segunda-feira, 28 de setembro de 2009

THE WINNER IS...

Como é de calcular, estive vinte dias sem escrever uma crónica, não que não me apetecesse, mas era altura de campanha, entrevistas na tv, arruadas, acasadas, pavilhoadas, canetas, bandeiras, barretes, perdão, bonés e não deram chapéus de chuva porque nunca mais chove... é verdade que parecendo interessante não deixa de ser uma real seca e qualquer dia aquela taxa que um governo mandou pagar através da factura da luz, por causa da seca continuará "ad eternum" chova ou faça sol e talvez em 2010 sofra um aumentozinho.
Claro que não ia fazer crónicas que, na pior das intenções poderia sugerir, indicar, insinuar ou até mesmo esmiuçar um voto no meu partido, no meu salvo seja, que não tenho nenhum, só pago quotas para o sindicato e para o clube, para este porque gosto e para aquele porque comecei a pagar há quase quarenta anos e depois uma pessoa habitua-se...
E não escrevi porque não me apeteceu mesmo, é escusado estar para aqui a arranjar desculpas, até tinha pensado dizer que tinha andado na campanha pelo país, de bandeirinha por festas, mercados, ruelas de bairros sociais e pavilhões desportivos, misturado com apoiantes que trazem sempre uma bucha na bagageira, mas não, não me apeteceu mesmo... e o que é que os meus amigos perderam com isso, ou pelo contrário, o que é que ganharam com isso? acho que eles não andam aqui a perder tempo lendo estas crónicas, para depois as classificarem como vitória ou derrota, perca ou ganho de tempo, ao contrário dos partidos, que na noite eleitoral apenas resumem os votos a uma vitória, seja ela extraordinária ou ordinária.
Olhei para os números e cheguei à conclusão que 2 (dois) em cada dez eleitores elegeram o novo governo, o que não sendo uma conclusão ordinária, é uma vitória extraordinária, como acentuou o vencedor, é mesmo extrordinário que apenas dois portugueses num grupo de dez façam uma maioria vencedora, vá lá saber-se como, mas isto da estatística é uma ciência de alto lá com o charuto.
Então no tal grupo de dez amigos, 4 deixaram-se ficar nas lonas e mandaram o escrutínio às ortigas, 2 votaram no governo, 1,5 foram pela oposição, 1 alinhou pela esquerda, 1 pela oposição de direita, 0,5 pela outra esquerda... e aqui damos conta da vitória extraordinária!
Tão poucos votaram no governo que as bandeirinhas acabaram por ser mais que os militantes na festa e uma grande manifestação de vitória teve de ser cancelada porque tirando a tv, os jornalistas e a mulher da limpeza, não estava lá ninguém no Largo do Rato... "olha lá, tu és rato..." ouvi logo de seguida num anúncio televisivo.
Ainda queria viver o suficiente para num grupo de 10 eleitores, estarem 9 na praia e um a festejar o governo do qual seria presidente, tesoureiro e quarto-secretário, como o Nacib da "gabriela, cravo e canela"... tenhamos calma que tudo será extraordinário, como a vitória deste governo.

domingo, 6 de setembro de 2009

EU E OS HETERÓNIMOS DE MIM...

