sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

FORTUNA DE NATAL

A fortuna que te envolve
nos abraços que te dão,
traz também em ti uma missão...
faz jorrar bem de repente,
a força da razão tão diferente
que em ti mesma se resolve.

Não tens problemas porque és
do sonho de quem sofre, a boa nova,
tens em ti mesma toda a prova
da voz, da palavra, da verdade,
transformas todo o escuro em claridade
e vais lutar com ventos e marés.

Um dia, mais cedo do que pensas,
estarás a degustar a liberdade,
poder ser a luz nessa cidade
onde começarás nova história,
a entusiasta força da vitória
de tantas vidas, muito intensas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A VERGONHA

A vergonha é um sentimento lixado, pá... a malta anda aborrecida com tudo isto porque anda com vergonha de se manifestar, anda por aí com vontade de dizer quais são os seus objectivos de vida, que todos querem, que todos gostam, que todo o mundo sonha, mas... esta maldita inibição, aquela história da "raposa e as uvas" que nos traumatizou na infância, com a tal moral de que "estão verdes, não prestam" quando afinal estão maduras e só não as trincamos porque não lhe conseguimos chegar, nos acompanha pela vida fora, dá cabo da vontade de afirmar o que queremos. Ainda por cima, tudo isso se mistura com um outro sentimento horrível que é a inveja, até porque, reconheçamos com um extremoso senso de auto-crítica que somos efectivamente invejosos e costumamos sentir-nos bem no meio da multidão para que as culpas não nos sejam apontadas.
Tudo isto a propósito de umas crónicas de jornal, entrevistas e programas de tv, que apontam a crise como qualquer coisa de terrível que nos vai cair sobre a cabeça a qualquer momento... há dias até pensei que o Rodrigues dos Santos ia fazer a contagem decrescente para a recessão... dizia o homem que se ainda não tínhamos entrado em recessão, ela estava mesmo a chegar, porque a UE dizia que era este ano ainda e o ministro das finanças dizia que em 2008 não, mas em 2009 talvez, o que a 15 dias do final do ano... mas já agora que venha a recessão no dia 2 de Janeiro, porque senão até o espumante ainda azeda.
Mas o mais interessante é que no dia da tal treta da recessão, as notícias eram a queda do barril de petróleo dos 147 para os 40 euros, a descida da taxa euribor dos 5,25% para os 3% ou menos e a descida para menos de metade dos cereais, o que desafogando as empresas com os custos de transporte, a indústria panificadora com o preço do pão e as prestações de renda de casa, só não nos fazia chorar a rir porque nos lembravamos do tal jornalista e da sua cara preocupadíssima.
Então mas os preços baixam e a recessão vêm aí? na verdade eu de economia não percebo nada, até porque cada vez tenho mais dificuldade para estacionar o carro no shoping por esta altura do Natal, não que eu não saiba que o povo está cada vez com mais dificuldades, mas as famílias não desperdiçam uma tarde com montras, escadas rolantes e ar condicionado grátis...
Agora falando de inveja... eu estava com medo de falar disto, mas já me desinibi o suficiente e não iria acabar com a crónica sem molhar a sopa. Este povo maquiavélico desancou nos deputados da nação porque estes muito inteligentemente acharam por bem não ir ao trabalho na sexta-feira, aproveitando até um deputado oposicionista por propor que não se fizessem votações nesse dia porque já estava enraizado o hábito da "sexta-feira santa" na Assembleia da República.
Perante isto, o que fizeram as más línguas? ofenderam os representantes da nação, chamando-lhes até preguiçosos, desperdiçando a oportunidade histórica de os aplaudir pela ideia e de lhes propor que decretassem a sexta-feira como terceiro dia de descanso semanal, coisa que, estou convencido, só iria dinamizar a economia do país, reduzir alguns custos insuportáveis, como os combustíveis (ainda não repararam que ao fim de semana há menos carros nas estradas?), aumentando de duas para três as entusiásticas e lucrativas actividades de ocupação de tempos livres que os nossos jovens sempre inventam e também o número de autuações por excesso de alcoool e droga, com o subsequente aumento das receitas de Estado.
Mas na verdade ninguém quer resolver a crise, até porque de fartura como esta, a malta habitua-se, porque para passar fome, já basta a normalidade democrática do Zimbabué.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A SOCIEDADE DO SÉCULO XXI

Uma das minhas esperanças na entrada do século XXI era essencialmente focada na transformação social, na vontade de quem governa, de quem se governa e de quem se deixa governar, no sentido de uma real mudança do seu nível de vida e das condições mínimas de usufruto da sociedade dos tempos livres, que só a elevada capacidade tecnológica do actual século pode proporcionar.
O que é facto é que quem nos governa, ao arrepio de uma análise histórica, mesmo superficial, vem dizer que afinal toda essa diminuição do horário de trabalho que se iniciou com a revolução industrial é prejudicial... ou seja, o pessoal que começou por trabalhar 16 horas por dia, passou para as 12, andou à porrada em Nova York pelas 8 horas de trabalho, começou a reivindicar as 7, 6 e mesmo 5 horas diárias e em muitas profissões conseguiu, esse tal pessoal estava completamente errado, muito embora se saiba que cada vez temos mais e melhor produção de bens de consumo e que a crise existe porque os carros existem e não se vendem, os bonecos de Natal estão por aí aos montes e tb não se vendem, as casas constroem-se e não se conseguem vender, a comida está a abarrotar em prateleiras de supermercado, com promoções cada vez mais agressivas... e eu a pensar que crise é no Zimbabué, onde se morre de cólera, não há que comer nas prateleiras das lojas, não se produz nada depois de terem expulso os colonos e há lá um preto fanático que diz que os brancos é que são os culpados, justificando a loucura com o racismo.
Na verdade, os actuais dirigentes europeus chegaram à conclusão que a crise só se ultrapassa com horários mais alargados e mais intensos, como afirma o socrático governo de Portugal, até porque os chineses dormem ao lado da máquina, comem arroz todos os dias e já estão com cerca de 10% de crescimento ao ano, o que se não é um bom exemplo para os madrassos dos trabalhadores portugueses é bem "trovato", até porque temos exemplos de licenciaturas tiradas ao fim de semana, como corolário dessa ideologia peregrina de colocar a malta a trabalhar dia e noite, para o bem estar e a felicidade da humanidade, esquecendo-se que Deus criou o Paraíso muito antes de criar o trabalho.
Então a ideia socialista de colocar a máquina ao serviço do homem já está posta de lado, dando lugar aos "boys neo-liberais socialistas", mensageiros da boa hora que declaram o homem ao serviço da máquina até que alguém o meta no crematório do Alto de S. João?
Esta geração governante pensa que trabalhando mais se alcança o Céu na Terra, contrariando a lógica de um menor tempo de trabalho através do uso adequado das novas tecnologias, próprio dos novos tempos do século XXI, o tal século do bem estar e dos tempos livres?
Há 40 anos instituiu-se a semana inglesa, com o sábado a declarar-se dia de folga, os tempos mudaram da noite para o dia, a produção nacional e mundial aumentou exponencialmente e os "experts" da economia (previam o petróleo a crescer até aos 200 dolares no final de 2008 e o seu preço está a 37 dolares), do ambiente, da gestão e da política, o trabalho escasseia porque a tecnologia vai substituindo o homem e querem... mais horas de trabalho.
Para quando a redução da semana de trabalho para quatro dias? não seria possível colocar os 400.000 desempregados a fazer qualquer coisa, rentabilizando os subsídios pagos, se a jornada de trabalho semanal se reduzisse para quatro dias?
E com esta medida, o que impediria os trabalhadores de fazer mais umas horas nos dias em que estão de folga, se o desejassem? e não seria mais razoável encurtar o período de trabalho para possibilitar a entrada de mais gente no mercado de trabalho?
Sempre que houve alterações surgiram ondas de choque, mas todos sabemos que depois o mercado se adapta à nova situação.
Acho que a falta de deputados na Assembleia da República não foi mais que um ensaio para a semana de quatro dias, até porque todos tivemos duas semanas seguidas de quatro dias e ninguém se queixou, ou notaram algum problema?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ALMAS

Intensas, muito brilhantes,
capazes de nos dizer
que agora, ou muito antes
do tempo de quem nos ver,
juntos iremos ser
do tal amor, traficantes.

Antes do tempo ou depois,
na estrada que o sonho deu,
como brisa terna, fluis...
a tristeza se escondeu
e teu rosto prometeu
ondas de mar, muito azuis.

Andaremos pelas ruas
com pacotes de amor,
daremos doses às luas
que iluminam a dor,
de luzes vivas, com cor,
encheremos almas nuas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

FUTEBÓIS...

Se querem saber, estamos a 3 de Dezembro de 2008 da era de Cristo, muito embora haja quem diga que existe um erro de contagem de quatro anos, porque houve aquela fuga para o Egipto, enquanto os romanos matavam as criancinhas e parece que no registo civil da época, Jesus, filho de José a Maria foi registado com esse atraso, uma vez que crianças registadas nesse período de massacre corriam risco de morte. Parece até que só a partir do registo da criança, o Imperador Augusto começou a contar o calendário romano, pelo que se as contas não falharem já deveríamos estar a celebrar o Campeonato da Europa na Polónia e Ucrânia em 2012... mas de facto faz-me confusão que num planeta habitado desde há milénios, todos os países tivessem concordado com o facto de estarmos a 3 de Dezembro de 2008, o que me leva a pensar que já naquela altura, ou estavam todos de acordo ou abria-se o Coliseu e mandava-se a oposição aos leões. Agora para variar mandam-se os leões para a oposição... leões, águias e outras espécies, mas isso é política e eu não me quero meter nisso.
A propósito, tive o "pazer" de ler um jornal desportivo, daqueles muito criativos que se fazem e pelos vistos se vendem que nem papossecos quentinhos, onde a um sábado se lia que o Benfica ia assaltar o primeiro lugar... infelizmente, como dizia depois o tal jornal, não conseguiu porque o Leixões ganhou ao Sporting. O estado de angústia instalou-se e via-se nas ruas uma amargura latente, que o jornal e tal, haveria de acabar, porque era agora que o Benfica iria ficar no primeiro lugar... não sabem? o Leixões tinha empatado e a certeza da liderança espelhava-se a cada crónica do jornal.
Mas este Benfica, acabado de levar uma remessa das grandes na Grécia (nem sei bem quantos foram, que me esqueci de contar), tinha a obrigação de ganhar ao Setúbal, que anda ali com brasileiros dos regionais, cheios de fome e com 23 salários em atraso... ganhou? não foi capaz, caramba! e lá continua este povo triste e amarguardo mais uma semana, colocando velhinhas à Virgem do Scolari para ver se fica no primeiro lugar do campeonato... é que o Leixões à frente não chega para reabilitar a tiragem de quase 300.000 jornais diários desportivos deste país iletrado.
Ah, já me esquecia, sabem que os ilustres, notáveis e fantásticos jogadores do glorioso, na apreciação do tal jornal, foram apreciados positivamente, desculpados de uns poucos deslizes e tiveram direito a foto? pois os rapazes de Setúbal foram avaliados, jogaram quase todos mal, aquele golo no final foi uma sorte tremenda e nem foto tiveram direito? este jornalismo é tão rastejante que nem sei em que país me encontro, sinceramente.
Sabiam que a Lusa, a maior agência de notícias do país, não sei se ainda recebe subsídios do Estado para se manter viva, está impedida de entrar nas instalações do glorioso Benfica, para assistir às monolíticas, traumáticas e às vezes cómicas conferências de imprensa de treinadores de futebol, sem que uma única autoridade, desde o Secretário de Estado do Desporto até à ASAE, se dêem ao incómodo de fazer cumprir a lei?
Há uns anos atrás era o Porto que insultava e agredia jornalistas da SIC e/ou da RTP, só porque não davam as notícias de forma a agradar aos dirigentes do clube, agora é o glorioso Benfica, com os jornalistas da Lusa e qualquer dia ou antes destes, que não lembro, foi ou será o Sporting, porque não vale a pena tirar de uns para carregar nos outros.
Ao longo de tanta crónica não tem sido meu hábito versar o desporto, ou melhor, o espectáculo da bola, mas depois de levarmos 6 do Brasil, 5 do Barcelona, 5 do Olimpiacos e o resto que se prevê venha por aí, era boa altura para não só os bancos, mas também alguns jornais desportivos abrirem falência, que os clubes e os adeptos do futebol, esses, já estão falidos há muito tempo.
E a minha intenção hoje era abordar a opinião do Secretário de Estado da Educação, que afirmou que as escolas deste país estavam todas abertas, como se eu professor, tivesse que abrir e fechar a escola onde trabalho. Saberá o excelentíssimo amanuense do Ministério da Educação que o que interessava era saber se os professores estavam na escola a leccionar... e não viu que não estavam?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

