segunda-feira, 31 de agosto de 2009

TROCAS E BALDROCAS...

Agora que se aproximam as eleições, sejam elas quais forem, autárquicas, legislativas ou regionais se dermos tempo a certos figurões, dei-me conta de novos-velhos episódios de "transferências" partidárias ou tão somente "transferências" opinatórias... não sei porquê esta do opinatórias, mas talvez tenha a ver com o Pina Moura, é isso, o Pina parece que deu um pinote igual aqueles que o Nani executa quando marca golos pelo Manchester United... ah até quem já proponha o Nani na Assembleia da República porque flic-flacks e cambalhotas é com ele.
Uma vez elegemos o Simões para a Assembleia, logo a seguir ao 25 de Abril, o Simões do Benfica, campeão europeu, se calhar a pensar nas fintas que o homem fazia quando era extremo-esquerdo, mas parece que o colocaram na extrema-direita e o homem foi-se embora na primeira oportunidade que apanhou... tivesse ele a habilidade do Pina Moura para entrar pela esquerda e só parar na direita (está quase, está quase) e hoje estaria a colocar protector solar no Algarve com uma reformazinha adequada.
Mas o título é mesmo "trocas e baldrocas", capaz até de ser produzido pela Endemol num qualquer concurso televisivo de um dos vários e igualzinhos canais de tv que temos, tão antidepressivos que me fazem dormir em cinco minutos, cobrindo-me de ridículo quando oiço alguém ao meu lado a perguntar "viste? viste?" - é claro que vi, então estou aqui na frente da televisão para quê?
Mas era um bom projecto, todos os dias eram seleccionados vários telespectadores que apresentariam um político que dissesse o contrário do que já alguma vez tivesse concluído, sei lá...
- dou o Pina Moura à troca, trocou o PCP pelo PS só para não ter de descontar no vencimento de deputado as alcavalas que ficavam no partido.
- eu troco o Isaltino do PSD pelo Agrupamento Eleitoral de Oeiras "vamos Isaltinar!", só para ridicularizar o Marques Mendes.
- volto a trocar o Pina Moura, que trocou o PS pelo programa de governo do PSD, dizendo que este é que é bom para o nomear na administração de uma empresa pública...
- troco por qualquer coisa que valha a pena, sei lá, a Bárbara Guimarães pela Zita Seabra que veio do Comité Central do PCP para deputada do PSD, na maior cambalhota do século XX.
- Já não tenho muitos trunfos para trocar, mas avanço com o Freitas do Amaral que depois de ser chefe do CDS, acabou ministro do PS e não se sabe ainda onde vai acabar...
- Humm acho que vou ganhar o concurso, calhou-me a biscar e saquei o jocker... então não é que mandei para a troca o Durão Barroso que trocou o MRPP pelo PSD e já vai na presidência da Comissão Europeia?
- Está bem, estás com bom jogo, mas ainda tenho aqui o Mário Lino "Jamais" que além de trocar o PCP pelo PS ainda trocou a Ota por Alcochete e já prometeu trocar o TGV pelo electrico da Praia das Maçãs, se o chatearem muito.
Bem, o melhor é ficarmos por aqui, senão ainda faço uma crónica maior que as Páginas Amarelas e a Teresa Guilherme não ganha dinheiro suficiente para produzir e manter um concurso destes nos 12 episódios que habitualmente se contratam... já lhe disseram até que um concurso destes dura em "prime-time" mais que qualquer julgamento da Casa Pia e a malta já não tem pachorra.

domingo, 30 de agosto de 2009

MEDALHAS DE OURO...

