terça-feira, 27 de novembro de 2007

INTERESSANTE...

Esta semana foquei o meu interesse numa reportagem televisiva, onde os pais e (en)carregados de educação de "crianças" entre os 9 e os 13 anos, alunos de uma escola C+S deste país, se amotinaram à frente do portão da escola e deram a conhecer ao mundo (do Sudão ao Bangladesh) o elevado nível cultural e social deste torrãozinho peninsular. Então não é que os seus filhinhos, coitadinhos, tinham de fazer ummmmmm quilóooooometro a pé, entre a escola e o pavilhão desportivo onde tinham as aulas de educação física? Pelas imagens da reportagem só deu para ver uma escola bem situada, com ruas asfaltadas e um solzinho que faria inveja às crianças de países não tão desenvolvidos como a Noruega, Suécia, Dinamarca e por aí fora... um convite a um passeio em grupo até ao pavilhão.
- Isso é que era bom, o meu filho não sai da escola, que eu não autorizo!
- Mas é só um quilómetro...
- E você acha pouco, para crianças tão pequeninas? o meu filho anda no 5º ano e só tem 13 anos... não sai da escola, já disse!
- Tenha calma...
- Tenho calma??? vou lá dentro e parto a cara a esses professores que não querem saber nada, nem resolvem este problema... só vão ao pavilhão se forem de autocarro e acompanhados de uma funcionária, porque nem nos motoristas se pode confiar. Há por aí tanto malandro...
- Com calma tudo se...
- Lá está você com as calmas, não vê que isto só se resolve com barulho e com a televisão a mostrar tudo? e você acha pouco um quilómetro? alguém me disse que na verdade é um milhão de milímetros, um milhão, ouviu??? um milhão de seja o que fôr é um exagero... e estava você para aí com essa do quilómetro...
- pois...
- Ele entra aqui às 8 da manhã e sai às 6 da tarde e mais nada! e se me chateiam muito fica cá até à meia noite, que eu tenho de trabalhar e não posso andar a trazer e buscar a criança, ouviu?
Entretanto e porque tenho este vício de ler jornais, fui chocar com uma notícia de um jornal regional onde se destacava a recuperação de uma escola no Kosovo, feita por militares portugueses, na zona de Orlann, onde "faltava quase tudo", como destacava o tenente-coronel Mário Pereira, comandante do batalhão.
"Na memória de Mário Pereira estão as filas de crianças, que nalguns casos percorriam mais de 8 quilómetros por dia por estradas cobertas de neve, ao frio e descalças, só para irem à escola"
E agora eu pergunto:
Estarão as nossas crianças (e os seus pais) preparadas para dentro de alguns anos, ajudarem quem quer que precise, depois de se negarem a fazer a pé um percurso de um quilómetro, em grupo, até uma aula de educação física?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A (T)RAMPA!