SIMULACRO

O país viveu e continua a viver um terramoto, o que deu aso a que uns entendidos na matéria promovessem acções de combate a este flagelo, através de um globalizante simulacro... nem queiram saber o que aconteceu com esta brilhante iniciativa governamental, onde entre mortos e feridos alguém tentou escapar.
As ambulâncias que insistiam não ter dinheiro para o gasóleo necessário ao transporte de doentes, apareceram de todos os lados com o depósito atestado, os voluntários mortos e feridos cheios de pensos e mercurocrómio, por entre a curiosidade do pessoal que ia espreitando a azáfama de um tremor de terra de 4 graus na escala de Richter. Acho até que podiam ter feito as coisas para que a escala subisse um pouco mais, mas depois tinham que transportar mais mortos e feridos, o que mesmo para simulacro ainda iria cansar o pessoal e não é tempo de confundir a ficção com a realidade... mas será que isto é mesmo simulacro?
É que pareceu-me ter lido que os bancos que tinham lucros fabulosos de milhões e afinal estão quase todos falidos, que o petróleo baixou para menos de metade e os combustíveis só baixam nos depósitos, que 120.000 professores foram para a rua e a ministra quer mesmo pô-los na rua, que os funcionários do Estado viram os salários congelados três anos e o deficit das contas públicas aumentou, que o Benfica já contratou 325 jogadores internacionais e não consegue ganhar nem uma taça de champagne, que o primeiro-ministro tirou uma licenciatura ao fim de semana e agora querem fechar a universidade independente a semana toda, que os políticos fazem negócios com as empresas e quando saem do governo vão para a administração dessas empresas, que os polícias prendem os criminosos durante o dia e à noite vão fazer segurança nas discotecas desses mesmos criminosos, que os juízes julgam que julgam e os arguidos julgam que não, que a esquerda é de direita quando a direita pensa que é de esquerda, que...
Mas este simulacro de democracia, com possíveis interlúdios de seis meses para repôr a ordem é real ou também faz parte do simulacro?
E o governo faz parte da realidade ou é um grupo de voluntários dispostos a mandar uns foguetes e a apanhar as canas, confundindo tudo e todos e arranjando expedientes cada vez mais simulados, descobrindo milhares de milhões de euros de garantias para equilibrar os orçamentos de bancos e de administradores que de finanças só se lembram de ter jogado o "monopólio" em pequeninos?
Continuando os simulacros, fui confrontado hoje na minha escola com um incêndio fictício, campainhas a tocar a todo o vapor, carros de bombeiros a apitar e carros da GNR com os pirilampos ligados, socorro que já estava na escola ainda antes do "incêndio" ter sido deflagrado, numa antecipação que nem o Zandinga ou o Professor Bambo alguma vez tinham previsto e com os alunos a sair ordenadamente para uma zona de segurança que inacreditavelmente se situava ao lado do depósito de gás.
Será que amanhã tudo volta ao normal, ou esta crise também faz parte do simulacro?

CORPOS

O medo de não poder dizer
o que tenho aqui dentro...
o vulcão desta capa que rebento
em momentos de calor e de paixão,
a calma que sucede à confusão
e nos dá em cada dia mais prazer.

O corpo eterno do teu céu,
tão longe, tão puro, tão quente,
deixa em Deus palavras, somente
a construção do livro mais antigo,
palavra por palavra do que digo,
a marca que tricotas em teu véu.

A espuma que nos molha sem querer,
por paixão ou loucura, ninguém sabe,
fruto de uma enorme vontade
de abrir nossos corpos num sentido,
desejo de um jogo em meu destino,
vivido no além do teu querer.

domingo, 23 de novembro de 2008

A FALTA DE IMAGINAÇÃO...

Todos os dias somos confrontados com notícias, reportagens, crónicas, livros e revistas onde a imaginação entra em rédea solta e ainda há quem consiga alinhavar tanta quantidade de imaginosas recomendações, análises, contas-correntes, projectos, programas, acções e outras confusões, mas infelizmente eu não consigo, porque quando vejo um administrador a confirmar alhos, vem logo outro no dia seguinte refutar bugalhos, se um diz que falou o outro diz que não ouviu, se havia lucro para este, vem logo o prejuízo do outro... como se pode ser sacristão numa igreja destas?
Então não é que fui bombardeado nos últimos anos com lucros, eu repito, com lucros multimilionários de todos os bancos deste país e agora vêm todos dizer que estão tesos que nem a espinha do carapau? mas será possível que um administrador de um banco venha dizer que não sabia de nada, que nem percebia de contabilidade, que a formação dele era direito e que assinava tudo porque o amigo lhe dizia que estava tudo bem, sem se lembrar quando o convidaram para a administração, que na verdade sabia tanto de administração de bancos como eu de lagares de azeite? mas eram 25 mil euros por mês e não era tão rico assim para dizer que não... afinal aquilo não era tão difícil como isso, todos os anos tinha lucro, porque não aceitar? podia ser burro, mas parvo só o da parvónia...
Mas se tinham lucro todos os anos e nunca quiseram pagar de impostos mais (em percentagem) que qualquer contribuinte, porque é que os meus impostos vão servir para os tirar do lamaçal financeiro em que se meteram? e como é que um administrador, que não sabe de nada, consegue tirar uns milhões de euros da sua conta antes do banco se queixar de dores nas costas, perdão, nas contas? o homem tem cá um olho para as suas contas que faz favor...
Cada vez que leio ou oiço estes banqueiros, lembro-me do Alves dos Reis, mas ao menos esse encheu o país de notas de quinhentos e estes enchem os seus bolsos e dos amigos, que até me recordam de quem leva a vida à sombra da bananeira e chego à conclusão de que "bananas" somos quase 10 milhões... o amigo administrador que dá procuração ao amigo, que lhe compra a casa, que depois é nomeado para um cargo pelo amigo, que entretanto sai do governo e vai para a administração do banco que já lá tinha os outros amigos que entretanto faziam negócios com as empresas das mulheres , que eram sócias do afilhado... acho até que a TVI podia começar a próxima telenovela com estes actores todos.
É claro que o país antigamente adormecia e acordava com a azia da aguardente branca nessa altura e sem possibilidade de muitas confusões, até porque se não havia cartões multibanco, muito menos havia contas no banco, mas agora é diferente, qualquer ex-político se junta a uma off-shore das Maldivas e investidores árabes ou angolanos, que têm o povo cheio de fome, mas fazem investimentos com dinheiro lavado com "omo" ainda mais branco...
Agora sim, esta maralha afaga os negócios com wisky velho, faz da vida um conjunto de novelos que impedem que se puxe a meada pela ponta, atam e desatam nós que os protegem a si e aos amigos, tornam-se inimputáveis... já repararam como o povo condescende com o fato, gravata e o putedo da Lux? o fato e a gravata são provas irrefutáveis de que esta gente é imaculada, cheira bem, fala baixinho, lava-se todos os dias, para além de aparecer sempre com bons carros, grandes e luxuosas vivendas, como aquela que a TV mostrou do administrador, comprada apenas com o lucro de negócios bem dirigidos, porque no governo o homem nem ganhava para os charutos, como dizia um tal ministro Gonçalves Perreirra que gostava de carregar nos erres... há até uma canção brasileira que diz " um rico correndo é atleta, um pobre correndo é ladrão"...
E diziam que os portugueses são pouco imaginativos...