Nestas coisas das medalhas de ouro, há-as de todos os feitios, modelos e paladares, desde os Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e afins, assim como do Estado, Governo, Câmaras e Juntas, para além de clubes, colectividades e associações, das mais exóticas às mais formais, até porque se há gente disposta a galardoar, parece que há muitos mais a querer receber, até porque medalhas, comendas e prémios dão sempre jeito no currículo, se mais não fôr para ajudar a compôr o dossier que na velhice renderá um qualquer subsídio como aqueles "da liberdade" que até o Palma Inácio recebia por ter gamado uma fortuna na Figueira da Foz.
Isto tudo a propósito de uma tal "medalha de ouro" da cidade de Santarém, proposta, aprovada e aplicada pelo bem conhecido presidente de câmara, escritor, telecomentarista e ex-inspector da judiciária Moita Flores, na pessoa do primeiro-ministro, secretário-geral, ex-ministro e engenheiro civil José Sócrates que não tendo mais nada que fazer, foi até Santarém com a comitiva receber tão importante prebenda, aproveitando para elogiar o independente eleito pelo PSD, agora apoiante do PS nas legislativas e candidato do PSD nas autárquicas, onde votará em consciência, porque o homem pode até parecer parvo, mas não é burro.
Mas eu só queria saber onde, como e quando se podem propôr medalhas de "ouro" e onde, como e quando nos devemos sentir no direito de as exigir... acho que se até para fumar já há lei que estabelece onde se pode fumar e em que condições, porque não uma lei que nos informe quando é que uma medalha de "ouro" pode ser atribuída, porque depois ainda temos as de "prata" e as de bronze. O facto de não haver um conjunto de mandamentos que organize e estruture a entrega dessas medalhinhas leva até que elas só se entreguem quando o tal presidente, seja ele qual for, se lembre e proponha, vote a favor e entregue a "coisa", porque haverá sempre um fotógrafo e um boletim informativo a perpetuar a cerimónia.
Nestas coisas de medalhas de "ouro, ou "medalhas de ouro", como queiram, encontrei algumas curiosidades, como por exemplo, a câmara municipal do concelho onde resido ter atribuído a "medalha de ouro" a um clube desportivo em 1970 e ter voltado a atribuir nova "medalha de ouro" ao mesmo clube em 1995, tudo levando a pensar que um ano destes volte a fazer o mesmo, o que pressupõe que não há um livro de registos adequado que possibilite saber quem recebeu e o que recebeu... neste caso, até com o facto extraordinário de as medalhas não serem de ouro. Então faz-se figura com as tais "medalhas de ouro" e depois aquilo não vale a ponta de um corno?
Também um dia me foi atribuída a responsabilidade de gerir um clube desportivo, onde me mantive três anos, tendo verificado que também aí as pessoas com 50 anos de sócio (cinquenta anos!!!) eram anualmente contempladas com um emblema de latão dourado e os com 25 anos de sócio recebiam um emblema de latão prateado, tudo isto dentro daquela nacional parolice que satisfazia toda a gente por meia dúzia de patacos. Claro que os emblemas de ouro e prata verdadeiros começaram a fazer parte da vida do clube, mantendo-se durante esses três anos e espero que o hábito se mantenha por muitos e bons anos, até para dignificar quem os entrega e quem os recebe.
Mas voltando ainda ao presidente da câmara Moita Flores, não somos contra a entrega de medalhas de ouro, porque haverá sempre alguém que por um desempenho acima da média e a favor da comunidade, mereça uma especial referência, mas não haverá no meio dos comentários televisivos, dos livros escritos como quem come tremoços à saída da missa ou das reuniões de câmara e das cerimónias das medalhas outros interesses que nós não vislumbramos?
Bem, ficamos à espera que esta burla das medalhas douradas acabe... ou será que quem as recebe não tem qualidade suficiente para merecer medalhas das verdadeiras?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

FÉRIAS? AHHH FÉRIAS...