Pois sim, como dizem os brasucas quando querem dizer não, eu vou continuar esta saga que me há-de levar ao paraíso. sim ao paraíso, porque se me mandassem para o inferno eu ía continuar a arranjar problemas, a queixar-me do fumo das fogueiras, do cheiro a coiratos assados, da falta de ar condiconado no invernal inferno... eu não me calaria, claro, por hábito adquirido aqui na terra, sem grandes resultados, é certo, mas lá em cima, no meio da maralha e já sem nada a perder ou a ganhar, eu ía a todas as manifs, revoluções e batalhas. Assim, eu creio no bilhete de ingresso no paraíso, porque aí estarei a salvo de qualquer caso que me faça perder a compostura.
E a propósito de caso e descaso, veio a lume o despedimento e reintegração de um funcionário da TAP, por ordem de um tribunal e a desordem do seguinte, a decisão de um juíz e a contrária de outro (não poderiam fazer o favor de estudar nos mesmos livros?).
Ora o homem trabalhava na zona onde passam umas malas com produtos naturais, tais como folhas de coca tratadas, marijuana reciclada, etc e subia e descia umas rampas com malas, provando-se em tribunal ter sido cumplice de contrabando do produto, apenas porque quando ele subia a rampa a droga descia e vice versa. Dois anos de pena suspensa, decretou o tribunal, o que contraria o despedimento feito pela TAP que, só seria válido se o homem fosse condenado a pena efectiva. E eu acho bem! Então o Caldeira sacou uns milhares aos amigos e conhecidos, fugiu para o Canadá, nem sei se foi condenado e já está de novo a comprar e vender acções e o tecnico de embalagens da TAP era despedido assim sem mais nem menos?
Diz agora a TAP e se calhar com razão, que o seu ex-futuro funcionário foi condenado, com pena suspensa é certo, e contradiz o tribunal que se foi suspensa não é condenação, o que se não é bem esgalhado é um bom tema para os "gatos fedorentos" ou para uns advogados também fedorentos, daqueles que estão sempre presentes quando a coisa cheira mal.
Estou mesmo a ver que agora já vai ser mais difícil mandar umas malas da Colômbia, porque com a admissão do funcionário, juntamente com o outro que entretanto o substituiu, vão ser dois técnicos, um para o tapete que rola para cima e o outro para o que rola para baixo... lembrei até o Jô Soares quando gritava "tá todo o mundo enrolando?".
Só faltava que o advogado do funcionário da TAP aparecesse amanhã no tribunal a defender os donos da mala que veio da Colômbia... sempre se juntava o inútil ao desagradável.
E se as malas não entrarem para que é que serve andarem a distribuir seringas nas prisões? o governo ainda não pensou numa tabela de preços para as drogas, ficando com os 21% do IVA? podia ser que o deficit...

domingo, 25 de novembro de 2007

TÃO POUCOS...

Estou sentado no sofá a olhar, de vez em quando, a televisão e reparo que a tv cabo que eu pago, está a transmitir o jogo Belenenses - Estrela da Amadora. O locutor diz que está bastante frio e que a desoladora assistência não deverá atingir mil pessoas, mas como estou pouco atento nem sei se é a assistência que está desolada com tanto frio, se é a falta de gente que desola quem tem por missão fazer-nos crer que estamos a ver o "melhor espectáculo do mundo".
O comentador, que manda umas bocas para fazer sentir ao locutor que não está a trabalhar sozinho, realça de seguida o facto de o jogo do União de Leiria ter tido apenas 300 pessoas, o que num estádio de 30.000 lugares acaba por deprimir os que lá vão, sendo o comentário dos teimosos presentes parecido com um "nunca mais cá volto, senão adoeço!"
Aos cinco minutos de jogo, desliguei o som, para não me perturbar a crónica e de vez em quando dou uma olhada, pensando pelo meio da coisa se não há mais nada para ver na televisão... e para quê mudar se ainda não acabei a crónica?
E na sportv 2 o que estará a dar? olha, o Nice - Paris St. Germain e o estádio cheio, caramba! e agora reparo, estes jogos parecem-se com aqueles empréstimos que se pagam mais depressa ou mais devagar conforme o cliente quiser, passo para o Belenenses e aquilo vai lento, ligo ao Nice e a coisa acelera.
E o público? 20.000 em Nice e 1.000 em Lisboa! um jogo numa bonita cidade de província francesa e o outro na capital portuguesa... há uns tempos atrás também reparei no Bayern de Munique - Belenenses, com 62.000 assistentes na Alemanha e 4.000 em Lisboa, o que não sendo científico, quer dizer qualquer coisa.
Proponho que os campeonatos de futebol se façam em Portugal como se constituem as empresas, bastando que o capital social mínimo se estabeleça em função das assistências aos jogos. Outra hipótese seria fazer estádios com 5.000 lugares e construir apartamentos no espaço restante. Haveria enchentes em muitos estádios e sempre se faziam umas receitas extraordinárias com a venda dos apartamentos, sendo que, com a varanda virada para o estádio, o condómino via os jogos sem sair de casa, embora tivesse de colocar vidros duplos para não ouvir os habituais palavrões próprios do léxico futebolístico indígena.
Na minha juventude era habitual jogarmos e assistirmos a jogos de futebol, ficando na memória jogos emocionantes com milhares de espectadores, onde sobressaíam alguns de intensa rivalidade com o meu Caldas, Nazarenos, Torreense, Peniche e lá estava eu no Central a ouvir a intelectualidade caldense a afirmar que o futebol era o ópio do povo, dos pobres e só andava nisso quem tinha uma vida sem grandes objectivos. Nunca acreditei, porque se assim fosse numa sociedade sem objectivos como a actual, com 2 milhões de pobres, os estádios estariam cheios.
Talvez tudo se resuma a novos focos de interesse, outras solicitações mais interessantes, outros desportos e actividades, mas com excepção dos centros comerciais, eu olho e vejo tão poucos...