sábado, 15 de novembro de 2008

MINISTERIAL AVALIAÇÃO

Ao longo dos anos tenho que reconhecer que não tenho muita legitimidade política para em letra de forma criticar os políticos, as políticas e tudo o mais que nos envolve, cultura afinal, porque é a cultura uma miscelânia de parâmetros que definem os povos e as nações, desde os regimes, as religiões, as raças (se é que existem), o género, sendo que até o desporto o é, não sendo... ou então essas frases que eu encontro nas carrinhas e autocarros desportivos ("ao serviço da cultura e desporto") estão erradas...
Dizia eu que ao longo dos anos as pessoas vão modificando a sua visão da vida e das coisas da vida, de tal maneira que umas vezes vêem tudo com enorme claridade e algum tempo depois está tudo turvo e nalguns casos chegam à cegueira total, o que me leva a olhar este e outros governantes como fotocópias cada vez menos legíveis do original que já não era grande coisa... e ao lembrar, por exemplo, a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, chamo a atenção de um tal Sottomayor Cardia, ex-ministro da Educação nos anos 70, que tão mau como esta ministra, batia mal da bola e devia ter as lentes tipo "garrafa" desfocadas ou sujas, de tal maneira que uns anos mais tarde ainda queria ser Presidente da República, coitado.
Pois o tal Sottomayor, com dois tt, lembrou-se que havia mais de 20.000 professores sem habilitação própria e decidiu que não podiam estar no ensino, muito embora alguns deles fossem professores com dez, quinze ou vinte anos de serviço... esquecendo-se que só estavam nas escolas porque não havia pessoal habilitado, o que se comprovou com o concurso imediato que, por não haver professores habilitados em número suficiente, preencheu milhares de vagas com outros docentes sem habilitação. Fantástico este Cardia!
Hoje é a Educação, nas mãos da mesma família política, o principal alvo já não com a proposta de correr com essa maralha docente das escolas por falta de habilitação, mas por falta da avaliação que eles acham a "melhor do mundo"... só ainda não se lembraram de dizer que está conforme as directivas da União Europeia e dos acordos de Bolonha, pelo que o governo nem pode fazer nada, foram ordens de Bruxelas...
Ainda há dois anos criaram um PAM (Plano de Apoio à Matemática) que se iniciou no 7º ano de escolaridade e este ano já vai no 9º ano, mas uma vez que nos exames nacionais do ensino secundário do ano passado as médias subiram, vieram logo uns acólitos do ME dizer que já se notava o êxito da aplicação do PAM...
Claro que, a par da introdução de regras de assiduidade mais restritas aos professores, que condicionam sobremaneira a sua avaliação final e que obriga muitos deles a ir trabalhar doentes, é lógico que no final do ano o aproveitamento pode melhorar, até porque na generalidade das escolas já nem são necessárias aulas de substituição... mas é bom não esquecer que tudo isso acontece porque os professores estão a ser sujeitos a um trabalho que mais cedo ou mais tarde vai trazer problemas à classe e às escolas no seu conjunto.
Estranho até que a classe docente seja tão privilegiada em Portugal ("uns inúteis, bem pagos e que nada fazem", como afirmou Miguel Sousa Tavares) que, milhares de professores, quando saem das escolas para as autarquias, funções dirigentes, governo e apêndices, nunca mais voltam à escola onde se ganha bem e nada se faz... são todos missionários, não é?
Quando há uns anos quiseram dividir a carreira docente, com uma prova pública de avaliação para quem quisesse subir do 7º para o 8º escalão (ECD de 1989), o ministério acabou com essa treta, não porque achasse que os professores tinham razão, mas porque chegaram à conclusão de que não havia avaliadores-inspectores para tanta avaliação. Agora não caíram no mesmo erro da avaliação externa e ainda fizeram o espectáculo da avaliação dos "pares"... e mesmo assim não querem que os colegas façam a vossa avaliação? "malandros, vocês não querem é avaliação nenhuma!" Sócrates dixit.
Por fim, assistimos às tristes declarações de responsáveis políticos tentando "colar" os professores às gemadas dos alunos... perdoai-lhes Senhor que eles não sabem contar até 120.000!

domingo, 9 de novembro de 2008

A MILÚ IRAQUIANA

" Não cedemos a chantagem, nem a guerrilha eleitoral"
Com esta frase "brilhante" a ministra da Educação de Portugal quis responder aos mais de 100.000 professores que pela segunda vez desde Março deste ano se manifestaram em Lisboa, justificando os quase 90% de professores que se deslocaram desde Trás-os-Montes ao Algarve, com prejuízo de um dia inteiro de descanso para fazerem valer o seu ponto de vista neste diferendo.
Ao lembrar-me do seu passado maoista, veio-me à memória o "bando dos quatro" que poderemos compôr com José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, Valter Lemos e o secretário Pedreira, donos da verdade da educação nacional, da avaliação "tipo folha A4" porque se lembrou que afinal a avaliação dos professores corresponde a uma simples folha A4 com os objectivos individuais... que os ignorantes professores portugueses não conseguem preencher, porque na verdade eles nem conseguem fazer uma redacção com pés e cabeça, quanto mais uma avaliação sem pés nem cabeça.
Será que a ministra da Educação entende que os 100.000 professores se manifestaram para prevenir situações de injustiça a médio prazo, como a divisão da carreira, com classificações de bom, muito bom e excelente que vão diferenciar os anos necessários à subida de escalão e a ultrapassagem de uns pelos outros, não porque uns sejam melhores que outros, mas porque haverá em muitos casos dois professores excelentes e apenas uma vaga para preencher?
Será que a ministra da Educação entende que há professores de Educação Física que vão avaliar colegas de Educação Tecnológica, Educação Musical ou Técnicas de Expressão Plástica e que não estão minimamente preparados para fazer essa avaliação? e saberá que o contrário também acontece, com professores de Educação Visual a avaliar os colegas de Educação Física, até mesmo assistindo e avaliando a prática pedagógica?
Com que então só precisamos de uma folha A4 com os objectivos pedagógicos? veja lá, senhora ministra, que estes 100.000 loucos andavam a fazer reuniões intermináveis com 3, 4 e 5 horas de duração, só para elaborarem o planeamento anual, o projecto educativo, as avaliações diagnósticas, os quadros de percentagens em exel, os projectos curriculares de turma que, se os directores de turma não viessem com eles quase prontos para aprovação, ainda íamos fazê-los na noite de consoada...
E sabia, senhora ministra que as organizações de professores elaboraram um projecto de avaliação de professores capaz de ganhar esta classe profissional para uma melhoria do seu estatuto e do ensino em geral, projecto esse que a senhora diz ainda não ter recebido, quando a revista da FENPROF já o publicou?
Já agora gostava de referir que sou professor titular, fui nomeado avaliador de cinco colegas de grupo, com quem trabalho há mais de uma dezena de anos, nunca fui convidado a assistir a uma qualquer formação em avaliação, nunca me convocaram para uma reunião de avaliadores e apenas sei que terei de os avaliar porque me foi comunicado oralmente numa reunião geral de professores. Tive o cuidado de lhes comunicar que para uma vaga de excelente num departamento de 17 profissionais, não tenho capacidade para os diferenciar, o que pressupõe uma avaliação de bom para todos eles, porque eles são mesmo bons. Mas todos sabemos que outros departamentos podem catalogar de excelentes outros colegas tão bons como eles, não é senhora ministra?
Lembrei-me agora do ministro da propaganda de Saddam Hussein, que com as tropas americanas às portas de Bagdad, gritava para as cameras de tv que "a guerra está ganha e os americanos foram totalmente derrotados"... será que a ministra da Educação estará com as mesmas visões do cómico ministro do Iraque?
Vá-se curar, senhora ministra!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O RANKING

Mais um ano se passou e o "ranking" das escolas, elaborado em função das classificações dos alunos internos das escolas secundárias, nos exames nacionais do 12º ano, se não me deixa mal visto em relação à escola na qual sou profissional de ensino há duas décadas, também não me dá aso a expectativas de uma medalha no 10 de Junho, nem ao tal prémio de excelência que o colega de matemática do qual infelizmente não consigo recordar o nome ganhou o ano passado, por obra e graça de um concurso a mando da insofismável, incomensurável e inavalializável ministra ex-maoista Lurdes Rodrigues.
Então todos os anos por esta altura somos confrontados com o "ranking", que mistura alhos com bugalhos, baralha copas com paus, inventa classificações e hierarquiza-as, confunde uma classificação colectiva de uma escola com 1288 exames realizados (58º lugar), com um colégio onde se realizaram 72 exames (1º lugar)... quase me levando a imaginar uma vila com 1288 pessoas com um nível muito razoável de conhecimentos comparada com um condomínio fechado de 72 almas génias do conhecimento, rodeado por mais 1200 alminhas analfabetas dos bairros de lata envolvente.
Então os inteligentes do "ranking" não sabem que os meninos e meninas dos 25 colégios que se encontram entre as 30 primeiras escolas da classificação não sabem, dizia, que os pais pagam mensalidades de centenas de euros, sempre superiores a um salário mínimo com que vivem mais de 2 milhões de portugueses? não sabem também que se algum desses jovens se comportar menos bem, ou tiver fraco aproveitamento, os pais são convidados a retirar os filhos desses colégios e a mandá-los para uma das tais escolas públicas mal classificadas?
Parece que estes génios da ministerial pedagogia ainda não se aperceberam que existem milhares de jovens que vão para a escola pública de mãos nos bolsos sem uma esferográfica ou um simples caderno de apontamentos, porque não querem estudar, não querem nada do que a escola oferece e alguns até aproveitam para vender uns charros aos outros miúdos, quando têm bom corpo e idade para começar a aprender uma qualquer profissão?
Na minha infância, a maioria acabou a primária e sem sequer gozar um pouco da sua infância era enviada para onde lhes ensinassem uma profissão, muitas vezes trabalhando sem receber durante um ou dois anos, porque primeiro tinham de aprender e hoje vejo essa gente e não me parece que tenham ficado muito traumatizados, mas agora não se pode dizer ou fazer nada aos jovens porque vai contra o direito da criança, dos animais, da natureza, da quercus, do green peace, do... até que vejo no jornal um jovem de 15 anos que mandou um tiro na mãe, outro no tio e na família ninguém o quer em casa porque é um selvagem, dando-se até o cúmulo da GNR dizer que não pode fazer nada porque é menor...
Claro que não me passa pela cabeça que devessemos regressar e regredir a esses tempos que não ajudaram nada a desenvolver a massa crítica e todos os aspectos culturais da sociedade da época, até porque era a própria sociedade que se organizava em pilares quase fechados e não promovia a mobilidade social, mas a ideia de que o que é gratificante dá trabalho deixou de ser transmitida de pais para filhos e a maioria pensa que tudo é fácil de alcançar, sem esforço, sem dedicação, sem nada.
Valha-me a Academia de Música de Santa Cecília e os colégios todos em que temos de transformar este país da treta!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

TATCHER FERREIRA LEITE

Sei que vou criar mais uma série de comentários desagradáveis, mas isso é a coisa mais natural do mundo, porque as opiniões são quase livres e as críticas sejam de que cor, sentido ou paladar também o devem ser, mas vocês sabem como são as coisas, se se diz mal não nos olhamos ao espelho, se se diz bem temos concerteza alguma coisa na manga, ou o filho precisa de um jeitinho para entrar na empresa do amigo.
Assim sendo, é dos livros que sempre tivemos o hábito de escrever pouco, porque isto de elaborar um discurso, uma ideia, um projecto não é fácil e além do mais é cansativo se tiver que ser lido e dá um sono que nem queiram saber, até porque mesmo nas escolas é muito difícil convencer um profissional de ensino a ler uma crónicazinha de duas páginas, quanto mais um livro desses do António Lobo Antunes ou até mesmo do tipo "codex" José Rodrigues dos Santos.
A crónica de hoje vem a propósito de uma afirmação da líder social-democrata que se insurgia contra o aumento do salário mínimo nacional para os 450 euros, garantindo mesmo que com este SMN serão milhares as empresas a falir e que o governo socialista só toma medidas demagógicas e populistas.
Ora a líder da oposição demonstra mais uma vez o seu sentido de estado, de tal maneira que só precisa de um bom slogan para ganhar as próximas eleições, avançando eu sem ninguém me pedir, uma proposta bem melhor que a dos "a todo o vapor" ou "hoje somos muitos,amanhã seremos milhões" que terão sido colados nas paredes deste país nos idos anos setenta...
O meu slogan poderia ser "Se ainda não morreram com 423 euros, para quê aumentá-los para 450?"
Não sei porquê as mulheres, por quem tenho a melhor das impressões em quase todas as áreas profissionais, não me convencem na política, tanto pelas suas ideias como pelos horríveis penteados que usam... e lembro Golda Meir, Indira Ghandi, Margareth Tatcher, Maria de Lurdes Pintassilgo e agora Manuela Ferreira Leite. Já viram as fotos delas? a Golda Meir até usava carrapito, coitada... ainda podia mudar de opinião se a Hilary Clinton ou a Monica Lewinsky ganhassem as eleições, mas não conseguiram... a Mónica não podia? ah pois, não me lembrava disso..
Mas sinceramente, achar um exagero aumentar a malta para 450 euros mensais e dizê-lo em público, é coisa para me deixar completamente desgrenhado, com os cabelos em pé e capaz até de me fazer usar esse gel que os jovens estão a deixar passar de moda.
Que o governo, armado em Robin dos Bosques, dê mais dinheiro de rendimento mínimo a quem nada faz, que a milhares dos seus próprios funcionários e a nossa Tatcher não se incomode, eu acho estranho, mas dizer que um aumento de 27 euros mensais vai originar a falência de milhares de empresas, eu acho um disparate.
Antigamente dizia-se que as mulheres ou eram bonitas ou inteligentes e cada um faça as conjugações que quiser, mas eu já não tenho a certeza, pelo que só devem ser escolhidas para a políticas mulheres bonitas, porque pelo menos uma qualidade está salvaguardada... e assim sendo eu escolho a Barbara Guimarães ou a Catarina Furtado... posso?

sábado, 25 de outubro de 2008

O FONTES!