Não estou na minha melhor fase, ou alguém esperava que no final das férias de Verão alguém no seu perfeito juízo estivesse bem? acho que as férias deviam acabar, quer dizer, o conceito de férias deveria continuar, as férias na realidade deveriam existir, mas de uma forma diferente... esta treta das férias num determinado período do ano para quase toda a gente está a tornar-se insuportável... as férias onde quase toda a gente vai para o mesmo sítio ou para vários sítios fazer o mesmo e a certa altura já vai à praia, não como algo que lhe dá prazer, mas como um castigo que tem de cumprir diariamente porque pagou o hotel ou o apartamento não foi para ficar a dormir na cama até lhe apetecer, o que seria impossível até porque as crianças já têm os baldes na mão e a toalha ao pescoço.
Não sou contra, cada um deve preencher estes dias da forma que lhe der mais jeito, ou da forma que a mulher e os filhos deixem, mas não era isso o foco da crónica, as férias só deviam existir como objectivo, nós sabemos que temos umas férias em cada ano, mas como li num qualquer jornal, não é o objectivo que conta, mas todo o percurso até lá chegar... era isso que eu queria dizer sim, o que me excita é imaginar as férias, sonhar com as possibilidades de férias, ver aqueles documentários do "travel tv", fechar os olhos e ir até lá seja qual for o "lá"...
Depois são aquelas propostas malucas de ir de bicicleta...
- És parvo ou quê, pá? não vês que já não tens idade para isso?
É verdade, não me posso meter nisso que já não tenho idade...
- Já marcaste as férias para nós, ou já não te lembras?
Pois marquei e como qualquer mortal no seu perfeito juízo, as férias são um mês, mas oito dias de praia chegam e sobram, o dinheiro está cada vez mais caro e qualquer hipótese de ir a outro sítio fica logo manchada ou pela idade, ou pelo juízo que já é pouco ou...
- Já viste o dinheiro que isso custa? saiu-te algum no "euromilhões" e não avisaste?
Mas tudo continua a girar em torno da imaginação de cada um e em relação a umas férias que chegarão dentro de 3 ou 4 meses e aí sim, todas aquelas hipóteses estrambólicas, toda aquela adrenalina que elas provocam isso sim, isso é que são as verdadeiras férias, porque no fim chegamos à conclusão de que...
- Então e as férias?
- ahhh passaram-se...
Ao contrário de tudo isto, guardei uns dias para fazer umas pinturas na casa, o muro exterior, as paredes do telheiro, os pilares... aquilo já estava a precisar de uma camada de tinta branca porque a humidade, a chuva e tudo o resto tinham deixado as paredes com umas zonas escuras, além de que há sempre um período de validade para as pinturas e o meu já tinha sido ultrapassado há meia dúzia de anos. Claro que estas "bricolages" deveriam ter sido efectuadas no início desse tempo de repouso, mas não sei porquê guardam-se sempre para os últimos dias e nada de mais errado, um indivíduo sente-se até culpado daqueles bons momentos em que bebíamos uma cerveja gelada na esplanada, achamos que as paredes até nem precisavam de pintura nenhuma e acabamos as tais férias a pensar que temos dias a mais, que depois nos fazem preencher com trabalhos forçados...
Estou até convencido que a breve prazo vou ter de pedir a redução do tempo de férias... se estas continuam assim ainda meto baixa quando voltar ao emprego.

domingo, 2 de agosto de 2009

DIÁRIO DA MALUQUICE!

DIA 1 - Comecei ontem, 1 de Agosto, com o meu amigo Carlos Marques, a "odisseia do Danúbio" que em cima das bicicletas e durante 15 dias nos levará até Budapeste na Hungria, fruto de um convite de um outro "maluco" das duas rodas, o catalão Josep, imediatamente aceite há uns meses atrás e que só não foi subscrito pelo Miguel, Pedro e João, nossos companheiros de trabalho porque não tiveram juízo, casaram-se, tiveram filhos e agora sofrem as consequências das impensadas atitudes tomadas há uns anos atrás, justificando a impossíbilidade de um qualquer passeio, umas vezes com a dor de cabeça das mulheres, outras vezes com a gripe dos filhos, outras ainda com a permanente falta de dinheiro, coisa que só acontece aos pobres.
Recepção triunfal no aeroporto de Barcelona, depois de uma viagem em que as hospedeiras mostraram e demonstraram porque é que eu gosto tanto de andar de avião, indicando-me as portas de saída, os coletes salva vidas que estão sempre debaixo do banco, mas eu nunca me dei ao trabalho de confirmar e encaram as instruções dadas aos passageiros distraídos como quem bebe um café espanhol.
Chegada a Palamós, às tantas da manhã e com uma vontade enorme de parar na esplanada e beber umas canhas geladas, tal a temperatura tropical que viemos encontrar.

Dia 2 - Abençoado Domingo!

Com uma alvorada marcada para as 11 da matina e depois de um banho retemperador e um desayuno farto e sucolento, fomos na direcção do restaurante onde se comem as melhores paellas da Catalunha, antecedidas de um cocktail de gambas que me deixaram com a impressão de que a crise ainda vem em Marrocos. Num final vigoroso e arrebatador, confrontá-mo-nos com uma "taça catalunha" que chegava para toda a família... infelizmente não consegui dar conta do recado e metade da taça foi devolvida à procedência com a total ângustia e impotência que todos podem imaginar...
Depois de um curto intervalo foi possível iniciar um pequeno treino de adaptação às bicicletas e nem foi difícil perceber que uma leve azia no estômago só podia ser ultrapassada com uns sais de frutas "Eno", uma vez que se avizinhava outra refeição em casa de um amigo e não havia tempo a perder. Lá fomos atacar uma cataplana de marisco que resultou muito bem, a ponto de alguém propor o adiamento da "rota do danúbio" por uns 15 dias de férias nas praias da Catalunha, o que foi pronta e hesitantemente rejeitado, mais por vergonha que por convicção.
E a saga continua...