domingo, 18 de novembro de 2007

VASCO HÁ SÓ UM, O PULIDO E MAIS NENHUM!

Uma sociedade como a actual tem sempre bons motivos para uma crónica, haja vontade de a pensar e escrever... e há mesmo, tal a quantidade de blogs que aparecem diariamente na internet, na ordem das dezenas de milhares a cada dia que passa, por esse mundo fora. Ora, mesmo em Portugal, são milhares e milhares os blogs que aparecem, o que de alguma forma contradiz a estafada ideia de que somos um país de analfabetos. Temos uma percentagem de cidadãos que não gosta de ler, ainda menos de escrever, trabalhar então "tá" quieto, mas há uma enorme percentagem daqueles que gostam de teclar e dar a conhecer textos, trechos e factos que prenchem os seus tempos de lazer.
Mas até para escrever aqui umas cronicas está difícil, umas vezes porque a inspiração está muito em baixo, outras porque os temos que impressionam não deixam margem para umas tiradas irónicas e não me apetece fazer humor negro e outras ainda porque o tempo não dá para tudo. Este fim de semana então foi um tormento, na medida em que fui comprar o "Expresso", como habitualmente e levei para casa quase 3 quilos de papel impresso, o que é demais para quem não consegue ler o semanário durante a semana e aproveita o Sábado e o Domingo para o fazer. E o resto? e a ida ao shoping? e o almoço fora com a companheira de quase todos os dias? e o café com os amigos? e o jogo da selecção? e as bricolages, torneiras e estores das janelas para substituir? É uma canseira!
Para descontrair li uma entrevista de Vasco Correia Guedes, ou melhor, Vasco Pulido Valente. O homem achou e bem mudar de nome, como fazem as estrelas de cinema e outras, uma vez que ainda acabavam a chamar-lhe "VascGuedes" e Pulido Valente é dele mesmo, uma vez que esse era o apelido de um seu avô.
Achei interessantíssimas algumas partes da entrevista, os problemas criados enquanto estudante com a expulsão por mau comportamento no 4º ano (actual 8º), a participação nas estruturas estudantis universitárias,
- Então e o que fazia lá no Movimento de Acção Revolucionária?
- Nada!
E a vida continuou, não se sabe à custa de quê nem de quem...
- Esteve dois anos em Direito, mas desistiu...
- Sabe, eu não sabia bem o que queria, fui para Inglaterra... voltei...
Conta que no 25 de Abril combinou com a mulher irem receber Mário Soares e Álvaro Cunhal, ela foi ao "Camarada Marocas" ele foi ao "Camarada Cunhal"... não acredito que fossem cada um ao seu só para bater palmas, mas lembrei-me agora dos manos Portas, não sei porquê...
Ainda foi Secretário de Estado, porque o Dr. Sá Carneiro lhe pediu para arranjar um secretário de estado... como não encontrou, tomou ele mesmo posse. Lembrei-me de um Secretário de Estado do Turismo que, no dia em que ia tomar posse no Governo do PS, foi substituído porque tinha tido o mesmo cargo no governo anterior, do PSD.
Mas o que mais me impressionou na entrevista de Pulido Valente foi, textualmente:
- Teve uma filha?
- Patrícia Cabral. Não usa o meu nome (vindo de um homem que mudou o nome...).
- Tem uma relação próxima com ela?
- Não.
E mais não disse Vasco Pulido Valente. Nem uma frase ternurenta, nem um carinho, nem uma referência mais numa entrevista de doze páginas, o que me leva a pensar em tanta coisa...
Vou continuar a recusar entrevistas, claro, mas se me convidarem e eu mudar de ideias, os meus filhos sabem que pelo menos metade da entrevista é para falar deles. Eu só falo do que gosto!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"PIOLHICE"