Alguém me dizia que a ignorância é muito atrevida, contrariando até uma frase divina, "felizes os ignorantes porque deles é o Reino dos Céus" e aproveito para dizer que vai em letra grande para ninguém se sentir ofendido. Na verdade eu entendo que não devemos emitir opiniões sobre o que não sabemos, mas... já viram o silêncio quase total de seis mil milhões de generalizados ignorantes, conscientes de que o seu conhecimento é residual, cada vez mais, por culpa de uma elite que todos os dias descobre coisas novas? e isso provoca-me uma angústia que controlo cada vez menos, lançando-me medos a longo prazo, como um mal estar permanente, um sentimento de culpa, um esquecimento alzheimeriano ou uma tremura parkinsónica. Será que dos esquecidos também será o tal Reino? talvez sim porque Deus tem-se esquecido de muitos que não andam por aqui a fazer nada... não, não me refiro a esses que não fazem nada, porque isso é afinal o objectivo de todos nós, ou não pensamos todos os dias na baixa, no subsídio de reinserção ou na pensão de reforma? eu só me referia a uns entendidos que deviam estar quietos e que trabalham afincadamente para nos dificultar a tarefa de viver sem grandes chatices...
Lembrei-me então, em conversa com os amigos, de recordar algumas figuras mais mediáticas que fizeram parte do património social e cultural cá do burgo, de tertúlias, associações, grupos de meditação e outras actividades mais ou menos clandestinas e nem queiram saber o que aconteceu... das muitas figuras recordadas, cerca de 90% nunca fez nada ou procurou fazer o mínimo possível.
Afinal eles tinham tempo para tudo, podiam ficar até tarde que no dia seguinte não pegavam às oito, começavam o lanche antes do outros saírem do emprego e eram mais vistos e reconhecidos que aqueles que se enfiavam na fábrica e lá passavam o dia a trabalhar na clandestinidade que só o trabalho proporciona... talvez por isso a clandestinidade política se apoiasse fundamentalmente nos operários e camponeses, habituados a um trabalho duro e constante, bem como a uma remuneração que, por muito baixa, não lhes dava hipóteses de tentar uma integração nas ditas tertúlias.
Diz-se até que nos tempos da ditadura não deixavam os operários entrar nos cafés, mas eu não acredito... eles não tinham era dinheiro para lá ir, mas isso são pontos de vista que talvez se incluam no ignorante atrevimento do início desta crónica.
Mas lembrar-se aqueles que pouco faziam além das "despesas de representação" e ignorar tantos que construíram uma vida de trabalho é um erro do qual também eu me penitencio, porque também aqui estou a incorrer no erro de falar daqueles que se orientaram na vida sem transpirar muito a camisola.
Alguém me dizia que só os marginais, não no sentido literal do termo, mas aqueles que se foram da lei do trabalho libertando, poderão fugir do "olimpo do esquecimento", e os exemplos não faltam, desde o sempre reconhecido Bocage até esta malta que vem todas as semanas na Lux e dos quais escolhi o José Castelo Branco como expoente, mas eu sei que vocês já se lembraram de mais alguns nestes últimos trinta segundos.
Por aqui se lembra o amigo Anastácio, que só trabalhou um dia numa fábrica e concluiu, porque era inteligente, que alí não havia minas de ouro para explorar, decidindo fazer do jogo de cartas uma ocupação ate aos oitenta anos de idade... não enriqueceu, nem perto, mas usou sempre uma camisa branca com botões de punho e fato completo.
Falou-se também do "doutor" Pinheiro, que saiu da "casca da fábrica" logo que pode, para ser secretário particular de um industrial de apelido Moita, com direito a folga para ir todas as semanas ao mercado a Torres Novas.
Lembramos o amigo Coutinho que ao longo de 60 anos não dispensava o habitual lanche das 5 da tarde, com os amigos, que lhe criava bastantes dificuldades porque se via aflito para dar com a fechadura da porta de casa.
Bastantes mais foram lembrados, de Vila Moreira a Monsanto, da Louriceira ao Espinheiro, mas ninguém se lembrou do amigo Fontes... é verdade, o Fontes que ainda cá está cheio de saúde, mesmo com quase oitenta anos e dois maços de tabaco por dia, teve o enorme e injustificável defeito de trabalhar 60 (sessenta!) anos na mesma fábrica sem nunca ter dado uma falta ao trabalho. Ora, como é que a sociedade poderia conhecer o Fontes ou até mesmo agraciá-lo com uma comenda?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

PODIA TER SIDO PIOR...



O português genuíno é um produto de marca registada, ou registrada, não sei bem qual a diferença, se é que a há, mas já vi escrito das duas formas e não estou com pachorra para ir consultar a enciclopédia da Verbo, mas que é um produto genuíno e incomparável é uma daquelas verdades dificilmente contestadas.
Não conheço mais nenhum Zé, embora também não tenha tido oportunidade de percorrer tanto mundo que me permita conclusões tão taxativas, mas pelo que vi e oiço contar, nada se assemelha à idiossincracia portuguesa, não tanto pelo folclore, disponibilidade para aprender ou cantar o hino nacional, mas essencialmente pelo seu positivo ponto de vista em relação aos problemas dos outros, muito embora haja sempre uns Marcelos, Pulidos Valentes, Pachecos e Sousas Tavares a revelarem alguns (quase todos) pontos negativos do nacional indígena, eles que em muitas situações deveriam ver-se ao espelho daquilo que dizem dos outros e nem se apercebem.
Fui reparando ao longo do tempo que o Zé, no qual me encontro concerteza, pode ser vítima de qualquer governo, organização social, cultural ou religiosa, de si próprio até, mas tem sempre uma irreprimível vontade de amenizar a coisa com um “podia ter sido pior”, o que se não dá para resolver os problemas tem a particularidade de os amenizar, o que em tempo de crise é um factor a ter em conta.
Agora foi o governo que tendo por base os anos de 2005 e 2006 em que congelou as carreiras profissionais e não concedeu nenhum aumento salarial, não aplicando o provérbio de que “podia ter sido pior” (era impossível), o que nos leva a concluir que toda a regra tem excepção, vem agora propor um aumento de 2,9% na medida em que prevê uma inflacção de 2,5%. O ano passado também instituiu um aumento de 2,1% para uma inflacção de 2% que afinal foi de 2,8%...
E porque é que um governo que queria reduzir o deficit, uma das bandeiras desta deficitária legislatura governamental, vem agora no último ano pré-eleitoral propor aumentos aos funcionários que irão aumentar o deficit público de 1,5% para 2,2%? Não sei, não faço ideia e nem quero saber para não ficar com a angústia da dívida pública a pagar no ano de 2075…
Mas o Zé sorri e volta à vaca fria “podia ter sido pior” quando lhe dizem que as propinas do filho já vão nos 1.000,00€… “podia ter sido pior” quando o imposto de circulação do carro passou de 8,00€ do carrinho velho para os 102,10€ do carrinho novo, não, não é um BMW, é apenas a troca de um velho AX por um novo Nissan Micra dos mais baratos do mercado… “podia ter sido pior” quando o IMI passou de 24,00€ para 118,00€ na casa que construiu, mobilou, retocou e reparou com materiais onde o Estado foi buscar o IVA, as certidões e os registos, onde o banco foi buscar capital e juros do empréstimo e onde o proprietário paga um imposto para ter direito a uma coisa que é dele… “podia ter sido pior” quando vai a um hospital e paga a taxa, paga os remédios na farmácia, alguns já sem comparticipação e recebe uma carta do hospital para pagar os tratamentos que efectuou, depois de ter contribuído mensalmente durante dezenas de anos para o sistema… "podia ter sido pior" se, ao passar dos 36 anos de descontos para os 45 agora necessários para a reforma, tivesse passado para os 55 ou mesmo 65 anos de desconto... “podia ter sido pior” se o senhor engenheiro nunca tivesse nascido, mas… eu não acredito!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O QUE ELES FAZEM...

O que eles fazem para nos sentirmos felizes... quem são eles, perguntam vocês? humm parece-me que foram de férias e nem deram por isso, eu compreendo que não dessem por isso, porque eu quando vou de férias também fico um bocado atarantado, ele são os banhos de água quente, o carro alugado, os passeios, as bebidas que o tudo incluído quase nos obriga a tomar durante o dia e a noite, os jornais e revistas que no estrangeiro nem se dão ao trabalho de apresentar o mapa da Europa com o nosso país... pois claro que eu entendo que não estejam bem a par das novidades, aquelas notícias financeiras com que a tv nos metralha de manhã, à tarde e à noite... o quê? vocês não sabem de nada e não foram de férias? bem me parecia que este mundo está cada vez pior...
Então ainda não deram pela crise financeira? acho até de bom tom esclarecer como fez o esbugalhado João Salgueiro que isto é apenas uma crise financeira e não uma crise económica... pois o economista (ou financeiro?), fez questão de salientar as acentuadas diferenças para que o povo não se confunda e comece a pensar que estar "teso" é finança quando na verdade é economia, ou que comprar a crédito é economia quando na realidade é finança... estão a ver a coisa, não?
Mas não se preocupem que os bancos vão pedir dinheiro uns aos outros, com a garantia dos governos que também vão pedir dinheiro uns aos outros, para que nós possamos também pedir dinheiro uns aos outros... lembro até a história do taberneiro que estava estabelecido ao lado de um banco e que respondia aos clientes que queriam beber a crédito ou fiado, como se dizia na época:
- "Desculpa oh Zé, mas eu fiz um contrato com o banco aqui ao lado, nem eu posso vender a crédito, nem o banco pode vender copos de vinho".
Agora a crise é tão vertiginosa que um indivíduo sai de casa de rastos, sem dinheiro para comprar um carapau e à hora de almoço já está outra vez rico com os ganhos do PSI 20, para ter de comer uma sandocha à noite porque voltou a baixar o NASDAQ...
Esta noite o telejornal abriu com uma subida das bolsas de tal ordem que até a Euribor desceu para valores impensáveis, de tal maneira que meia hora depois de ter dado a notícia, um repórter fez contas a um empréstimo de 100.000 euros a 30 anos e informou todo o povo que a prestação mensal do empréstimo descerá nos próximos meses... 4 euros! (quatro euros por extenso,porque até podiam pensar que eu já não dou com números).
Acho que tenho de deixar de ouvir as notícias, depois de ter deixado de comprar jornais, livros e revistas, deixado de ouvir rádio, deixado de sair aos fins de semana, deixado de ouvir a família que os amigos já nem os vejo há mais de seis meses, deixado de me ouvir a mim mesmo, porque eu não consigo acompanhar a velocidade vertiginosa que este século XXI imprimiu a todos nós, com pretensos comentadores, políticos, economistas e financeiros a quererem dizer-me que com Moçambique a crescer 10% e nós a crescermos 2% qualquer dia estamos atrás deles, porque o que eu aprendi em aritmética, de que 10% de zero é menos que 2% de um está errado.
A crise de facto é um bom presságio para o desenvolvimento de nichos de mercado, de tal maneira que os países africanos já pediram informações sobre a forma de importar falências como aquela que aconteceu a semana passada com a Islândia... parece que até o Mugabe quer trocar o crescimento do Zimbabué pela falência da Islândia, não sei, mas por causa das crises vou já ali à loja comprar a ultima versão do "Monopoly"... acho que aí já se podem comprar países.

domingo, 12 de outubro de 2008

LUA NOVA

Quando te precisar
Gritarei teu nome ao vento,
Ouvirei o eco no momento
E a resposta, o encanto…
Sorrirei no entretanto
E olharei além do mar.