Dia 3 - A partida

O início do dia foi marcado por uma preparação rápida da carrinha de apoio, com todos os materiais necessários e as indispensáveis bicicletas que, experimentadas no dia anterior, demonstraram uma qualidade e fiabilidade acima da média. Daí, ainda antes da oito da matina já rolavamos pela auto-estrada em direcção à fronteira com a França, papando quilómetros e metendo gasóleo que, fomos confirmando tão caro quanto o nosso, na França como depois na Alemanha, na Eslováquia e na Hungria.

Depois de uma cansativa viagem até Donauschingen, onde o Danúbio parece nascer e digo parece porque com tantas descobertas por aí, ainda não se provou científicamente o definitivo lugar do "olho" do Danúbio... mas a malta do sítio diz que sim senhor, que é ali mesmo que o rio nasce e quem somos nós para não acreditar?

Cansativa a viagem? nem dei para saber, que assim que montei a tenda... adormeci.

Dia 4 - Afinal as bicicletas eram necessárias...

Pois a surpresa foi geral naquela quase madrugada em Donauschingen... as bicicletas foram entregues a 4 voluntários para o início de uma aventura que começava aí, mas ninguém sabia como ia acabar, se é que iria acabar em Budapeste.

Os cálculos dos quilómetros foram feitos através das normais estradas dos mapas de cada um dos países e afinal esta "donauradweg" a tal ciclovia do Danúbio tinha curvas atrás de curvas, entrava e saía das aldeias, ficava perto e afastava-se do rio quando lhe apetecia e até me pareceu que alguns "presidentes da junta" viravam as placas da ciclovia para nos obrigarem a passar por todas as ruas da aldeia.
Ao princípio até achava piada, mas depois começamos a desconfiar... eles queriam era que bebêssemos umas canecas de "wisebier" nas tasquinhas lá das aldeias, o que era para nós um sacrifício, como devem calcular.
O que acontece é que de Donauschingen a Munderkingen demoramos "apenas" 9 horas e 30 minutos, com paragens para "abastecimento" nos mais diversos locais e para um percurso que no mapa tinha marcados 120 kms, pedalamos 156,15 kms com um consumo de 4.228 calorias, atingimos a velocidade máxima de 55,5 kms/h e uma média de 20,1 kms/h.
Agora que estou a ver estes consumos de calorias aqui nos apontamentos é que percebo porque é que me dizem que estou mais magro...
E a saga continua...

Dia 5 - De Munderkingen a Donau Worth

E o dia nasceu tal qual um dia de sol em Albufeira, eu preocupado com o frio da Alemanha que alguns "amigos da onça" costumam chamar a atenção e nem frio nem chuva... apenas me lembrava do impermeável, do polar para as noites frias destas paragens ou do monte de roupa que estavam dentro da mochila e que até agora só estorvavam. Ou era do tempo ou da tenda, o que acontece é que dormia todo nú e mesmo assim transpirava que nem um desalmado...
Então para hoje o mapa marcava cerca de 130 kms, o que pela experiência acumulada nos fez pensar em muito mais, o que se comprovou no cronómetro electrónico, no final de 8 horas e 10 minutos de rabinho assado no selim da bicicleta e 168,8 kms de percurso real. Não levasse eu o meu "apyrol" para massajar as nadégas e teria deitado a toalha ao chão, não porque os amigos estivessem melhores que eu, mas porque já sentia necessidade de um andamento à cowboy, não sei se estão a ver.
A vergonha de desistir ao segundo dia seria a nódoa negra de uma vida de conquistas... e como ia enfrentar o tribunal do gabinete de educação física lá da escola, onde estariam os inquisidores-mor, prontos a acabar comigo em três tempos? não, isso nunca, nem que chegasse a rastejar a Budapeste.
Escusado será dizer que à noite ninguém quis saber de Donau Worth e às 22 horas foi o recolher obrigatório, não por minha vontade, mas ninguém me quis acompanhar para um café numa das muitas esplanadas da cidade.