Todos sabemos que o piolho na cabeça das crianças e jovens é como o brandy Constantino, já vem de longe, e de alguma forma dava uma ideia aos educadores do nível de educação das famílias portuguesas, especialmente na primeira metade do século passado. A temática dos piolhos era transversal a toda a sociedade, no entanto havia mães de família, donas de casa na época em que o trabalho ainda não as tinha "libertado", que procuravam dar banho aos filhos e mantê-los apresentáveis, mesmo que para isso passassem anos sem poder ir a um café ou restaurante. Sacrificavam a sua vida em prol de uma imagem de gente humilde mas que podia sair à rua lavada e com uma apresentação que não os envergonhava. Acontecia até que os vizinhos já sabiam que podiam fazer umas festas na cabeça a umas crianças e não podiam sequer aproximar-se de outras. Se alguns dizem que o dinheiro dividia as classes, eu sempre tive amigos de todas elas e quando jovem escolhia os amigos e amigas mais pela forma como se apresentavam limpos e cheirosos do que pelo dinheiro que tinham.
E a sociedade evoluiu... de tal maneira que o alguidar de "folha de flandres", o sabão azul e branco e um pouco de vinagre na água do banho (o cabelo até chiava quando lhe dava a última passagem com as mãos) deram lugar ao shampô, ao amaciador, ao gel, à água sempre quente do esquentador, mas todos sabemos como são as crianças sem a vigilância e o cuidado dos pais... não nos lembramos todos nós de deitar a água ao lado da cabeça, fazermos de conta que lavávamos e não lavávamos e que era a mãe que no final do banho ia verificar se estava bem lavado? e como não estava, lavavam de novo? pois o problema é esse, os pais mandam crianças de 7 e 8 anos lavar-se, elas fazem que se lavam, os pais não ligam e elas chegam à escola a cheirar mal e com piolhos na cabeça. Os professores dizem baixinho a esses alunos para dizerem à mãezinha para lhes lavar bem a cabeça, os miúdos dizem, as mães têm um pouco de vergonha e no dia seguinte a criança volta à escola melhor, sem que os colegas as estigmatizem com alcunhas que perduram pelo resto da vida.
O problema reside no facto de algumas famílias gastarem mais tempo com os cães, que mantém dentro de casa, do que com os filhos, misturarem bichanos e crianças no mesmo espaço, às vezes num T1 sem varanda e muitas vezes deixarem as crianças dormir com os animais. Ah pois, as crianças choram se não as deixarem dormir com o cão...
Pois meia dúzia de crianças apareceram com piolhos na cabeça e sabem o que se faz? Publica-se no jornal da região e só não deu reportagem televisiva porque a directora da escola teve o bom senso de recusar as reportagens no espaço escolar, das televisões nacionais, dispostas a mostrar ao país as crianças com piolhos a saltar na cabeça... seria mais uma televisiva piolhice, a juntar a tantas outras que vão passando pela tv que temos.
Todos se preocupam com a instrução dos filhos, eles têm de ser excelentes na profissão que escolherem, mas os pais não se podem esquecer que um patrão não quer na sua empresa um jovem com piolhos na cabeça.
E por agora chega, que tudo isto está a dar vontade de me coçar!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A PROVA!!!

