segunda-feira, 19 de abril de 2010

COM QUE ENTÃO MANSO...

Aquela infeliz tirada do Dr. Louçã, mais parecido com o camarada Louçã do PSR do que com o Secretário, Presidente ou o que quer que seja do Bloco de Esquerda, ao afirmar que o primeiro-ministro estava mais manso, deu-me um "bac" no coração, deixou-me os cabelos do peito firmes e hirtos, fez-me até responder alto e bom som que "manso é o teu paizinho, oh pá!".
Felizmente que o meu desabafo foi feito em privado e assim sendo poderei na próxima continuar a dizer mal do engenheiro Pinto de Sousa, sem que me caiam os parentes na lama, assim como posso nutrir simpatia pelo Bloco de Esquerda sempre que me apeteça e ultimamente menos vezes que as que eu próprio pensaria.
Com tudo isto espero não ser alcunhado de monárquico, reaccionário, ou marialva, apenas porque ao ouvir "manso" associei a palavra a corno, encornado, boi, tourada e outros sinónimos que não tinham nada a ver, mas isso só verifiquei quando abri o diccionário da língua portuguesa e fui obrigado a engolir em seco... afinal "manso" é apenas "calmo", "sossegado", "pacífico" e "domesticado", o que me obrigou de imediato a reconsiderar na apreciação infeliz que fiz do camarada Louçã, pessoa que eu não consigo associar a expressões menos ortodoxas ou pouco académicas como dizia o Alves dos Santos ao comentar os resumos do Domingo Desportivo há uns, bastantes, anos atrás.
Andei pela net, abri blogs, li comentários e só posso dizer que a maioria do pessoal também entendeu o comentário do Louçã de uma forma machista, marialva e como alguns diziam à moda do Porto "manso é o teu pai, ó c........!", sendo que só um tal Daniel Oliveira tinha entendido que o chefe não poderia nunca relacionar o "manso" com dislates desta natureza, até porque eles estão muito mais virados para a defesa das minorias como os casamentos e a adopção "gay", os parques naturistas a 25 metros das habitações, a defesa dos animais (toiros mansos incluídos), as loiras de olhos azuis ou a deputada que vive em Paris e que felizmente não declarou residencia nas ilhas Seichelles (ah não é do Bloco? então desculpem lá qualquer coisinha...).
Pois é, eu não devia dizer isto porque me conhecem das manifestações, de ser sócio do sindicato há 35 anos, mas é por estas e por outras que eu gosto de me sentir livre, de dizer o que me apetece, de ter ido uma vez a um jantar do Manuel Alegre para lhe pedir um autógrafo (o único autógrafo que pedi na vida), num livro de poemas que ele escreveu e eu devorei em pouco tempo e agora apoio Fernando Nobre e com esse voto dar testemunho de um trabalho notável realizado por um homem livre.
Mas também livre de me sentir incomodado com o desabafo "manso" do deputado Louçã ao primeiro-ministro Sócrates, sejam quais forem os erros que o homem tenha cometido, porque também neste aspecto haja quem mande a primeira pedra... ou o camarada estava a pensar que ainda lá andava por perto o Manuel Pinho?

terça-feira, 6 de abril de 2010

MEXIAS, MEXIAS...