Fecharei os olhos, sim…
Ouvirei a música suave
E abraçarei a luz que bate
No teu corpo… e sem acaso,
Estarei no seu compasso
Quando precisar de mim.

E se não houver lua
Ou chuva que a faça nova
Iremos pôr-nos à prova…
Faremos uma oração,
Onde bata o coração
Desta vida, minha e tua

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A CRISE

Não me baralhem por favor, que eu estou numa fase em que até os desenhos animados do canal 2 me fazem arrepios na espinha e dores de cabeça que nem o "melhoral" consegue resolver. Então não é que há uns meses subia o preço do barril de petróleo devido à incerteza dos mercados financeiros e agora que os telejornais abrem com a crise dos mesmos mercados financeiros, o petróleo está a... baixar?
Pois é verdade, o crude chegou aos 144 dolares o barril, isto tudo porque se instalou uma crise do subprime nos Estados Unidos e previam os especialistas que talvez chegasse aos 200 dolares até final do ano.
Três meses passados e o barril já vem aí nos 86 dolares, o que me leva a pensar que eu também tinha boas capacidades para ser especialista financeiro, uma vez que nunca acerto no euromilhões e quando acho que as acções sobem elas... descem.
Também achei que aquela bolsa de New York estava a dar barraca e a entrar em crise quando convidou Cavaco Silva para ir lá tocar a campainha, levando-me a pensar que todos os que tinham juízo já tinham saído antes do toque... a rebate.
Mas a confusão instalou-se com a pré-falência da Islândia, o sonho de país para qualquer cidadão do mundo, a 6ª maior economia do mundo, que agora vai ter de pedir dinheiro emprestado à vizinha Rússia para espanto dos democratas economistas desta Europa capitalista, contrastando com a segurança económica dos países africanos, desde o Zimbabué, à Etiópia, Sudão ou Guiné-Bissau. Prevejo que até o José Eduardo dos Santos proponha que se fôr preciso compra a Islândia para salvar aquele povo faminto do degelo do Polo Norte.
Afinal o nosso país está muito melhor do que se pensava, mas isso já eu digo há muito tempo... têm visto aqueles tornados nos Estados Unidos? eu só vejo é casas de madeira que aqui ninguém queria... é isso a imagem do país mais desenvolvido do planeta? ora abóbora, que até as casas de xisto de Trás os Montes aguentavam aquelas depressões e cristas vindas do Havai...
Já viram alguma corrida aos bancos aqui em Portugal? isto é que é um país confiante... ou então estou enganado e a malta não tem lá nenhum para levantar, para além do muito que lá deve, o que vem confirmar o desejo dos portugueses de que os bancos abram todos falência.
Para cúmulo do que possam pensar de uma crise económica, até a Espanha que ainda há meia dúzia de meses dizia que ia devolver a cada espanhol 400,00€ relativo ao IRS, afirma hoje "zapateiramente" que o desemprego vai passar de 7 para 15% até 2009. Acho bem, que eles estavam empregados mas produziam menos que os nossos do "rendimento mínimo de inserção"... uma cambada de malandros que agora barafusta porque o administrador do banco inglês falido ganhou apenas 450 milhões de euros nos ultimos 3 anos...
Vou tentar inscrever-me num desses cursos de economia, porque estou a ver que qualquer resposta a uma qualquer questão estará sempre certa, ou seja, só precisarei de ler os canhanhos de economês que os comentadores da tv estudaram, porque eles também nunca acertam nos prognósticos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

DE ONDE VEM O EXEMPLO, DE ONDE VEM?

A história está cheia de exemplos e a nossa, como sociedade desde o tempo do Viriato, o nosso primeiro "cabo de esquadra" da região da Serra da Estrela, tem vindo a registar ao longo de variadíssimas gerações a importância do exemplo, como "salvo-conduto" de conduta, muito embora desde esse tempo o exemplo não ajudasse muito no conduto... havendo necessidade de tentar as boas graças de quem estava por cima para subir na vida, na sociedade e preparar a ascensão à vida eterna, amém.
Depois de muitos curiosos exemplares ao longo da nossa história, dos quais resultaram em pleno século XXI todos aqueles iluminados dos "sete instrumentos" que à segunda falam de futebol na tv, à terça apresentam o seu último livro, à quarta vão ver o futebol ao estrangeiro, à quinta vão comentar o último desaparecimento da Maddie e à sexta vão assinar o expediente à Câmara Municipal de que são presidentes, muitos têm sido os maus exemplos transmitidos aos "filhos da nação", de tal modo que já pagam na tv aos que não se importam de dizer à mulher e à família que andam a dormir com a vizinha do terceiro esquerdo.
Tudo muito alegremente porque a liberdade e a democracia é assim mesmo, como dizem os craques do futebol no flash-interview, para justificar a derrota em cada domingo, já só se consegue encontrar um espécime genuinamente portuga para servir de exemplo com bastante dificuldade, porque desde os tempos do consul Aristides de Sousa Mendes já lá vão quase 70 anos e convenhamos que um exemplo de 70 em 70 anos é pouco... sim, eu sei que não se pode esquecer Calouste Gulbenkian, o Padre Américo com a Casa do Gaiato ou mesmo o Senhor José Regojo Velasco, o tal galego das "camisas Regojo"...
Bem sei que há algumas centenas de portugueses que mereciam, pelo seu exemplo, uma referência nesta minha crónica, compreendem a impossibilidade de o fazer, mas continuam a ser poucos para um universo de 20 ou 30 milhões que por aqui passaram desde o tal Viriato. Mas esta crónica tem um objectivo bem determinado, face à quase completa improbabilidade de poder acontecer neste ano da graça de 2008 em Portugal e com alguém com quem nunca simpatizei nem um bocadinho...
Eu vou recuar uns anos no tempo e lembrar que aos vinte anos também eu era daqueles que queriam mudar o mundo... a fraternidade, a igualdade, a solidariedade andavam por aqui de mãos dadas com o turbilhão da aliança operária-camponesa, dos "SUV" e de toda a variedade de objectivos revolucionários, até que um tenente-coronel de óculos à "pinochet" colocou um pouco de ordem na casa. Foi graduado em general e recusou ganhar o correspondente salário, recebendo o devido ao posto de carreira. Logo aí eu fiquei desconfiado, até porque nestas ocasiões, para captar a simpatia da populaça é sempre bom tomar medidas dessas.
Passaram-se trinta anos e o general Eanes, que é de quem se trata, foi alertado pelos democratas que nos governam de que tinha direito a ser tratado como todos os outros presidentes, ou seja, receber o salário de presidente e a reforma, o que prefazia cerca de um milhão de euros, sim, sim, um milhão de euros!!!
Pois o Senhor General Eanes recusou a mordomia que todos os outros receberam, mais uma vez tomou uma atitude que, pelo exemplo, me obrigou ao fim de tantos anos a reconhecer nele uma figura da nossa História.
Obrigado Senhor General!
Agora me lembro que o tema da crónica de hoje era a notícia saída esta semana numa daquelas revistas sociais, que informava ter o primeiro-ministro de Portugal dois filhos a estudar no Colégio Alemão, pelos quais pagava de mensalidade a módica quantia de 2.200,00€ (dois mil e duzentos euros).
Pois senhor engenheiro, para quem representa o CDS-PP, até mesmo o PSD, ainda poderia compreender a primazia ao ensino particular de elite, onde se paga por mês por um filho aquilo que 80% da população portuguesa não recebe de vencimento, mas um primeiro-ministro de um governo socialista deveria fazer outra opção, no mínimo escolhendo uma escola pública (há algumas boas, reconheça).
Mas esta coisa que o meu avô me dizia, de que "o exemplo tem de vir de cima" já foi chão que deu uvas...
Já agora aconselhava-o a ler "A Curva da Estrada" de Ferreira de Castro... fazia-lhe bem.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

NÃO ESTAMOS SÓS!

Ao ler hoje a crónica de Santana-Maia Leonardo no "Jornal Torrejano", sobre a incompatibilidade e talvez até irresponsabilidade que é a repetência de estudos na escolaridade obrigatória em Portugal, veio-me à memória uma crónica por mim efectuada no dia 27 de Julho de 2007, no final de mais um ano escolar e que faz parte de um livrinho de crónicas que me foi oferecido no Natal passado.
Mais um ano transcorrido e mais uma crónica trazida à estampa por S-M Leonardo no "Jornal Torrejano", com os princípios do meu ponto de vista ainda mais bem elaborados, o que me leva a pensar que dentro de uns anitos (100 a 150), haverá um ministro a propôr uma nova lei educativa que se reveja nas crónicas por nós elaboradas, as quais nada mais afirmam que a inutilidade da retenção de ano, na escolaridade obrigatória, por parte dos alunos deste país. Se há 40 anos atrás se compreendia que a retenção se fizesse, até para que as classes sociais se perpetuassem e os trabalhadores ignorantes nem colocassem em causa a sua condição social e económica subalterna, nos dias de hoje nada o justifica.
Os jovens cumprem uma escolaridade obrigatória que lhe dará uma noção básica do que poderá constituir o "manual das relações sociais" numa perspectiva de desenvolvimento futuro que, se há uns anos finalizava por volta dos 10/12 anos o seu trajecto escolar, hoje tem como objectivo um percurso escolar que acaba, no mínimo com 17/18 anos de idade ou 24/25 ou mais anos, se o percurso académico for completo.
Outro elemento importante a ter em conta é a formação contínua que a maioria das pessoas terão ao longo da vida, bem como ocupações diversas para as quais vão recebendo ao longo da vida a adequada formação, o que nos leva a concluir da inutilidade das retenções/chumbos dos nossos jovens na actual escola portuguesa. Nem entendo como um governo que "é só números" e que poupa na farinha e no farelo ainda não se lembrou que esta medida pedagogicamente correcta é economica e socialmente benéfica a médio e longo prazo.
Lembrava eu na crónica de 2007 que se não tínhamos um jovem com dificuldades cognitivas ao mesmo nível dos que sabiam a matéria, tinhamo-lo ao mesmo nível de desenvolvimento físico com os seus colegas de sempre, participando nas brincadeiras adequadas ao seu tamanho, ao contrário da retenção que, numa análise extrema poderia sentar na mesma sala crianças com 5, 6 ou 7 anos de diferença de idades... e a quem aproveitaria uma situação destas?
Não quereria acabar esta análise sem focar a Educação Física de que S-M Leonardo aborda e compara em relação "ao tempo em que os jovens sabiam mais do que hoje...". É verdade que os burocratas da pedagogia têm teorizado a prática da Educação Física na perspectiva de a "uniformizarem" com as outras ciências, com alguma "culpa" dos próprios profissionais da disciplina, de tal maneira que um dia veremos muitos dos novos professores a leccionar de fato e gravata, que o computador pessoal e as planificações, os objectivos, as acções e as grelhas de avaliação já são um facto. Talvez por isso o desabafo de quem olha o problema um pouco à distância e entenda que os jovens estão a olhar a Educação Física como mais uma "seca" de matéria, testes e avaliações esquisitas. Para mim, que já ando de fato de treino e alpercatas há 36 anos, não é assim tão trágico... os meus alunos continuam a divertir-se com a Educação Física e eu a divertir-me com eles.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