Dia 6 - Entre Donau Worth e Resenburg

O tempo continuava fantástico, a ciclovia do danúbio estava totalmente sinalizada e o pavimento é plano e liso, convidando a boas médias, então se o vento estava pelas costas ninguém nos segurava, ainda por cima se não era trigo, era milho bem alto a resguardar-nos de algum vento contrário.
Nesta etapa batemos o record de velocidade máxima em todo o percurso, com 50,8 kms/h, num total de 156,92 kms de percurso.
Como é de calcular, o parque de campismo e a tenda foram a tábua de salvação e nem um convite para visitar a cidade fazia sentido nessa altura, pelo que me abstive de o fazer, salvaguardando uma possível tareia como reacção dos meus companheiros de tortura. É que 481 kms em três dias de prova é razão mais que suficiente para uma reacção negativa a qualquer proposta positiva... e amanhã, como vai ser?

Dia 7 - De Resenburg a Passau, mais fácil que saltar à corda!

Apenas 115 kms, sol radioso, esplanadas junto ao Danúbio, vento inexistente, ciclovia melhor que algumas auto-estradas para automóveis, uns companheiros de viagem sempre bem dispostos... que mais se pode pedir ao pedalar na Alemanha profunda que nem a maioria dos alemães conhece? boas e frescas florestas para pedalar, de tal maneira que a média desta etapa foi de 22,5 kms/h mesmo com algumas paragens para repor o stock de líquidos, não que fossem muitas as paragens, porque de cada vez era uma "wisebier" de meio litro, mas sempre se faziam quatro paragens por dia, sim...
Se não estou em erro foi neste dia que perdemos a ciclovia, um falahnço que acontece a qualquer um e que nos fez pedalar por fazendas, montes e vales, de tal maneira que a melhor solução foi pegar nas bicicletas à mão, galgar com elas os rails da estrada para automóveis e fazer umas dezenas de quilómetros até voltarmos a encontrar o percurso das bicicletas. Este percalço também teve o seu ponto alto, quando quase fomos atropelados por uma gazela linda saída de um milharal e que se assustou... era linda, foi a primeira que vi ao natural e ao vivo e a imagem ficou na memória porque não tivemos tempo de sacar da máquina fotográfica.
Se não estou em erro, foi neste percurso que às 11 da manhã, por sugestão do meu amigo Carlos Marques, entramos num pátio de uma casa de campo alemã, apenas porque tinha uma bandeira de uma marca de cervejas na parede... não nos enganamos e encontramos Herr António a varrer a relva da esplanada e colocando as mesas e cadeiras, fumando um cigarro sem filtro, daqueles que não fazem mal a ninguém porque se fizessem o homem já tinha morrido. Também portador da única língua que nenhum de nós entende a não ser ein, zwein, trei bier e dank no final, bebemos mais umas canecas, tiramos umas fotos, dissemos onde ficava portugal no mapa e continuamos a pedalar, que por aquele andamento ainda hoje não tinhamos chegado a Budapeste.

Dia 8 - De Passau a Linz, a transição germano-austríaca por barco...

Outro dia magnífico, onde eu, o Carlos e o Tiago encontramos um anfitrião alemão completamente "português", na tal passagem de fronteira feita por barco, o homem só falava alemão mas por gestos e palavras conseguiu dizer-nos o melhor local de travessia (havia três diferentes), o melhor parque das redondezas, onde a água era muito boa para tomarmos banho, talvez ele entendesse que estavamos a precisar de um bom banho, tirou-nos fotos e fez o favor de se deixar fotografar connosco... de início pensamos que era um de muitos cicloturistas, mas acabamos por concluir que vivia ali mesmo e que a sua vida se resumia a ser um simpático public-relations de fronteira. Obrigado Fritz!
A chegada a Linz foi feita em apoteose, com um belíssimo sprint final ganho por mim, depois de nos últimos quilómetros os meus colegas de infortúnio tudo terem feito para me fazer descolar, o que como calculam me deixaria num plano de subalternidade que eu não aceitei, fui-me a eles como uma sombra e para finalizar em beleza fiz um sprint final que os deixou de rastos. Foi remédio santo, quando eu ia para a frente puxar, sentia perfeitamente que eles tremiam de medo... mas nunca tive vontade de os abandonar, isso não, estavamos ali para resolver as coisas solidariamente e além disso quem levava o dinheiro para os mantimentos eram eles.
No percurso passamos por Lindau, uma cidade alemã simpática onde se iniciam os cruzeiros que levam os turistas até Viena de Austria... enquanto passamos vimos vários barcos a receber turistas e concluímos que um passeio no Danúbio também deve ser muito agradável.