Nada os demove de me fazer feliz, muito embora não lhes tenha dado nenhuma procuração, no entanto vejo-me obrigado a agradecer-lhes na próxima oportunidade em que me cruze com algum membro do actual governo... mas vou ter de esclarecer que pela experiência democrática dos últimos 33 anos, reconheço que todos têm procurado resolver os meus problemas. Só tenho de agradecer.
Hoje, em qualquer repartição já nem me perguntam o nome, pedem logo o número de contribuinte, olham-me de soslaio e pedem-me para provar que não devo nada ao Estado. Depois de passar por várias provações, no seu sentido literal, lá me deixam descansado até uma nova oportunidade.
Aumentaram o tabaco, colocaram rótulos que nos condenam a morrer de cancro e agora se quiser fumar vou para o passeio, faça chuva ou faça sol. Um dia terei de provar que o tabaco não me fez mal nenhum e adoeci com a chuva que apanhei quando vinha fumar para a rua.
No futuro colocarão câmaras de vídeo na minha sala para ver se fumante-criminoso me confesso. Bem, falando a verdade, eu já deixei de fumar o meu "Porto" há 30 anos, mas com tanta proibição, às vezes até me apetece fumar, ouvindo aquela cañção do Chico Buarque "é proibido proibir"...
Mas como diz o outro, isto não tem nada a ver... eu apenas queria escrever um pouco por causa de mais uma fúria legislativa do governo, referente à prova que agora é exigida quanto à publicidade, ou seja, se as drageias "magrex" publicitam uma perda de 5 quilos por dia, têm de o provar.
Já estou a ver a Maria com 150kgs e na semana seguinte a Mariazinha com 50 quilinhos graças às "magrex", mas... quem vai provar que é verdade? O administrador da "Magrex, SA", o polícia da ASAE ou o marido da Mariazinha que agora até já gosta de ficar por baixo? E o governo não esclarece...
Que o Senhor Presidente não esclareça eu aceito, porque a estratégia é dizer bem de todos durante o primeiro mandato e garantir a vitória no segundo, para juntar à reforma da faculdade, à do Banco de Portugal e à de primeiro-ministro, mais 80% da reforma vitalícia a que terá direito. Pensava eu que eram precisos 36 anos de desconto para cada reformazinha, mas eram "anus" a mais...
Mas eu estou de acordo, sim senhor, há que provar que o produto é tão bom como a publicidade faz crer, mas não exageremos, o cigano do mercado semanal vende roupa contrafeita e diz que é contrafeita, vende cd`s piratas e diz que são piratas, ou pensam que pelo preço ainda há alguém que ache que são produtos genuínos? Então porquê chatear os homens que vendem o que publicitam, sem enganos?
Qualquer dia vejo anúncios tipo "ESTE CARRO PODIA SER MAIS BARATO,SE O GOVERNO QUISESSE!" ou "ESTA GASOLINA PODIA SER AO PREÇO DE ESPANHA, SE O GOVERNO QUISESSE!" E será mesmo necessário provar que a publicidade é verdadeira?
Já me estou a recordar daquela treta dos 150.000 empregos... quem é que prova que é publicidade enganosa? e as portagens das SCUTS que só se pagariam por cima do cadáver do senhor engenheiro (por favor não queiram agora pagar, só para fazerem humor negro, está bem?), quem é que prova?
Ok, eu já disse que estou de acordo e continuo, mas não quero ultrapassagens pela direita, salvo seja, agora que estamos no S. Martinho e o governo proibiu a venda de água pé, quem a vai provar sou eu!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