2 PESOS E 222 MEDIDAS...

E o fim de semana chegou para recuperar um pouco, não tanto do esforço de uma semana de trabalho, que isso da escravatura já acabou, mas tão só para alterar os hábitos semanais, dormir, levantar, lavar, vestir, percorrer os mesmos trajectos, comer… tudo aquilo que quase mecanicamente fazemos de segunda a sexta-feira.
Então vem o jornal, que se comprava diariamente e que a crise levou a eleger como luxo de fim de semana, o tal “diário de notícias” que em boa hora substituiu o “expresso”, uma vez que contra as crónicas de arremesso de Miguel Sousa Tavares na sua guerrilha com os professores, só tive como remédio deixar de comprar o semanário, eu e concerteza alguns milhares de professores que se sentiram ofendidos com os dislates de tão insigne comentador-escritor-jornalista-cronista. Claro que também o Correio da Manhã ficou posto de parte desde os insultos que recebi de um tal Rangel de má memória, o que não quer dizer que o “diário de notícias” é que é bom, mas eu também não quero que o jornal seja feito para me agradar, porque como órgão de informação chega-me perfeitamente, além de que traz uma revista de fim de semana bastante interessante e que contenta a família enquanto estamos a tomar o cafezinho, um com o jornal e outro com a revista.
Então perguntam vocês
- O que é que este maduro tem para contar hoje?
Ah pois, já me esquecia do assunto… hoje é sobre aquelas indemnizações, vocês sabem bem do que estou a falar, 30.000 para o Costa por estar preso três horas, 130.000 para o Pedroso por estar preso 4 meses e ZERO para uma senhora que esteve presa um ano, foi absolvida e nem um simples papel com um pedido de desculpas passado por um qualquer tribunal deste país. O jornal ainda perguntou a um Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de um Tribunal Superior se não existiriam dois pesos e duzentas e vinte e duas medidas neste país para justificar os 30.000 do Costa e uma cacetada nas costas da velhota à saída de um ano de xelindró sem culpa nenhuma…
- Como sabe, o Estado não pode ser condenado por prender suspeitos, então não fazia outra coisa senão pagar indemnizações…
- Então e os 30.000 do Sr. Costa?
- Não falo de casos concretos.
- Também não vai falar dos 130.000 do Sr. Pedroso…
- Claro que não, mesmo que pudesse não o faria.
- E por exemplo, suponhamos uma senhora sexagenária que foi presa preventivamente durante um ano, absolvida e restituída à liberdade sem qualquer indemnização…
- Como sabe, o Estado não pode ser condenado…
Na verdade, qualquer cidadão deve considerar-se ignorante quanto baste para não entender o alcance profundo de um Estado de direito, como o nosso, onde cidadãos diferentes são diferentemente tratados pela lei, onde diferentes juízes promovem diferentes sentenças para um mesmo caso, onde o cidadão nunca sabe se pode dormir descansado, não só pelos ladrões, mas antes fosse só por estes.
A propósito destes, encontrei no jornal outra notícia verdadeiramente extraordinária, que só vem nos jornais ditos normais porque infelizmente acabaram com os jornais "O Crime" e "O Incrível", notícia essa referente a um ucraniano apanhado com um carro roubado em Coimbra dois dias antes, detonadores, pacotes de gelamonite, cordões de combustão lenta para rebentamentos à distância, armas de 12 e 9 milímetros e centenas de munições. Para abreviar diremos que o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Instrução Criminal do Tribunal da Guarda mandou o homem aguardar em liberdade, apresentando-se no posto da GNR de Vilar Formoso duas vezes por semana. Parece que só podia ficar detido se tivesse sido apanhado num daqueles carros de combate usados pelos russos na invasão da Geórgia. Oh dr. juiz, deixe a malta rir com as graças dos "gatos fedorentos" e não tire o mercado de trabalho aos rapazes.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

É COMO SE NÃO FOSSE NADA...



Passaram-se quase quinze dias desde a última crónica, embora os assuntos capazes de uma boa abordagem continuassem a sair nos jornais, mas como calculam a crise acentuou-se e eu, que acartava resmas de jornais diariamente para casa fico-me agora com o "diário de notícias" ao fim de semana porque além das notícias e reportagens ainda é acompanhada de uma revista a cores, com alguns artigos muito interessantes.
Mas como devem calcular, o facto de se aproximar mais um ano lectivo e de ter que promover todas as minhas capacidades didactico-pedagógicas, neste ano de graça da avaliação dos professores, como se antes disso nunca tivessem sido avaliados e supra-sumo das teorias educacionais contemporâneas, esquecendo que os avaliados já foram avaliadores, orientadores de estágio, formadores, supervisores pedagógicos, com cargos e funções ministerialmente reconhecidas... está bem, mas isso já foi no século passado e agora estamos no século XXI. Há que fazer cumprir as directrizes emanadas por quem sabe e cuidadinho porque se não estiverem de acordo com os documentos interneticamente fornecidos, apanham com uma avaliação "regular" que é para passarem o resto da vida no 7º escalão ou irem para o Zimbabué em comissão de serviço.
Claro que o grupo de professores de que faço parte é um caso à parte e já está a produzir documentos em catadupa, o que também por isso, me leva a escrever apenas uma crónica por semana, pois nem imaginam o que já saiu da impressora só esta semana...
Parafraseando o meu colega Miguel, estamos constituídos em comissão de reflexão para os problemas educacionais e avaliativos, colocando em cima da mesa catorze resmas de papel "Navigator" de 80 gr/m2 (eu sei que deviam ser recicladas, mas estas são mais branquinhas), para serem preenchidas em estreita ligação com o PCT (Plano Curricular de Turma), tendo em conta o PDC (Plano de Desenvolvimento Curricular), nunca esquecendo o PCE (Plano Curricular de Escola), importantíssimos para sustentar o PA (Plano de Avaliação) e o PEE (que agora não me lembro o que é, mas também não vem ao caso). Afirma o Miguel e nós concordamos, abanando a cabeça acima e abaixo, que o PCD e o PDC serão baseados no PA e no PCE (faz-me lembrar o Santiago Carrillo...), mas a qualquer momento o PCE pode influenciar a dinâmica do PA, sem esquecer contudo que o PDC poderá a qualquer momento mudar se o PCE também o fizer, influenciado pelo RI, entretanto aprovado pela AGE, ratificado pelo CP e executado pela CE.
Será esta multiplicidade de inter-relações sistémicas, nas quais assentará o simples e atrativo edifício pedagógico, que o grupo de professores a que pertenço assentará baterias, tendo-se inscrito num dos muitos campeonatos de SUDOKU, nível avançado, à venda em qualquer tabacaria perto de nós.
Parece haver ainda um tal PEI, do qual não sabemos bem como integrar na discussão, até porque há quem ainda não controle todos os parâmetros avaliativos necessários para chegar com vida a Dezembro de 2009.

Até lá ainda teremos os jovens, os únicos capazes de nos tornarem as coisas mais simples.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

JOGOS




Na festa da paixão da sua vida
dão voltas e voltas de cansaço,
esperam o flash que ilumina
o rosto sofredor em cada passo,
pulam no final por um abraço
na medalha sempre prometida.

Um centímetro é quanto basta
para que o sol bata de frente,
tão simples como a canastra
que jogava toda a gente,
com jornais tão de repente
a fazer heróis com pasta.

Quinze milhões, talvez mais
dizem valer o salto, homessa!
vinte e um milhões e tais
a medalha da Vanessa...
na página da promessa
fica o ouro e alguns ais.

Fica um país por crescer
na escola, rua, na casa...
um povo a prometer
não se meter na cachaça,
ficamos todos em brasa
com medalhas a chover.

Poucos pulos, muito ar,
pr`a passar sem muito esforço,
havemos de nos safar
aldrabando sem remorso...
com as medalhas no dorso
é nosso o primeiro lugar!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

SEGURANÇA? TAMBÉM ACHO...


Aproveitei as férias e o mês de Agosto para fazer uma pequena pausa nas funções profissionais e nas crónicas que de vez em quando vou escrevendo aqui no blog, muito embora este período tenha sido fértil em situações merecedoras de umas crónicas cáusticas e de algum humor, porque não vejo nada de melhor que ultrapassar alguns amargos de boca com umas boas piadas... eu sei que quem leva um balázio no armário ou se vê sem o automóvel "carjekingado", não fica com muita vontade de se rir, mas chorar também não ajuda grande coisa. Ultimamente, ao ler as notícias dos jornais até me dá vontade de rir, porque uns dizem que não há polícias e depois dou com 600 a fazer um biscate no estádio da Luz, com uma graduada loira a dar conferências de imprensa para nos dizer que vão acompanhar uma cambada de energúmenos azuis ao estádio, para não se misturarem com outra cambada de igualmente energúmenos vermelhos que estão preparados para tudo e mais alguma coisa... talvez "pour cause" já há vários anos que não pergunto a nenhuma criança se ela é do Benfica ou do Sporting.

Mas eu queria falar hoje de segurança porque... fui assaltado! bem, não foi nada parecido com o assalto ao BES, assaltantantes de armas, refèns e o GOE, PSP, PJ, TVs e outras entidades que agora não vêem ao caso não, não foi nada disso, mas esses assaltos que referi agora já não têm tanto interesse como os jornais acham que têm, porque há disso todos os dias e a malta já não liga muito, mas assaltos como os que me acontecem, isso sim é que são assaltos. Vocês já viram uma pessoa ser assaltada sem dizer nada, sem armas e com o assaltante a falar baixinho e com um sorriso na boca? ahh pois, isso sim, é que é um assalto!