Dia 9 - De Linz a Melk, com passagem por Mauthausen...

Foi um dia de sentimentos, aquele que nos levou à cidade austríaca de Mauthausen, onde de 1941 a 1945 funcionou, num planalto a quatro quilómetros da cidade, o campo de concentração nazi por onde passaram em quatro anos cerca de 200.000 pessoas e onde a maioria acabaria por ser executada de várias e inimagináveis formas. O silêncio do lugar e das pessoas que connosco se cruzaram diz bem da forma como tudo aquilo nos pareceu real, o campo está igual às fotos da época, os lugares de tortura são ali a prova de que tudo aconteceu e para que o ciclo se feche, o ciclo da vergonha que foi tudo aquilo, não se vê na cidade de Mathausen uma única placa a indicar o campo de concentração, que só achamos porque o GPS da carrinha que nos acompanhou funcionou na perfeição.
O dia, que seria de descanso, foi preenchido por um reduzido percurso de 93 kms até Melk, uma outra bonita cidade, não porque não desejassemos descansar, mas talvez dentro de cada um de nós houvesse uma grande vontade de nos afastarmos desse campo de má memória, onde o silêncio pesa como chumbo em cada visitante.
Por isso fomos descansar em Melk, num parque junto ao rio Danúbio, muita floresta, uma catedral esmagadora pela sua grandeza e esplanadas calmas, lindas e com velas acesas nas mesas, o que dá um ambiente deslumbrante a quem chega, apenas com o senão de tanto na Alemanha como na Austria, países desenvolvidos, não termos apanhado rede livre da net, ao contrário de Portugal, Espanha, Eslováquia e Turquia... e todos sabem como eu sou um fã da internet.

Dia 10 - De Melk à deslumbrante Viena...

Se não estou errado, esta etapa foi protagonizada apenas pelo camisola amarela (eu, claro) e pelo camisola azul da montanha Carlinhos Marques, uma autêntica desilusão para quem já tinha andado pelos triatlos, btt`s da costa alentejana e algarves, treinos bi-diários de bicicleta.
Se eu tinha até alguma razão para me queixar da dureza dos percursos, até porque não estaria tão bem preparado, acho que a média imposta de 22,7 kms/h nesta pistas austríacas ficou muito aquém do possível, mas o Carlos nunca me deixou tomar o comando... ele lá sabe porquê.
Então foi ver os passarinhos, os cavalos, a malta maluca do btt que, do avô ao neto entupiam as ciclovias até Viena, o esquiador a fazer aquilo em patins, um jeitoso a pedalar em monociclo, outros em bicicletas onde os pedais vão à frente e eles deitados, como se aquilo desse algum jeito, para além de dar nas vistas, outros com atrelado na bicicleta e os filhos, coitados, a dormir lá atrás... mas de corrida mesmo, daquelas em que chegamos ao fim a transpirar... nada. Pode ser que amanhã seja outro dia.

Dia 11 - De Viena de Áustria à hungara Komaron...