NOVAS TECNOLOGIAS

- Acho que tudo vai mudando e as pessoas nem se apercebem, ou seja, as novas tecnologias vão trazendo cada vez mais novidades e as pessoas, especialmente os mais novos, dão a sensação que já estavam à espera disso…
- Humm, não me parece…
- É, por exemplo, na construção civil… já reparaste que aquela fase de fazer massa e acartá-la a balde, abrir caboucos a pá e picareta, já passou à história? Agora tens um operário com um comando nas mãos, um camião cheio de massa, uma mangueira e lá vai disto!
- Sabes, eu não sou muito dessas coisas…
- Olha, só o facto de terem inventado o telemóvel, deve ter contribuído para o aumento da produtividade em mais de 10%... já viste o que é um funcionário de distribuição e recolha a trabalhar sem telemóvel? Fazia uma distribuição e voltava ao armazém, voltava quase ao mesmo local para fazer uma recolha e… agora com o telélé pode receber informações no meio da distribuição, alterar rotas, poupar tempo e combustível.
- Comigo não funciona, eu lá no armazém só utilizo aquelas folhinhas “memorandum” para entregar ao pessoal e feitas à mão para saber quem mandou fazer as coisas. Sabes, pela letra de cada um sabe-se logo e no computador a letra é igual para todos…
- Os portáteis então nem se fala, estamos em contacto com todo o mundo, compramos e vendemos, consultamos tudo o que nos interessa, marcamos umas fériazinhas, consultamos a nossa conta no banco online e… anulamos a férias por falta de saldo, tudo sem sairmos de casa. Os jornalistas já nem precisam de ir às redacções de jornais e qualquer dia só se encontram nos jantares de Natal…
- Humm, continuo a pensar que isso qualquer dia falha tudo, já ouvi falar que há muita gente a fazer compras na internet e depois ficam sem dinheiro na conta, que há muitos ladrões por lá…
- Pois eu acho que é seguro, já marquei viagens, férias, livros, cds, revistas, sempre paguei com o cartão de crédito e nunca tive problemas. O único problema que tive foi pagar as contas quase dois meses depois de vir de férias… isso é que é doloroso, uma pessoa até já se esqueceu das coisas boas que passou e recebe um ofício a dizer que está na hora de descontar na conta bancária.
- Pois eu é sempre com dinheiro à vista. Bem, uma vez fui roubado numa excursão… eu não devia de andar com tanto dinheiro no bolso, acho que foram quase 500 euros que me levaram. Agora levo 100 euros em cada bolso…
- Oh pá, deixa-te disso, actualiza-te que o tempo não volta atrás.
- Ah é? Então vou-te contar: fui à Segurança Social para pagar a minha contribuição mensal e estavam várias pessoas à minha frente para pagar. Perguntaram se podiam pagar com cartão multibanco e… “Não, não podem. Aqui só por cheque ou dinheiro. Os responsáveis dizem que está para breve o pagamento automático, mas…”. E eu lá passei à frente do pessoal, para pagar com notinhas.
- Eu vi logo! Tinha de ser este governo das “novas tecnologias” a tramar o meu ponto de vista!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

DOIS VÍRGULA UM!

- É isso, vocês compreendem as implicações macroeconómicas , a balança das transacções correntes, os ciclos de altos e baixos (se eu lhes der um lamiré de vacas gordas e vacas magras…), o deficit orçamental, a inflação, a deflação… mas não querem dizer… vão ver como elas lhes mordem…
- 2,1%...
- O governo tem feito uma governação responsável, procurando fixar metas económicas, em sintonia com a Comissão Europeia, capazes de estabilizar a pressão dos mercados e salvaguardar as gerações futuras. É preciso fazer sacrifícios e todos percebem bem o que estamos a fazer… mas vocês não querem dizer, não é?
- 2,1%...
- A oposição esquece-se que já tivemos inflação de 30% e os trabalhadores só eram aumentados 25%, no tempo do “Marocas”, mas é como diz o “Coelhone”, as pessoas esquecem-se num instante. Agora propomos uma melhoria acentuada nas vossas vidas, aumentamos os impostos para melhor os distribuirmos pelos pobrezinhos que são quase 2 milhões, e vocês sabem a solução e não querem dizer, não é?
- 2,1%...
- Vocês não compreendem o “sentido de estado” de quem troca situações de privilégio para vir para o governo prejudicar a sua vida pessoal e financeira. A única vantagem é podermos usufruir de uma bonificação vitalícia que pode chegar aos 80% e juntá-la a outra qualquer pensão a que temos direito, somos aumentados tanto como qualquer funcionário e não nos querem dizer quanto, não é?
- 2,1%...
- Podíamos ter dito que dávamos 1,5% e cada semana aumentávamos 0,1% e no final das negociações tínhamos um pouco acima dos 2%...
- 2,1%...
- Pchiuuuuu!!! Até colocam problemas aos jovens, que só vão de vez em quando às aulas, para completarem a escolaridade… idiotas! Então não se lembram de um engenheiro que se formou sem nunca ter ido às aulas, fez uns trabalhos de recuperação, quatro disciplinas com um só professor (isto é que é economia!) e passou? Vocês até sabem com quanto é que ele passou, mas não querem dizer, não é? Já vão ver quando chegar o José Sousa…
- 2,1%!!!!!
- Então o assunto está arrumado, para este ano de 2008, vão levar com um aumento de 2,1%. Vocês sabiam e não queriam dizer, não é?
- aaaaahhhhhhhhhhhhhhhhh…