Já não estão a entender, mas eu vou explicar... primeiro assalto, na farmácia:
- bom dia, quero uma solução de alcool boricado a 3%...
- trouxe o frasquinho?
- sim... está aqui, é de 3 cl com conta gotas.
Algum tempo depois...
- Já está, são 10,00€.
- 10,00€??? mas na última vez levaram-me aqui 2,00€...
- Pois, mas agora os manipulados têm uma taxa mínima de 10,00€.
- Mas isto é um roubo!!!
- Se não quiser não leva, mas são as ordens que tenho.

Segundo assalto, na mesma farmácia:
- Bom dia, quero uma bisnaga de apyrol...
- Aqui está, são 6,2€.
- 6,20€?? mas o ano passado era 4,00€ e em 2006 eram 2,58€...
- São os aumentos...
- Mas já reparou que os aumentos são de 50% ao ano? acho isto um roubo...
- É a vida...

Terceiro assalto, ainda na mesma farmácia:
- Bom dia, precisava de uma caixa de comprimidos Neufil...
- Aqui tem, são 10,90€.
- 10,90€??? mas eu vim aqui no mês passado e era a 6,98€... eu acho isto um roubo, um aumento de 56% de um mês para o outro...
(Podem conferir os preços no início da crónica)

Para a próxima vou acompanhado de um polícia gratificado porque estou a ser vítima de assaltos consecutivos e se isto continua tenho de comprar uma pistola, sou servido mais rápido e levo os medicamentos mais baratos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

ANDAM A BRINCAR COM ISTO!





"Portugal ocupa a penúltima posição..."
"Portugal só tem a Eslovénia atrás na diferença entre..."
"Portugal está em penúltimo na Europa a 27, no que siz respeito ao..."

Se temos a mania triste e despropositada de ligar a rádio e a televisão, para além de lermos os jornais, somos confrontados com um "país da treta", onde quase nada nos indica que estamos no primeiro terço dos países mais desenvolvidos do planeta (coitadinhos dos outros 170 que estão atrás de nós...).
Se é verdade que Portugal se desenvolveu nos últimos 40 anos, somos levados a pensar que isso é a causa natural de uma explosão tecnológica e científica que colocou ao dispôr de uma massa enorme de consumidores um conjunto de meios que lhes facilitou a vida, independentemente de quem governou, governa ou governará, de tal modo que até mesmo em 1975, com mais dificuldades, o Almirante Azevedo fez greve durante um mês e o país nem deu por isso. Concluo apressadamente e sem suporte científico que a sociedade está num estádio de desenvolvimento tal que os governos só atrapalham, até porque naqueles casos e sectores em que os governos deveriam actuar... nada.
Nada será muito para classificarmos algumas luminosas ideias e projectos dos governantes, na medida em que o "caso" da crónica de hoje é o "menos que nada" de quem só tem serradura na cabeça, e perguntam vocês porquê?
Então não viram já o folheto publicitário que encima esta crónica? pois é, uma multidão de organismos, publicos e privados resolveram reeditar o saque dos "Fundos Sociais Europeus", sobre o patrocínio do QREN e ala que se faz tarde, aqui está mais um curso de "Administrativo", com equivalência ao 12º ano de escolaridade, com subsídio mensal no valor do salário mínimo nacional e subsídio de alimentação, desde que o jovem tenha o 9º ano de escolaridade, 18 anos e esteja desempregado. Presumo que este curso possa ser concluído durante 2 ou 3 semestres, com 2 ou 3 horas por dia a partir das 6 da tarde, que os jovens não podem estar 3 anos de volta dos livros como os parvos dos colegas que vão para a escola normal e têm de se esfolar para concluir os 3 anos do secundário com média aceitável para entrar no ensino superior. Depois é fácil, a pretexto de uma igualdade de tratamento, a senhora ministra dirá que são válidos estes 12ºs anos para continuação de estudos, como aconteceu há uns anos com os alunos dos cursos nocturnos a entrar na universidade com melhores médias que os diurnos.
Nas próximas estatísticas teremos a população mais instruída da União Europeia e o Sarkozy até mandará cá a Carla para tirar o 12º ano durante as férias de Verão. Seremos elogiados como o povo do "choque educativo" e iremos por esse mundo transmitir conhecimentos "independentes" e "modernos" (não tem nada a ver com as universidades, claro... mas é sempre bom referir isso porque há sempre uns gajos mal intencionados a ler isto...).
Entretanto, começo a pensar que só alguns atrasados mentais irão mandar os filhos para a escola normal, sabendo que podem mandá-los para estas "escolas" com o salário mínimo nacional garantido e um mestrado no horizonte, se entretanto a União Europeia cair com mais uns fundos do QREN2, 3 ou 4 que possibilitarão formar mais umas levas de ignorantes.
E se os governantes fizessem greve, não seria melhor?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

QUE FÉRIAS!!!




Todos os dias pela manhã costumo lembrar-me da canção de intervenção "eu gosto é da caminha", perdão, acabei agora de ouvir um lançador de peso a mandar esta sorridente boca a partir de Pequim e não me controlei, claro... mas estava eu a dizer que " eu gosto é do Verão", isso mesmo, a democrática estação onde qualquer pobre veste bem com pouca roupa, onde apesar de um ventinho desagradável à noite tenho aguentado as sandálias, o polo sem marca de meia manga e umas calças de ganga boa com marca reconhecida no mercado e que me custou os olhos da cara, porque para mim umas calças a mais de 40 euros já é artigo de luxo. Convém lembrar que às vezes acabam por ficar mais baratas porque se aguentam meia dúzia de verões sem perder a cor e no caso das camisas, com os colarinhos sempre virados para o mesmo lado e com a vantagem de as calças de ganga aguentarem a cor azul desde que começaram a ser usadas pelos operários dos anos 50 do século passado, como agora os jornalistas costumam afirmar, só para nos baralharem, muito embora os anos 50 deste século ainda não tenham chegado. Acho até que nesta coisa das épocas já deveriam ter introduzido algumas emendas, porque o meu pai lembrava a "geração de 60" como um grupo de proeminentes escritores do século XIX, eu lembro a "geração de 60" como um grupo de jogadores de futebol do século XX e os meus netos vão recordar a "geração de 60" como aquela em que irão passar férias à Geórgia com os filhos em pleno século XXI. Depois vêm os teste de Português falar da "geração de 60" e é uma confusão... mas adiante, eu estava a lembrar-me do Verão, das férias, do prazer que é estar aqui no país vizinho e não saber nada do que se passa aqui no cantinho à beira-mar plantado (o meu avô diria prantado...). Não foi bem assim, claro, os jornais não diziam nada, mas sempre havia telemóveis para saber novidades, com pagamento de chamadas pelo emissor como também pelo receptor, que isto de sacar dos dois lados é que é bom, disseram-me até que como são dois operadores têm de fazer-se dois pagamentos, mas eles acham mesmo que é boa educação eu telefonar para um amigo e obrigá-lo a pagar a chamada que eu faço? já bastava ter de me ouvir, ainda vai ter de pagar... mas foi melhor assim, com a intenção de não magoar os amigos com pagamentos indesejáveis, acabei por não lhes telefonar.

Ahh, já me esquecia, os jornais espanhóis deram-me uma notícia de Portugal, durante a semaninha de férias... "O club de futbol portugues Gil Vicente fué comndenado en uno proceso de corrupcion, y seran retirados tres puntos en campeonato". É verdade, esta foi a única notícia de Portugal nos jornais espanhóis, reflectindo muito acertadamente a imagem que este pedacinho peninsular tem para os vizinhos do lado e começo a pensar muito seriamente que os chineses, os indianos e os japoneses gostam de nós portugueses porque estão suficientemente longe para isso.

Depois de um mês de descanso, já repararam que hoje não falamos de polícias e ladrões?

domingo, 27 de julho de 2008

ANDA PACHECO!

É Domingo... "o que é que você vai fazer, Domingo à tarde"?, vejam lá o que me deu, veio-me à memória aquela canção do Nelson Ned e que há trinta e tal anos fazia parte daquelas máquinas de discos, as "Jungle Box", onde quem podia metia uma moeda de cinco coroas para o pessoal da esplanada disfrutar, acompanhados de uma CanadaDry ou uma Schweppes, que por não haver Coca-Colas e porque tinham uma denominação internacionalisada eram as bebidas preferidas da malta nova...
Almocei em casa de um amigo, comi um "ensopado de bacalhau" estupendo, misturado numas batatas cortadas em fatias e acompanhado de uns ovos de galinha pequenos, tão pequenos quanto aqueles que faziam parte das canjas de galinha da minha meninice, especialmente em dias de festa, pareceu-me até que comi hoje esses descalibrados e ilegais ovos porque a galinha era de campo e alguém lhe cortou o pescoço antes que viessem os inspectores da ASAE. De seguida atacámos a "galinha de cabidela", que estava deliciosa, bem como o vinho, a sobremesa, o café e o wisky.
O som ambiente ía aumentando a cada etapa da refeição e já foi com dificuldade que escutei os meus amigos e as suas experiências de vida... o António que se emocionou com as vítimas das minas anti-pessoais em Angola e que encontrou em recuperação nos hospitais de Coimbra, vindos da aldeia em que viveu e trabalhou até 74, o seu trabalho voluntário no Banco Alimentar contra a Fome e...
- Então quando é que te reformas?
- Quando é que me reformo? estás a brincar comigo... eu reformei-me aos 50 anos, pá!
- Aos 50 anos?
- Claro, cheguei aos cinquenta, tinha um amigo na Caixa que me disse como é que eu havia de fazer, pedi uma carta de despedimento ao patrão, declarei por minha honra que não conseguia acartar às costas os sacos de ração de 50 kgs, embora a empresa já utilizasse meios mecânicos, e fui dois anos para o desemprego... depois chamaram-me e disseram-me que me podia reformar, que já era velho para voltar a trabalhar, que já ninguém me dava emprego e que se me reformasse ainda ficava a receber mais que no desemprego... e aceitei. Já tinha 14 anos de descontos, mais uns poucos em Angola, mais o tempo militar, disseram logo que já chegava para uma reformazinha razoável. Claro que depois de reformado ainda voltei a trabalhar lá na empresa, mas o cacau era sem descontos, para não haver chatices e já ando nisto há quase vinte anos, mas agora deixei mesmo de bulir... é só uns porcos para criar e o tal trabalho voluntário no "banco alimentar", para além de ir à natação dos idosos, aos passeios dos idosos e às semanas de férias do INATEL, quase tudo de borla ou com subsídios do Estado, como convém... e tu, ainda não estás reformado?
- Eu...
- Ahhhh já deves estar, olha, aproveita enquanto tens possibilidade, porque qualquer dia estamos velhos e não nos apetece ir a lado nenhum...
- Eu ainda não estou reformado... só tenho trinta e seis anos de desconto... se fosse com a lei antiga já estava, mas agora não pode ser... para me reformar sem cortes na reforma tenho de trabalhar quarenta e cinco anos!!!!
- Estás lixado, pá! e qualquer dia ainda dizem que só nos podemos reformar aos 75 anos... estes gajos do governo são uns incompetentes, andaram a dar reformas a toda a gente e agora dizem que não chega, mas para eles chega sempre... malandros...
- Pois...
- É o que eu te digo, ainda hoje li no Diário de Notícias uma entrevista do Pacheco Pereira, que começou no PCP, foi preso pela PIDE diz ele, era clandestino e tinha pseudónimos (ou heterónimos?) como o Fernando Pessoa, depois veio o 25 de Abril e foi para o PCP-ML do camarada Eduíno Vilar com outro pseudónimo, andou por aí de barba e bigode nas "manifs" e caíu no PSD onde veio a encontrar a Zita Seabra, com quem tinha deixado de falar durante 30 anos. O homem até diz que não consegue entender essa coisa de ser de direita ou de esquerda... eles querem todos o mesmo, pouco trabalho e reforma ao fim de uns anos... malandragem...
- Pois...
- Mas não te preocupes, são só mais nove anos de trabalho... e isso passa num instante.
- Pois...

