sei lá... mas acho que esta brincadeira da República está a deixar-nos no fundo, uma vez que se antes tínhamos de sustentar um rei, agora já estamos a sustentar quatro presidentes e ainda bem que são dez anos a cada um, porque já podíamos estar neste momento a sustentar oito... tudo isto porque no íntimo de cada um dos dez milhões de portugueses continua acesa a esperança de que algum dia lhes toque a eles, ou aos filhos ou netos uma presidênciazinha.
- oh pá, lembras-te do Aires Rodrigues, um que foi deputado do PS e que quando se chateou com a aldrabice dos camaradas, saiu e foi trabalhar, ou melhor, encaixou-se na cabine do camião, como motorista de pesados?
- lembro, sim... acho o homem honesto...
- achas? então está bem...
E nestas coisas, é tudo como no "euromilhões", há sempre um a ganhar e os outros que se lixem.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O MEU VOTO

Vêm-me à memória coisas interessantes sobre eleições... um dia, ou melhor, um princípio de noite de um dia que não sei precisar do ano de 1969, vinha eu a sair da escola industrial quando vejo uma carrinha de uma empresa onde o meu pai trabalhava e que se situava na estrada de Tornada, em Caldas da Rainha, cheia que nem um ovo, a transportar pessoal para um comício da oposição democrática, o qual se iria realizar no cine-teatro Pinheiro Chagas, na outrora inconfundível "praça do peixe". Ao volante ía o meu pai, que eu nunca tinha associado a qualquer tipo de oposição a não ser ao seu Benfica que... também nesse tempo não tinha oposição e talvez por isso era associado ao regime, uma vez que todos os que ganham são normalmente associados ao regime.
No final das eleições o meu pai teve o cuidado de me chamar para me dizer que eu nunca o tinha visto a conduzir carrinhas do Bento, acho que era assim que se chamava a tal empresa da estrada de Tornada, o que eu entendi perfeitamente.
Entretanto o tempo passou e em 1973, já professor, recebi no café "Facho" o envelope com a lista da Acção Nacional Popular, para ir votar, porque os funcionários públicos tinham o privilégio de receber pessoalmente a lista do regime... perguntei em voz alta o que era e para que servia ir votar se ganhavam sempre os mesmos, o que me valeu uma pública reprimenda de um apaniguado, já falecido e que afinal até era boa pessoa.
Conta-se até que o pai dessa pessoa tinha sido sempre um fervoroso opositor ao regime, dando aos seus filhos nomes de figuras gradas do regime soviético, o que decerto lhe trouxe alguns problemas.
Logo apareceu o "25 de Abril", a tal alvorada de liberdade, desenvolvimento económico, social e cultural, que nos deu excelentes políticos, excelentes banqueiros, excelentes economistas e muitos outros excelentes intérpretes que levaram o país a níveis tais de desenvolvimento que, ouvi há dias, só a Venezuela e a Somália estão piores que nós, aventando-se a hipótese de Timor-Leste nos emprestar dinheiro para pagarmos a quem devemos.
Pois nos últimos 37 anos, depois de tanta cruzinha nos boletins de voto, depois de milhares de toneladas de papelinhos, cartazes, prospetos, confetis, discursos, palestras e jantares de apoio e desagravo, aí temos mais umas eleições presidenciais onde o presidente quer ficar mais uns anos e não fica o resto da vida porque a Constituição não deixa, onde outros candidatos se candidatam para tentar preencher o seu ego e o dos companheiros, camaradas e amigos e onde de vez em quando aparece um candidato tipo "mosca", capaz de chatear o poder instalado.
Agora aparece um candidato como Fernando Nobre, que não recebe do Estado, não faz parte de nenhuma parceria público-privada, não tem amigos na SLN, não faz parte do mundo do futebol, não tem revistas nem jornais e cúmulo dos cúmulos, arranjou uma ONG que trata de vítimas de conflitos, guerras ou acidentes naturais, vive de donativos de pessoas e instituições privadas. Depois, a cada ano tem a coragem de apresentar contas, o que num país como Portugal, se não dá prisão... devia dar.
Mas eu conheço minimamente o povo a que pertenço e sei que Nobre vai ser um fracasso, porque quando escolhe, o povo escolhe e identifica-se com algo ou alguém que lhe diga "eu fiz isto e vc pode ser como eu"... agora digam-me, quem não quer receber três boas reformas, mesmo com a mulher a receber uma quarta reforma de apenas dois salários mínimos? e quem não quer ser deputado e poeta? e deputado nacional? e deputado regional?
Agora fazer cirurgias gratuitas, dar umas refeições a quem tem fome, fazer peditórios, arranjar um abrigo para quem não tem nada, moralizar a sociedade... vc quer?
Votar é, concerteza, um acto nobre! eu também acho.