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

PESADELO

- Caramba, parece que o estou a conhecer de qualquer lado…
- Provavelmente… sabe, na vida conhecemos muitas pessoas, algumas bem interessantes, outras mais ou menos felizes, mas infelizmente eu só encontro gente na mó de baixo.
- Daí…
- Eu tê-lo encontrado ao longo destes longos anos, nos mais variados locais e circunstâncias. Conheço muitas das suas dificuldades e noites mal dormidas, acho até que esses problemas de coração…
- Também sabe que sofro do coração?
- É como lhe disse, todos os seus momentos difíceis estão arquivados no disco rígido das minhas memórias…
- Então você estava em Santa Apolónia nos anos 70…
- Claro que estava. O comboio chegou à 1 da manhã e você carregava uma prancheta de desenho técnico, foi apressado até ao Rossio, mas o metro já tinha fechado. Pensou apanhar um táxi, mas era caro e o dinheiro era pouco, e foi andando… Restauradores, Marquês, S. Sebastião da Pedreira, Praça de Espanha… a prancheta já pesava demasiado e você mudava de braço para braço… Sete Rios, Benfica, ali ao pé do cemitério. Eram 5 da manhã quando chegou a casa, acho que até se deitou vestido… e eu ali ao seu lado sem poder ajudar…
- Que estupada, para poupar 4$50… moeda antiga, claro. Mas é estranho, parece que o conheço, mas nunca o olhei olhos nos olhos, até custa a acreditar que saiba tanto da minha vida…
- Nem sabe o que eu sei… lembra-se daquele golo que a sua equipa sofreu, nos descontos e que lhe custou uma “chicotada psicológica”? eu estava a seu lado, andei consigo vários dias e noites.
- Mas eu lembro-me que nesses dias eu estive sempre muito só, como foi possível você estar comigo?
- Até me lembro que acordou a meio da noite, transpirando, e disse peremptório à sua mulher que nunca mais treinaria na vida… acredita agora em mim?
- Acredito, contrariado mas acredito.
- Um dia vi-o correr com a filha doente nos braços, à procura de um táxi que não havia, noite escura, eu sem hipóteses de ajudar e por fim apareceu um amigo que os levou ao hospital…
- Que pesadelo…
- Lembra-se daquele primeiro carro amarelo que comprou com muita dificuldade e que todos os meses lhe levava metade do ordenado em reparações?
- Se lembro…
- E quando andava a construir a casa e o dinheiro já não chegava para as despesas? Um dia achei que a coisa ia dar mau resultado e acompanhei-o. Se calhar já nem se lembra do caso... alguém lhe disse que numa cerâmica de Leiria vendiam uma tijoleiras que, depois de aplicadas e enceradas davam um chão muito bonito, assim como uns tijolos refractários para forrar a lareira, muito usados na época. O amigo lá percorreu os 50 kms de distância com uma motorizada e um atrelado emprestado, que não devia levar mais que uns 50 kgs de mercadoria. Chegado à cerâmica o encarregado ao ver o meio de transporte, achou por bem oferecer o material que pudesse levar. E você encheu o atrelado de tal maneira que nas descidas a motorizada não travava e nas subidas precisava de um empurrão, ou seja, metade do caminho foi feito a pé, mas o preço foi tão bom que no dia seguinte repetiu a dose...
- Então o meu amigo sabe tanto da minha vida e eu não sei nem o seu nome?
- Pesadelo, sem prazer nenhum!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A UTOPIA