Sem querer, sem saber, sem que fizesse o que quer que fosse para o saber, porque todos sabemos que alguém mandou escrever nas pedras "felizes os ignorantes, porque deles será o tal reino...", só não sei se serão vários os reinos, catalogados em função do nível de ignorância de cada um dos membros, mas convém que sejam vários os reinos para que existam várias cortes, variadíssimos estratos do mais elevado ao mais raso nível de ignorância.
Julgava-me eu sujeito apenas ao "juízo final", capaz de ser catalogado em função dos regulamentos, decretos e despachos ordinários e extraordinários emanados da corte suprema a que qualquer mortal não terá o mínimo acesso, nem a menor possibilidade de alterar os dados do computador total que paira acima das ultimas galácias, talvez até nalgum buraco negro, pois julgava-me eu assim mesmo, quando sou confrontado com análises mais terrenas e por isso muito mais próximas e sensíveis, capazes de nos fazer parar para pensar, o que nos tempos que correm não é fácil, porque tudo é muito rápido, tudo nos faz andar atrasados porque as solicitações são muitas e a nossa capacidade de análise, ou a tal ignorância de que falei acima não nos deixam pensar um pouco mais profundamente sobre o que somos, o que queremos e para onde vamos...
Tudo isto a propósito de ao longo dos anos ter sido confrontado com elogios e críticas, o que na verdade me leva a pensar que pior teria sido passar pela vida sem que ninguém se apercebesse que eu tinha andado por aqui, mas há críticas e críticas, aquelas que na profissão, na família e na sociedade nos fazem crescer e aquelas "qualidades" que, se calhar transportamos connosco desde que nos conhecemos, fazem parte do nosso código genético e nem nos apercebemos que às vezes incomodam quem não tem mais nada para analisar e ocupa o seu precioso tempo olhando os outros...
Sempre pensei que o homem nasceu livre, despojado e titular de livre-arbítrio, capaz de crescer e transmitir a si mesmo e aos outros os traços gerais do meio em que se insere, condições básicas que procuro manter num nível elevado, mas como humano que sou, também reconheço que tenho limites e não aceito de ânimo leve algumas críticas que, se algumas vezes "deleto" e passo à frente, noutras ficam aqui dentro e fazem mossa.
"ah não sabia? em casa pode ser uma maravilha, mas aqui é uma fera... quando está mal disposto ninguém o atura... mas o melhor é nem responder que passados uns minutos volta a ser simpático."
" sinceramente, com aquele feitio... como é que vc o aguenta?"
" humm olhe que ele é muito simpático, deve ser muito interessante viver com ele... às vezes são muito simpáticos e depois em casa são do piorio..."
Quando eu era pequeno, lembro-me do meu avô Manuel estar toda a manhã a ler o Diário de Notícias junto da janela da sala, virada para o sol e a rua, com a maior calma do mundo e sem uma única palavra, um comentário, uma observação... eu chegava em bicos de pés, sem um único barulho perturbador, beijava o "velhote" e saía de mansinho porque enquanto ali estivesse a leitura não fluía conforme a norma.
Hoje não posso, o espaço é de todos, os muitos canais de tv saltam uns por cima dos outros a cada minuto e nem pensar em dizer que aquela programa estava a ser interessan... que já lá vão mais 17 canais salteados, o jornal vai-se lendo aos bochechos entermeados por conversas sem jeito, telefonemas e mensagens e o espaço de cada um é cada vez mais o espaço de todos.
Criou-se a ideia "pós-moderna" do homem sem segredos, a saída semanal do namoro do "jet-set" e do divórcio do "jet-dezassete", acha-se impensável que um político não apresente à sociedade a família até à quinta geração e é sinal dos tempos modernos que as relações não têm segredos e que todos devem saber da vida de todos, para além de todos se sentirem no direito de analisar e julgar o amigo, namorado, marido, família, com um remate final no vestido da Michelle Obama que de tanto sair na "nova gente" também já faz parte do círculo (circo) crítico.
E a vida de cada um? os estímulos, os desejos, a imaginação, os objectivos que quase sempre acabam por não se alcançar, os sonhos que no dia seguinte já não se lembram, os segredos que não se contam, as fragilidades que se escondem, os pontos fortes que são apenas de cada um de nós, os gostos que são tão diferentes, haverá lugar para eles fora do conhecimento dos agentes da "pidesca coscuvilhice" que nos cerca?
Por algum motivo Drumond de Andrade nunca autorizou que os seus poemas do "amor natural" fossem à estampa enquanto foi vivo, ou que muitos outros tivessem deixado na gaveta os seus segredos, ou os tivessem transportado consigo...
Na década de setenta lembro de um título de um filme "Vive e Deixa Viver", a que a malta nova costumava acrescentar "... e não chateies!", para além de um velho dito que caiu em desuso "quem está, está, quem vai, vai!", o que de certa forma deveria continuar actual, acompanhados do "amigo não empata amigo!", mas o século XXI está a tornar-se o "tempo do mexerico", a era do "big brother", do "voyerismo", da prática do "sabias que...?" e quando isso começa a fazer parte da mobília as coisas começam a ficar sem luz ao fundo do túnel, como diria o "camarada Mário".