domingo, 9 de janeiro de 2011

A DONA BRANCA DO REGIME

Ao longo dos anos em que me fui, mal ou bem, construindo, sempre tentei ouvir os outros, mas também com um pouco de teimosia fui construindo o meu mundo pela minha cabeça, não aceito o fatalismo assim como nunca dei poderes a ninguém para que falem ou ajam por mim.
Hoje ouvi pessoas candidatas à presidência da República falar dos portugueses e em nome dos portugueses, sobre tudo o que os portugueses precisam e até sobre o que os portugueses pensam, ou seja, aqueles que andam no poder ou lá perto sabem tudo ou quase tudo sobre os portugueses, mas eu desconfio que eles apenas têm medo que os portugueses saibam tudo ou quase tudo deles e assim sendo, usam a táctica "Valentim Loureiro" e chutam para a frente, no sentido de fazer o povo esquecer o passado em que já chafurdam há mais de 30 anos, com os resultados desastrosos já conhecidos.
Quando eu era miúdo lembro-me que no café onde ía com o meu pai, apareceu um dia o "katequero", um jogo que há bem pouco tempo se chamou de "jogo da bolha", ouvi com atenção o "regulamento" do jogo e concluí em voz alta que era aldrabice, o que face à minha idade, 11 ou 12 anos, não me livrou de uma galheta. Todavia continuei a pensar que era aldrabice, que havia uma maioria de jogadores que iriam ser roubados e algum tempo depois alguns dos lesados deram razão ao miúdo.
Uns anos depois, já adulto jovem vi um amigo a vender acções, corria o início dos anos 70, que se compravam e vendiam diariamente no café Pérola e que dava sempre lucro... até que o 25 de Abril e esses "malandros" dos comunistas, fizeram desses papéis e dos títulos da Torralta, um novo design de papel higiénico, papelinhos esses dos quais desconfiei porque davam logo 10% à cabeça e mais 10% pelo corpo todo, ou seja, por cada ano de aplicações.
Cresci mais um pouco e tive a oportunidade de viver a era "D. Branca", onde os aficcionados do golpe eram premiados com 10% ao mês, prémios que os primeiros aderentes recebiam relativos às aplicações dos segundos aderentes e por aí fora, numa moderna versão do "katequero" e da história da "árvore das patacas".
Depois de pensar que já estava tudo visto, no que diz respeito a "economia e finanças", o fim do ano presenteou-me com mais um jogo legal, perfeitamente legal, porque os outros é que eram ilegais e contrários aos bons costumes... então não é que o ex-primeiro ministro, licenciado em finanças por uma universidade pública portuguesa e com mais uns pózinhos numa universidade inglesa, o candidato à presidência da República Cavaco Silva, não estranhou, nem sequer pestanejou ao receber na sua conta bancária uma verba choruda, com juros de 140% ao ano, quando os juros de depósitos estão quase nos 0% e as acções vão descendo de valor a cada dia que passa?
E lembrei o comentador Marcelo Rebelo de Sousa...
- Mas pode ganhar 140% numa aplicação a um ano?
- Pode...
- Mas todos podem?
- Não!
- Mas quem é que pode?
- Não sei...
- Mas é legal?
- É...
- Mas esse juro não será demais?
- Talvez...
Depois de muito pensar, depois de saber que vou sofrer uma redução de salário (cá em casa são dois, marido e mulher), depois de saber que é legal ganhar 140% numa aplicação a um ano (lá em casa também foram dois, pai e filha)... já sei em quem vou votar, porque se dá para eles um dia há-de dar para mim... ou vou pensar, como sempre pensei, que isso é tudo aldrabice?