Lembrei-me de tanta coisa nestes últimos dias, a propósito das notícias que nos vão chegando, que às tantas estou completamente baralhado e não consigo deixar de sorrir, de tal modo que a vontade de escrever sobe e desce ao ritmo dos alcatruzes da tradicional nora que salpicava os campos do Ribatejo. Lembrei-me agora dos burros que a movimentavam, não esses que pensaram, não, os burros-burros mesmo. Acho até que os "amigos dos animais", tão prontos para se manifestarem em frente ao Campo Pequeno, ainda não se lembraram de libertar os poucos burros que sofrem o calvário de uma vida completamente redonda atrelados à nora horas a fio...
Pois foram notícias atrás de notícias, capazes de me fazer sentar em frente ao teclado, mas... o meu espírito crítico não me deixava dar o tal passo em frente, começava a pensar na utilidade do texto, na tragédia que é ir na enchurrada de pareceres de tantos outros que diariamente vão desancando ministros, secretários, chefes disto e daquilo... não, não vou escrever mais crónicas que alinhem despudoradamente com a oposição, seja ela qual fôr. A partir de hoje vou fazer as minhas crónicas sempre tendo por base o pensamento dominante dos orgãos de poder, coisa que deveria ter começado há 30 anos atrás, mas uma pessoa quando é jovem pensa que vai mudar o mundo e depois arrepende-se. Custava-me alguma coisa ter escolhido uns cartazes cor- de -laranja ou vermelho debutado, em vez de andar atrás de minorias de cabeludos? bem, eu sei que alguns cortaram o cabelo, a barba e o bigode, para poder ascender na carreira, chegando alguns a ministros, sempre com pasta, e até a uns lugares porreiros, pá, na União Europeia.
Mas na verdade deixei passar o Procurador com ruídos na cabeça, perdão ruídos no telemóvel, a Ministra das faltas, as criancinhas do Gana, A D. Catalina da Casa Pia, o novo emprego do aposentado Mendes, a desaparecida Maddie, o Ranking das Escolas, sei lá, uma catrefada de temas capazes de preencher o mês a um chefe de redacção de um qualquer jornal.
Mas não me estava a dar para isso, começava a escrever e apagava, queria dar uma certa ironia à escrita e os casos só me davam vontade de chorar, liguei um canal da internet com os vídeos do Mr. Bean e o pessoal que estava à minha volta não achava piada nenhuma, eu sei que estávamos no dia 20 e por essa altura o pessoal não acha piada a nada...
Acabei fazendo um intervalo demasiado longo e perdi algumas faculdades que só uma prática constante nos fornece, por algum motivo se dizia a quem parava uns tempos naquelas profissões mais manuais, que tinham "perdido a mão". Na verdade é caminhando que se faz o caminho, como diria o Sr. de La Palice, mas é mesmo verdade que em tudo na vida é necessária uma boa dose de paciência, dedicação, discrição, atitude e alguma natural teimosia para se construir alguma coisa de que nos possamos orgulhar, mas que não é fácil todos sabemos.
Talvez se os predicados que apontei tivessem sido levados em conta nos casos que acima referi, acompanhados de um jornalismo mais profissional e menos sensacionalista, as coisas se resolvessem melhor, não sei...
Pronto, eu prometo que vou continuar a fazer umas crónicas!