sábado, 26 de julho de 2008

O PRÉMIO CAMÕES 2008


Há coisas interessantes na vida de cada um de nós e de alguma forma vamo-nos construindo com detalhes, o que nos dá uma enorme margem de manobra... é que são anos e anos de vida preenchidos de uma forma aleatória, ou nem por isso, que vão servindo para balizar um certo sentido de vida. Porque fazemos isto e não aquilo, porque gostamos destes e não daqueles, porque damos a uns e não damos a outros e porque alinhamos quase sempre com os mesmos e nem por isso com os demais, é naturalmente uma construção de personalidade que dificilmente mudamos... e ainda bem, acho eu.
Na escrita, na profissão, nas amizades, na família e até na política, é do senso comum que as coisas podem mudar, mas não convém que mudem muito e não convém nada que mudem muitas vezes, até pela confusão que isso provoca, o que não quer dizer que não se pode mudar pois até nós vamos mudando ou não seja eu um jovem de cabelo grisalho, quando há uns anos eles eram escuros e em maior número. Há sempre um amigo que me lembra que "só os burros não mudam", mas acredito que o tal substrato psicológico se mantém por quase toda a vida.
Tudo isto a propósito da notícia que ouvi hoje no rádio do carro, anunciando a atribuição do Prémio Camões 2008, o "Nobel da Literatura Portuguesa", ao escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, uma figura que tive o prazer de descobrir através dos seus livros numa livraria de São Paulo em 1999, ou seja, já no século passado. Passei as mãos pela "Casa dos Budas Ditosos" e percebi como um escritor pode descrever uma crónica com o dia e a noite de cada personagem... adorei.
Em Portugal quis repetir o cronista e escritor Ubaldo Ribeiro e nem sombra dele nas muitas livrarias que frequentei... até que fui dar um passeio com a minha filha à "Feira do Livro" de Lisboa, no passado mês de Maio e por lá andámos no meio da multidão olhando, mirando e remirando livros, procurando alguns autores conhecidos, até que na "Dom Quixote" demos com ele, sim, lá estava o nosso Ubaldo Ribeiro na prateleira a olhar para nós através do livro "Já Podeis da Pátria Filhos (e outras histórias)". Só pelo título de capa podem fazer uma pequena ideia do que está lá dentro, mas o nosso Ubaldo Ribeiro é mesmo assim, um escritor sem limites que eu gostaria ver reconhecido pelos leitores portugueses, até porque se conseguem ler o António Lobo Antunes até ao fim, concerteza vão gostar de ler o Ubaldo.
Achei estranho que há uns anos atrás o seu livro "Casa dos budas ditosos" fosse boicotado pelos hipermercados, em Portugal, com o argumento de que seria um livro pornográfico, talvez porque essa gente pensasse que o que faz em casa é erótico e sensual e o que se faz na casa do vizinho é pornográfico e marginal, mas adiante...
Acredito que talvez a vida fosse melhor vivida se João Ubaldo Ribeiro fosse porta-voz do governo socrático entre as publicações dos seus livros, porque tudo seria declarado e justificado com um sorriso irónico... até mesmo o aumento dos combustíveis.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O PREÇO CERTO!

- Oh RTP (usamos siglas só para manter o anonimato dos envolvidos), então de onde é que você vem?
- Eu não venho senhor Fernando Mentes, eu vou... vou a todas as casas deste país e como deve saber, saco-lhes umas dezenas de milhões de euros todos os anos, mas ainda não chega...
- Queres mais RTP?
- Claro que quero, eu vim aqui ao seu "Preço Certo" para ganhar...
- Então vamos ver a montra de prémios, que hoje é bastante boa, eu diria que "vale ouro"... constituída por meia dúzia de claques a chamar nomes ao adversário, um jogo da bola por semana, durante dois anos e com muitos jogos do Trofense, Paços de Ferreira, Académica e Setubal, que são sempre audiências garantidas, entrevistas "flash interview" com insultos ao árbitro e análises dos comentadores que sabem da poda como ninguém...
Entretanto o outro concorrente, TVI de seu nome, começa a falar um pouco mais alto e diz que nem o deixaram dar força na tômbola, que só não ofereceu mais porque aquilo só marca até 18 milhões...
- 18 milhões??? ena pá, que eu sou avantajado mas isto é ouro a mais... oh RTP o que é que tens a dizer, tu que estás todos os anos a dar prejuízos, meteste alguma cunha ao Teixeira das Finanças? bem, isto de dar prejuízo de 9 milhões ou 18 milhões é prejuízo na mesma e se ficarem mal dispostos aumenta-se a taxa ao povo...
- Senhor Fernando Mentes, nós estamos aqui apenas para equilibrar o panorama televisivo português e como sabe, o ano passado não tivemos jogos de futebol na RTP, com excepção de uns joguitos da selecção com o Azerbeijão, o Casaquistão e o Kwait, o que não deu para equilibrarmos as audiências e até tivemos de transmitir há dias o jogo das reservas das reservas do Benfica com... com... com o Estoril, estava a ver que não me lembrava. Por isso mesmo tivemos de atacar a TVI, apresentando uma proposta de 18 milhões de euros para transmitirmos os jogos mais importantes do Benfica com... com... com as outras equipas, claro.
- TVI, diga-nos quanto vale a "montra de prémios"? eu já disse que hoje "vale ouro", mas você só tem uma margem de 12,50€, o que é muito pouco e além disso estão ali na claque a gritar que nem uns malucos... mas não ligue ao que eles dizem, porque isto não está nada combinado para a RTP ganhar...
- Senhor Fernando Mentes, nós na TVI já fizemos uma proposta superior a 18 milhões, mas nem resposta nos deram... então nós pagávamos a verba na hora, o Estado recebia o IVA que eram nada mais, nada menos que 3,6 milhões de euros, poupávamos a RTP a um aumento dos prejuízos que o Orçamento do Estado tem de cobrir todos os anos e...
- Está bem, está bem, você não compreende o superior interesse nacional que é dar bola ao povo, ainda por cima em ano de eleições, a possibilidade de mandar uns comunicados do governo antes de um Benfica-Sporting... quanto vai apostar? vá lá que a seguir temos o telejornal...
- 18 milhões! - diz a TVI.
- 18 milhões! - diz a RTP.
- Adjudicado à RTP! - diz o socrático governo.
- Roubam-nos a toda a hora! - diz a plateia

sábado, 12 de julho de 2008

O TERRITÓRIO DA APELAÇÃO

Os territórios ocupados da Palestina vieram-me à memória quando fui ontem surpreendido com o início da guerra afro-romani da Quinta da Fonte, no concelho de Loures, em Portugal, um dos vinte sete membros da primo-mundista comunidade europeia, onde se vive bastante melhor que no resto do globo, de Marrocos ao Zimbabué, do Azerbeijão ao Nepal, da Bolívia às Honduras... e da Quinta do Mocho à Quinta da Fonte.
Então não é que a TV me mostrou os trabalhadores africanos e os empresários romanis aos tiros no meio da rua, imagens tão iguais às que costumo ver nos telejornais, com enviados especiais ao Iraque, Zimbabué, Palestina e Israel? ali mesmo, no meio da rua alcatroada e ajardinada de um bairro social onde, quase acredito, não se paga a ponta de um chavo pela renda de casa que o Estado mandou construir com o dinheiro dos poucos que contribuem.
Alguns simpáticos construtores da sociedade sem clivagens sociais, organizações não governamentais, dos amigos dos animais, do SOS Sadismo, dos grupos arco-íris, do green peace, do "make love not war", acham que o problema é devido à sociedade injusta em que vivemos, que tudo começou quando o Bush nasceu, quando os colonizadores colonizaram, quando o desemprego desemprega sempre os mesmos, normalmente os que não têm muita apetência para a coisa, ahhh já me esquecia do G8, essa tenebrosa organização que tem sempre atrás dela uns jovens que têm sempre dinheiro para ir fazer barulho na porta do hotel, seja no Japão ou na Cochichina... mas eu continuo a gostar de ouvir o Sarkozy chamar-lhes "escumalha", o que é que querem, cada um é como cada qual.
As imagens da TV esclareceram-me quanto à necessidade de andarem aos tiros, na medida em que os parvos que nos governam alcatroaram as ruas todas... se tivessem deixado as ruas sem alcatrão, sempre havia pedra com fartura para arremessar e não havia necessidade de armas, tal qual a Palestina que mantém as intifadas com muita pedra em ruas esburacadas e sem necessidade de andar a fornecer armas ao pessoal.
Outra coisa que me intriga é haver tantos técnicos sociais e não saberem que a integração cultural destas comunidades não se promove com casas de alvenaria. Com prédios de 4 andares, com jardins na frente e parque de estacionamento? é claro que depois é vê-los com tenda montada em frente do prédio, como tive o prazer de ver ontem na TV, em animada festa de aniversário, onde se faz barulho durante três dias e o vizinho que se lixe. Parece que esta malta andou por toda a Europa, desde Noruega, Suécia, Holanda, França e só se fixou em Espanha e Portugal... podem explicar-me porquê? parece que nesses países não podiam fazer barulho quando lhes apetecia.
Por último, li no Diário de Notícias de hoje que 90% (noventa por cento) das famílias da Quinta da Fonte recebe do estado o RMG (rendimento mínimo garantido)... deve ser tão bom que até dá para comprar armas.
Outra coisa interessante que reparei na reportagem televisiva foram os carros, alguns de gama alta, que enchiam os passeios da "Quinta da Fonte" (já repararam que não é "bairro" como antigamente? "quinta" é que é, para elevar o estatuto social)... pertencem todos aos 10% que não recebe o "rendimento mínimo garantido"? é capaz de dar dez carritos a cada um...
Os "nossos" amigos americanos parece que resolveram uns problemas com uns artistas nascidos nos Estados Unidos, filhos e netos de açorianos, que se meteram na marginalidade, de tal maneira que todos os outros entraram nos eixos e quase acabaram as deportações para os Açores... será que ainda há hipóteses de contratar uns "sherifs" nos Estados Unidos para fazer da Quinta da Fonte um lugar onde se possa viver?