Não sei porquê lembrei aquele sketch publicitário onde um grupo de jogadores de futebol afirmava alto e bom som "fazias, fazias...", depois de um episódio onde se lembravam dichotes relativos a más prestações desportivas, como aqueles falhanços de baliza aberta, com os tais comentários que a malta gritava, parecidos com "até a minha avózinha marcava", ou "marcava com uma perna às costas", assim como "essa, até de olhos fechados".
Na verdade tudo nos parece fácil quando estamos um pouco afastados da coisa, na esplanada, na praia ou mesmo na bancada atrás de uma das balizas, mas tudo tem a sua dificuldade, ou ainda há facilidades em alguma área que desconheço? mas é lógico que tudo na vida se torna mais fácil se todos pudessemos "fazer" uma licenciatura ao Domingo... - fazias, fazias! ou se todos pudessemos ser deputados em exclusividade e pudessemos "fazer" uns projectos de borla aos amigos... - fazias, fazias! ou se pudessemos estragar os computadores da assembleia, batendo com a tampa no aparelho, numa atitude de fazer saltar a tampa a qualquer um... - fazias, fazias! ou "fazer" administradores de empresas publico-privadas com vencimentos, prémios e bónus de milhões de euros anuais... - fazias fazias!
Aqui, não sei porquê, o coração bateu mais forte, o que não sendo bom, sempre é melhor do que se parasse, porque me lembrei do tal Mexia, administrador de sucesso, numa empresa de sucesso, nomeado e louvado por um governo também ele de sucesso, que justificou todos os milhões de euros de vencimentos e prémios com a decisão dos accionistas, Estado/governo incluído, com a magnífica gestão desenvolvida, não por quase 12.000 trabalhadores da EDP, mas por ele, Mexia, para onde foi essa maçaroca imensa, que eu simples professor não ganharei juntando esta vida às próximas.
Uma das medidas tomadas por este Mexia é digna de um dos próximos compêndios de gestão, porque "o preço da electricidade em Portugal, no ano de 2010, vai sofrer um aumento superior à inflação, porque os consumidores pouparam no consumo e é necessário manter os níveis de receita da empresa", o que quer dizer que este Mexia sabe fazê-las... até um dia em que as pessoas se fartem destes administradores de empresas-monopólio que os democratas abominavam no tempo da "outra senhora", quando se lembravam de Alfredo da Silva, do Tenreiro do bacalhau ou do Champalimaud daquém e dalém mar...
Afinal com outros a "mexerem" e a repartirem os chorudos lucros de empresas ainda nas mãos dos amigos e conhecidos deste e de outros governos da democracia, onde se vão tapando os buracos com a venda de alguns lingotes, sobras dos "estado novo" e a privatização de tudo o que o tal "maluco" do Vasco Gonçalves deixou para estes esclarecidos democratas venderem ao desbarato.
Assim também eu mexia nisto... - "Mexias, Mexias!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

ANSIEDADES

Estive a ver um daqueles programas de tv "leves", onde actores consagrados, estrelas de cinema e realizadores são convidados a falar um pouco das suas vidas profissionais, dos projectos, do trabalho tantas vezes exuberante, feito de efeitos especiais, revistas e entrevistas que na maior parte dos casos não reflectem a sua personalidade, mas essencialmente a personalidade das pessoas a que dão corpo.
Foi interessante saber que há muita ilusão em cada bobine, em cada "take", estrelas substituídas por duplos quase anónimos, vozes que nem são as deles quando o guião os obriga a cantar e eles não sabem, personagens que vão do afastamento inicial e de quem no final não se conseguem libertar, meses de ensaios, vivências, cumplicidades e paixões que geralmente acabam quando se fecha a tenda das filmagens e vai cada um para seu lado...
A certa altura um actor de cinema é confrontado com a jornalista, que o galanteia e lhe diz de viva voz que ele é lindo e genial, fica vermelho como um garoto de 13 anos depois de dar o primeiro beijo à colega de turma, baixa a cabeça e diz-se envergonhado, ele que já recebeu dois "óscares"...
- Desculpem, eu continuo a ter dentro de mim a mesma vergonha juvenil, os mesmos medos e a mesma ansiedade...
Disse que sempre que começa uma filmagem a ansiedade volta em força, sempre vem o medo de esquecer o guião, sempre aquela tremideira de poder falhar, mesmo que tenha o texto decorado com vírgulas e tudo.
Lembrei-me de tantos colegas meus, só para não dizer que me lembrei de mim mesmo, sim, daquele medo que é cada aula, mesmo sabendo-me capaz de abordar tudo o que fui fazendo ao longo de dezenas de anos, sei lá, a possibilidade de um miúdo se machucar, partir a cabeça, fracturar um pulso, ter um acidente mais grave que eu não consiga controlar, como todos os dias acontece em todos os lados... é mesmo verdade que a ansiedade me aparece a cada aula, a cada dia, mesmo sabendo que a possibilidade de esquecer o "guião" é ínfima.
E também sei que a possibilidade de os mais novos professores criarem laços com os colegas e alunos, para no fim de cada "filme/ano" fecharem a tenda e refazerem novos laços em novas escolas/cidades, sabendo-se quanto custa criar uma amizade nos tempos que correm e quão difícil é reinventá-las em cada ano em lugares diferentes...
- Essa cara não me é estranha... escola X?
- A tua também me é familiar... mas escola X não...
- Pois, sabes, nos ultimos 10 anos estive em 20 escolas...
As semelhanças entre uns e outros são mais que muitas sim, mas eu acho que a única diferença entre actores e professores não é mesmo o que uns e outros ganham, mas exactamente a forma como os actores são pintados para as filmagens e a forma como os responsáveis pintam os professores.