Temos de referir um facto aborrecido, que foi a neutralização do percurso entre Viena e Bratislava, cerca de 60 kms, devido ao mau tempo, uma trovoada que se abateu na noite anterior e que nos deixou com equipamento e roupa completamente encharcados, o que associado a uma chuva miuda e persistente pela manhã, nos quebrou a vontade de fazer esses sessenta quilómetros. Mas o tempo melhorou e o vício da bicicleta apoderou-se de todos nós, com excepção do Tiago, do Marti e do Josep que apresentaram justificações para não sair da carrinha, o que obrigou a que o pelotão fosse constituído exclusivamente por portugueses, eu e o Carlos Marques, levando a uma velocidade média de 24,4 kms/h.
Aqui, saímos da Austria para fazer quase todo o percurso na Eslováquia e por milagre, quando esperavamos o pior quanto a ciclovia, deparamo-nos com uma autêntica auto-estrada para bicicletas só para nós, alí mesmo ao lado do Danúbio, numa baía a perder de vista e com o vento pelas costas, conversando um com o outro e com as bicicletas a ultrapassar sistematicamente os 40 kms/h... onde apenas vimos um ciclista com fato de quem tinha acabado de sair de uma qualquer fábrica das redondezas, boné na cabeça e roupa anos 60... concluímos que não era ciclo-turista, infelizmente para ele, mas a vida é assim, como se costuma justificar a má sorte alheia.
Quase no final do dia e quando nos preparavamos para deixar a Eslováquia e galgar a ponte que servia de fronteira entre este país e a Hungria, acabou-se a ciclovia e fomos atirados às feras, numa estrada nacional cheia de camiões, parecida com 90% das estradas nacionais portuguesas onde arriscamos a pele a andar de bicicleta. Não bastando isso apanhamos uma carga de água até Komaron, na Hungria, mas acho que nos fez bem... nada melhor que uma águinha na cara quando nos sentimos cansados.
Ah, já esquecia, não fosse um amigo eslovaco, de boina basca na cabeça, saído de uma fábrica em cima de uma velhinha bicicleta, a indicar-nos o caminho do Danúbio naquele fluente eslovaco que entendemos na perfeição e talvez ainda hoje lá andássemos (pelo menos eram mais uns dias sem ouvir falar nos infectados pela gripe A).
Não sei se por simpatia ou se para se ver livre de nós, o amigo eslovaco ficou deslumbrado quando lhe dissemos que íamos de Portugal até Budapeste e até tirou a boina ao despedir-se... um amigão que concerteza foi para casa a pensar que estes portugas não têm juízo nenhum desde que o Camões foi tratar de acabar os Lusíadas lá para o extremo oriente.
Para que tudo acabasse em beleza, fomos encontrar o hotel-camping "Juno", uma variante de campismo que só encontrei na Hungria, mas eu passo a explicar, qualquer pessoa pode hospedar-se com cama de hotel ou com tenda de campismo, a diferença está no preço, claro, mas pode usufruir de todas as excelentes condições do hotel, desde o restaurante, à piscina ou mesmo à password necessária para navegar na net... uma maravilha após 9 dias sem navegação à vista.
E para a estatística, neste dia foram só 122kms, à média horária de 24,4Kms/h.

Dia 12 - O final de Komaron a Budapeste...

Apenas 110,8 kms nos separavam de Budapeste, a mítica cidade hungara de que qualquer turista encartado fala como uma referência e um local a visitar pelo menos uma vez na vida.
Tempo bom, deixamos a Hungria, para atravessar a ponte e regressar à Eslováquia, apenas porque queríamos ir pela direita do rio até Budapeste, uma vez que as indicações dos mapas nos faziam prever um percurso melhor que o da margem esquerda e também para olhar um pouco mais a realidade eslovaca que à primeira vista nos tinha causado uma impressão desagradável. Fomos confirmando isso ao longo do percurso e achamos que a União Europeia vai ter de mandar umas verbas para um desenvolvimento mais harmonioso do "espaço europeu" de que todos fazemos parte, porque jeeps e carros de gama alta já vimos, mas telhados a cair e malta a vestir roupa do século passado também. E um outro pormenor que não é de somenos importância, o facto de na Eslováquia as pessoas andarem quase todas com um saco na mão, talvez à espera de um artigo a preço razoável, não sei... mas deu para perceber.
Uma vez que antecipamos a chegada a Budapeste em um dia, os dois de estadia alargaram-se a três, o tempo que achamos necessário para visitar uma cidade como budapeste, propondo até aos possíveis interessados um primeiro dia para andar com o mapa da cidade nas mãos, o segundo dia para realizar um city-tour e um terceiro dia para as compras, mas não se alarguem nem tenham ilusões que em Budapeste nem a água é mais barata, não consegui encontrar nada mais barato que em Portugal e um cafézinho daqueles que não têm nada a ver custou-me 600 forints, qualquer coisa como 2,4 €, o que me fez até sonhar com aquela bica no clube, a 0,60€...
A chegada à cidade, a despedida dos amigos e das bicicletas que tinham de fazer o retorno, a procura do hotel que com GPS até se faz de olhos fechados, um alojamento bom, bonito e barato, que nos dias de hoje até se encontra com um pouco de paciência num site de viagens e lá ficamos eu e o Carlos três dias a usufruir de um final de quinzena inesquecível, projectando novos locais, novas hipóteses para a primeira quinzena de Agosto de 2010 e com uma afirmação que afasta todas as dúvidas... "morra quem se negue!".